Luvas de uso único não protegem realmente contra o Sars-Cov-2. Em vez disso, elas podem aumentar o risco de infecção e espalhar patógenos por grandes superfícies.
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Nos supermercados, na feira semanal, na vida cotidiana: cada vez mais pessoas são vistas não apenas com máscaras faciais, mas também com luvas descartáveis para se protegerem do coronavírus Sars-Cov-2. Há semanas que as luvas estão esgotadas em muitas farmácias em todo o mundo.
O uso de luvas descartáveis é uma ideia óbvia, afinal, a infecção pelo coronavírus é causada por gotículas, por exemplo, através da tosse ou espirro, mas também pelo tato: quando se toca em alguma coisa, os patógenos passam para as mãos. Tocando o rosto, olhos, nariz ou boca com as mãos, o vírus acaba entrando no corpo.
Embora luvas descartáveis sejam usadas em consultórios médicos ou por paramédicos, ela protegem as mãos apenas de contaminação grosseira, como sangue ou outros fluidos corporais. Elas só conseguem proteger da contaminação por bactérias e vírus por um período muito curto.
Pois o material usado nas luvas descartáveis é poroso, e quanto mais elas são usadas, mais facilmente os patógenos podem penetrar através da membrana supostamente protetora.
Essa é uma das razões pelas quais uma equipe médica limpa e desinfeta as mãos cuidadosamente após o uso de luvas descartáveis. Elas não substituem, de forma alguma, essas simples regras de higiene.
Luvas de uso único feitas de vinil, látex ou nitrila transmitem uma sensação de esterilidade, mas essa sensação de segurança é enganosa. Embora muitas pessoas acabem tomando mais cuidado para não tocar no rosto quando usam luvas descartáveis, isso acontece acidentalmente com frequência.
Luvas descartáveis podem até aumentar o risco de uma infecção, pois a pele começa a suar muito rapidamente sob as luvas. E o clima quente e úmido é o ambiente ideal para bactérias e vírus de todos os tipos.
O pneumologista Jens Mathews descreve as luvas descartáveis como "espalhadoras" do coronavírus. Além de não oferecerem proteção, são contraproducentes, explica. Em muito pouco tempo, uma luva descartável usada tem muito mais bactérias em sua superfície do que uma mão recém-lavada, diz o médico.
Já há anos o médico Ojan Assadian, presidente da Sociedade Austríaca de Higiene Hospitalar, adverte contra o uso incorreto de luvas descartáveis. "Eu não recomendaria, de forma alguma, que pessoas sem treinamento médico usassem luvas descartáveis no dia a dia", afirma.
"É preciso certo nível de conhecimento e prática para retirá-las de tal maneira que os microrganismos coletados permaneçam em suas superfícies e os usuários das luvas não os espalhem pelas mãos, pulsos ou mangas da camisa ao tirá-las", explica o infectologista em entrevista ao site pflege-online.de.
Quem quer proteger a si e aos outros do coronavírus pode, portanto, se ater às medidas de proteção e higiene e deixar as luvas descartáveis de lado. Quem mesmo assim preferir utilizar luvas de uso único deve ao menos descartá-las corretamente após o uso e não ‒ como infelizmente é observado com frequência no momento ‒ simplesmente jogá-las fora.
Jogar luvas descartáveis usadas na rua ou em espaço público ou "esquecê-las" em carrinhos de compras é um comportamento negligente e antissocial. Como as máscaras de proteção, elas devem ser descartadas em saco fechado no lixo não reciclável.
Em muitos locais elas se tornaram obrigatórias devido à epidemia do novo coronavírus. Na Ásia, já eram muito usadas contra a poluição do ar.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Zucchi
Obrigatoriedade em público
A cidade de Jena, no Leste da Alemanha, é a primeira do país a obrigar, a partir de 6 de abril, o uso de proteção respiratória em supermercados e transportes públicos. Como nem todos dispõem de máscaras respiratórias, também o uso de cachecóis e lenços é permitido.
