Em meio à tristeza, funcionários da Germanwings tentavam prestar ajudar a parentes de vítimas no aeroporto alemão, destino do voo que caiu na França. Nos saguões, comissárias não escondiam receio de embarcar novamente.
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Uma jovem mãe carregando seu bebê no colo traduz, em palavras, o sentimento no aeroporto de Düsseldorf: "Todos choram, todos estão tristes." Duas amigas suas estavam no avião da Germanwings, que caiu nesta terça-feira (24/03) quando ia de Barcelona, na Espanha, para a cidade do oeste alemão.
Após a catástrofe, o silêncio imperava no aeroporto. Atrás dos balcões da empresa aérea subsidiária da Lufthansa, atendentes cabisbaixos; nos saguões do terminal, comissários de bordo e pilotos com olhos carregados de lágrimas.
Uma barreira policial foi posicionada diante do balcão de atendimento da Germanwings no saguão de embarque, não apenas para reduzir a presença de repórteres, mas para evitar que fosse filmado. Membros da equipe de apoio do aeroporto, com seus coletes azuis, também se posicionaram em frente aos guichês, com a função de dar atenção a familiares das vítimas.
"Esperamos pelos parentes e os conduzimos para a equipe responsável por cuidar deles", explica o funcionário da Lufthansa Dag Dernbach, enquanto tenta manter uma atmosfera de normalidade no local.
Familiares desolados
De fato, a impressão era de que funcionários e passageiros tentavam manter a rotina. Mas as cenas que se desenrolavam diante dos balcões da Germanwings e da Lufthansa de rotineiras tinham pouco. Familiares e amigos de passageiros chegavam a todo momento ao local, enquanto voos eram cancelados ou partiam e chegavam com atraso.
Longas filas se formavam em frente aos guichês. Mesmo assim, os passageiros aguardavam pacientemente a remarcação de seus voos, num silêncio disciplinado. Uma jovem profissional de informática buscava consolo no pragmatismo. "Acredito nas estatísticas, nada deverá acontecer agora", afirmou, ao receber seu cartão de embarque.
Mas, para dois espanhóis que ali estavam, era como se o mundo tivesse desabado. Eles foram levados a uma sala vip, onde aguardariam por maiores informações, sabendo que haviam perdido seus entes queridos, ainda que, no fundo, esperassem por um milagre.
Diante da saída da sala vip, uma equipe de bombeiros e médicos estava de prontidão para receber parentes de vítimas, enquanto um grande contingente de policiais bloqueava a multidão de repórteres que se aglomeravam em frente ao local.
Medo e subterfúgios
A sala se enche vagarosamente. Uma comissária de bordo da Germanwings passa pelo local andando rapidamente, com o olhar cabisbaixo. "Quero muito saber por que o avião caiu", diz ela. "Dois amigos meus estavam a bordo. Gostaria de não ter que voar agora. Graças a Deus que hoje trabalho apenas em voos domésticos", afirmava.
O medo é grande entre os funcionários da Lufthansa. "Não me sinto mais segura em meu trabalho", reclama uma comissária de bordo de 20 anos, acostumada a voar longas distâncias. Em seu trabalho ela com frequência transmite segurança aos passageiros com medo de voar, mas, agora, sua própria confiança está abalada.
"Como passageiro, essa é a pior notícia que se pode ter", afirma um holandês que chegou em segurança ao aeroporto, enquanto aguardava a conexão para seu destino final. Mesmo com medo, ele diz que vai embarcar, minimizando a catástrofe ao creditá-la às improbabilidades estatísticas. Entretanto, em Düsseldorf, a tristeza infelizmente venceu os números nesta terça-feira.
A tragédia do voo da Germanwings
Um Airbus 320, que fazia a rota entre Barcelona e Düsseldorf, caiu nos Alpes franceses. Havia 144 passageiros, dois pilotos e quatro comissários a bordo. Não há sobreviventes.
Foto: Reuters/Diego Crespo/Moncloa
Copiloto derrubou avião
As gravações de áudio do cockpit indicam que o copiloto do voo 4U-9525 voluntariamente colocou o avião em rota de queda num momento em que o piloto havia se ausentado da cabine de comando. Andreas Lubitz, de 28 anos e nacionalidade alemã, não abriu a porta da cabine para que o piloto voltasse ao comando do Airbus A320.
Foto: picture alliance/landov
Sons dos últimos instantes
Em entrevista coletiva, o promotor de Marselha, Brice Robin, revela o conteúdo dos registros de áudio dos últimos minutos da aeronave. Até o avião se chocar contra o chão, "só era possível ouvir o som da respiração dele", informou, se referindo ao copiloto. "O tempo todo (da queda), ele não falou uma única palavra", acrescentou.