Foto: Imago Images/Sven Simon/F. Hoermann
Máscaras caseiras
Em vista da falta de máscaras, cada vez mais pessoas e instituições estão recorrendo à auto-ajuda. No YouTube e no Twitter, muitos mostram como é fácil fazer protetores bucais. A costureira Cerstin Bochow, do Teatro estatal de Cottbus, aliou-se ao grande grupo de voluntários no mundo que costuram máscaras. As que ela está fazendo são para o corpo de bombeiros e a Cruz Vermelha alemã.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Pleul
Criatividade
A artista Mansha Friedrich faz crochê contra a pandemia de coronavírus. Suas máscaras caseiras são decoradas com rostos sorridentes, animais, flores ou o sol. As partes decorativas são trocáveis.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Stratenschulte
Combinando com estilo
A República Tcheca e a Eslováquia introduziram em março a obrigatoriedade do uso de máscara respiratória em locais públicos e supermercados. A presidente da Eslováquia, Zuzana Čaputová, e o primeiro-ministro Igor Matovic deram o exemplo.
Foto: Reuters/M. Svitok
Retorno às ruas na China
As máscaras de proteção há muito tempo já são obrigatórias na China. Este casal na cidade de Shenyang dança numa praça, apesar da ameaça do coronavírus e dos controles rigorosos. Eles dançam ao sol da primavera e parecem ter esquecido tudo ao redor.
Foto: AFP
Sem exceções em Israel
Restrições rígidas também se aplicam em Israel. O governo impôs um toque de recolher controlado pela polícia e pelos militares. Os judeus ortodoxos também precisam respeitar as determinações. No distrito de Mea Shearim, em Jerusalém, um policial usando proteção ordena a um compatriota ultraortodoxo que volte para casa.
Foto: picture-lliance/dpa/I. Yefimovich
Arte na Faixa de Gaza
Na densamente habitada Faixa de Gaza, os artistas tentam motivar a população. No distrito de Shujaiya, eles decoram máscaras protetoras com motivos populares. A administração da Faixa de Gaza impôs restrições de saída e proibições de eventos aos residentes. A "Marcha do Retorno", evento anual com protestos em massa na fronteira com Israel, também foi cancelada este ano.
Foto: Imago Images/ZUMA Wire/A. Hasaballah
Policial colombiano
Um policial na Colômbia garante a segurança usando uma máscara com uma pintura inspirada no personagem Incrível Hulk. O musculoso Hulk é o personagem-título da história publicada por Stan Lee e Jack Kirby em 1962. A história do Incrível Hulk foi adaptada em vários filmes e séries de TV.
Foto: AFP/L. Robayo
Macron administra a crise
O presidente francês, Emmanuel Macron, visitou uma fábrica de roupas e máscaras de proteção em Saint-Barthelemy-d'Anjou. Na França, centenas de profissionais da área de saúde processaram o governo por não fornecer roupas de proteção adequadas durante a epidemia.
Foto: Getty Images/AFP/L. Venance
Contra a poluição
Na Ásia, já há alguns anos os moradores de centros urbanos adotaram o uso de máscaras para proteger os pulmões das crescentes emissões de poluentes no ar, como mostra esta imagem de 2013 de Pequim, na China.
Foto: picture-alliance/AP Photo/C. Ning
Perigo no ar
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 3 milhões de pessoas no mundo morram a cada ano devido aos efeitos dos altos níveis de poluição do ar. Estes incluem derrames, doenças cardíacas, câncer de pulmão e asma.
Foto: Imago/Xinhua
Pesquisa científica
Cientistas da Universidade de Massachusetts testaram quatro dos modelos mais populares disponíveis em Katmandu, na Índia. Máscaras de tecido são muito populares no sul da Ásia. Elas são baratas, laváveis e estão disponíveis em cores e padrões da moda em todos os lugares. No entanto, o tecido apenas protege contra poeira grossa - partículas finas de poeira entram nos pulmões sem dificuldades.
Foto: picture-alliance/Photoshot/P. Sarkar
O que protege melhor?
Máscaras em forma de cone com válvula de ventilação oferecem a melhor proteção. Elas filtram cerca de 60% dos gases de escape do diesel e até 90% das partículas finas de pó. Os cientistas descobriram também que protetores cirúrgicos oferecem boa proteção. A máscara descartável médica filtra até 80% de partículas grandes e pequenas do ar e é quase tão eficaz quanto as máscaras de melhor qualidade.
Foto: Imago
Questão de educação
No Japão, o uso de máscaras respiratórias não se deve apenas à poeira no ar. Especialmente na temporada de gripe, os japoneses protegem a si e aos outros contra os causadores de infecções gripais. Usar uma máscara faz parte do bom tom e virou moda.