Foto: Pennant/AFP/Getty Images
Perplexidade
Thomas Winkelmann, presidente da Germanwings, e Carsten Spohr, presidente da Lufthansa durante entrevista coletiva. Executivos afirmam que notícia de que copiloto derrubou avião deixa empresa em estado de choque. "Não temos informação sobre o que teria motivado essa atitude terrível", afirmou Spohr. "Estamos diante de um enorme mistério."
Foto: Reuters/W. Rattay
Registros legíveis, apesar dos danos
Uma das caixas-pretas do Airbus 320 da Germanwings, encontrada no lugar da queda. Equipamento foi danificado pelo acidente. Porém, técnicos afirmaram que leitura de dados não ficou impossibilitada.
Foto: Reuters/BEA
Homenagem às vítimas
Presidente francês, François Hollande, chanceler alemã, Angela Merkel, e premiê espanhol, Mariano Rajoy, se encontraram em Seyne-les-Alpes e fizeram uma homenagem solene aos 150 mortos, nas proximidades da área onde o avião caiu.
Foto: Getty Images/P. Macdiarmid
Luto no colégio
Velas e cartaz com a pergunta "por quê"? expressam a consternação dos habitantes da pequena Haltern am See. Um grupo de 16 alunos e duas professoras de um colégio da cidade no norte da Alemanha retornava no voo acidentado da Germanwings de uma semana de intercâmbio na Espanha.
Foto: DW/J. Walter
Parentes buscam informações
Há muita tensão nos aeroportos de Barcelona e de Düsseldorf, onde parentes de passageiros buscam informações sobre o voo que caiu no sul da França. Equipes de atendimento emergencial estão de prontidão no aeroporto de Düsseldorf para dar assistência a parentes de vítimas. O aeroporto de Barcelona também colocou equipes à disposição de familiares.
Foto: DW/N. Martin
Líderes mobilizados
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, realizou um pronunciamento pela manhã. Ela afirmou que o acidente foi um "choque" e que viajará nesta quarta-feira ao local da queda da aeronave. Os governos de Alemanha, França e Espanha unirão esforços para ajudar no resgate e nos esclarecimentos sobre as causas da queda do voo 4U-9525.
Foto: Reuters/H. Hanschke
Contato perdido
De acordo com autoridades francesas, o avião emitiu um sinal de emergência às 10h47. O site flightradar24.com divulgou que o avião estava a 38 mil pés (11.582 metros), e o contato foi perdido a uma altura de 5 mil pés (1.524 metros).
Foto: Reuters/J.P. Pelissier
Área de difícil acesso
O porta-voz do Ministério francês do Interior, Pierre-Henry Brandet, confirmou que os destroços do avião foram localizados a 2 mil metros de altitude, nos Alpes. Ele afirmou que as buscas e as operações de resgate devem ser "extremamente longas e difíceis", pois o acidente ocorreu em uma área remota.
Foto: Reuters/J.P. Pelissier
Piloto tinha 6 mil horas de voo
O piloto tinha mais de dez anos de experiência e cerca de 6 mil horas de voo acumuladas. O Airbus 320 começou a cair um minuto depois de alcançar a velocidade de cruzeiro. O avião perdeu altitude continuamente durante oito minutos. Entre as vítimas há 67 alemães e 45 pessoas com sobrenome espanhol. A nacionalidade dos demais não foi divulgada.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Christiansen
Pilotos não enviaram sinal de alerta
Segundo as autoridades francesas, os pilotos não enviaram qualquer alerta aos controladores. "Foi o controlador que enviou um alerta, porque havia perdido contato com o avião, por volta das 10h30", disse um porta-voz da Direção Geral de Aviação Civil.
A Germanwings confirmou o número de passageiros e tripulantes a bordo do voo 4U-9525: 144 passageiros e seis tripulantes. Um grupo de 16 estudantes e dois professores de uma escola na cidade de Haltern estava a bordo.
Foto: Reuters/J.P. Pelissier
De Barcelona para Düsseldorf
O Airbus 320 da Germanwings, subsidiária de baixo custo da Lufthansa, fazia o trajeto entre Barcelona, na Espanha, e Düsseldorf, na Alemanha. O acidente ocorreu na região Alpes-de-Haute-Provence, nos Alpes franceses. O avião seria uma das versões mais antigas do modelo A320 e teria sido entregue em 1990 pela Airbus para a Lufthansa.