Publicado 13 de fevereiro de 2025Última atualização 15 de fevereiro de 2025
Mulher de 37 anos e bebê de dois anos são as primeiras vítimas fatais do incidente investigado como atentado pela polícia alemã. Motorista invadiu passeata no centro da cidade, deixando 39 feridos.
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Uma mulher de 37 anos e sua filha de 2 anos morreram neste sábado (15/02) em decorrência dos ferimentos sofridos quando um cidadão afegão dirigiu um carro contra uma passeata do sindicato trabalhista Verdi em Munique, na última quinta-feira.
São as primeiras vítimas fatais do incidente que deixou ao menos 39 pessoas feridas, algumas em estado grave, segundo informou o Departamento de Polícia Criminal do Estado da Baviera.
O chefe do Verdi, Frank Werneke, disse ter ficado em choque com as mortes. Segundo ele, a mulher de 37 anos participava da manifestação com a criança. "A tristeza pelo sofrimento das vítimas do ataque de Munique é quase imensurável", disse Werneke.
De acordo com o Ministério Público de Munique, o atropelamento teve motivação islamista e a polícia trata o caso como um atentado. O motorista foi preso no local e segue sob custódia.
A procuradora Gabriele Tilmann disse ainda que o motorista, um afegão de 24 anos, admitiu ter tido a intenção de atropelar aos manifestantes. Em suas redes sociais, ele publicava mensagens de cunho religioso. Além disso, após o atropelamento, ele disse "Allahu Akbar" (Deus é grande, em árabe).
O suspeito é investigado por tentativa de homicídio, lesão corporal e interferência perigosa no tráfego, acrescentou a procuradora.
Tilmann, porém, afirmou que não há indícios de que ele pertencesse a um grupo extremista islâmico. Até o momento, as investigações indicam que ele agiu sozinho.
O ataque
Um automóvel atropelou um grupo de pessoas no centro de Munique na manhã desta quinta-feira. O incidente ocorreu no cruzamento entre as ruas Dachauer e Seidlstrasse, no centro da cidade, próximo à estação central de Munique. O carro avançou por volta das 10h30 (horário local) sobre uma passeata do sindicato trabalhista Verdi, num dia em que Munique vivia algumas greves. Cerca de 1.500 manifestantes participavam do ato.
O carro seguiu a passeata e, em determinado momento, furou o bloqueio dos automóveis policiais e avançou sobre os manifestantes a mais de 50 km/h. Os agentes de segurança atiraram contra o veículo e prenderam o suspeito.
Ao menos 1,5 mil pessoas participavam de passeata. Suspeito tinha status de permanência regularFoto: Peter Kneffel/dpa/picture alliance
Autoridades descartam que o ataque tenha relação com a Conferência de Segurança de Munique, que começou na sexta-feira na cidade e deve conta com a presença de vários políticos de alto escalão do mundo todo.
Após o atropelamento, o governador da Baviera, Markus Söder, falou em "possível atentado". O motorista do automóvel estava com status regular no país.
Segundo a revista alemã Spiegel, o motorista nasceu em Cabul em 2001. Antes do atropelamento, ele teria publicado mensagens islamistas nas redes sociais. Uma porta-voz do Ministério Público de Munique confirmou à revista haver "indícios de uma motivação extremista".
Suspeito tinha permissão de residência
O suspeito chegou na Alemanha ao final de 2016, como menor de idade e desacompanhado, e entrou com um pedido de asilo semanas depois.
O pedido foi negado em setembro de 2017. Ele apelou contra a rejeição, sem sucesso, e foi legalmente obrigado a deixar o país no segundo semestre de 2020.
Em abril de 2021, porém, o jovem recebeu de Munique um aviso de "estadia tolerada", um status temporário para estrangeiros que são legalmente obrigados a deixar o país, mas são autorizados a permanecer por um período de tempo em determinadas circunstâncias, como questões de saúde.
Este status permaneceu até outubro de 2021, quando o suspeito recebeu uma permissão de residência e autorização de trabalho. O homem frequentou a escola e concluiu treinamento vocacional.
Motorista do automóvel é um afegão de 24 anos e não estava sujeito à deportaçãoFoto: Michaela Stache/AFP
"Ele então trabalhou como detetive particular para duas empresas de segurança", afirmou o secretário do Interior da Baviera, Joachim Herrmann na noite desta quinta-feira. As autoridades de Munique não haviam tomado uma decisão sobre a extensão de sua autorização de residência desde que foi emitida em 2021, o que significa que ela permaneceu válida.
"Isso significa que a residência do agressor era absolutamente legal até os dias de hoje, até onde se sabe", disse Herrmann à agência de notícias alemã DPA. Versões anteriores divulgadas por autoridades à imprensa diziam que o agressor permanecia na Alemanha sob seu status anterior, de "estadia tolerada".
Herrmann também corrigiu informações passadas anteriormente por ele, que indicavam uma suposta participação do suspeito em roubos e posse de entorpecentes.
Segundo o secretário, o afegão havia participado de diversos julgamentos de furtos em lojas devido ao seu trabalho. "Ele não era um suspeito, mas uma testemunha", afirmou, chamando as informações anteriores de "mal-entendido".
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"Tem que ser punido e deixar o país", diz Scholz
O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, prometeu uma resposta dura ao ataque, e afirmou que o suspeito "não pode contar com qualquer indulgência".
"Ele tem que ser punido e tem que deixar o país", disse Scholz, horas antes de Herrmann confirmar que o suspeito não estava sujeito à deportação.
Scholz também expressou seus sentimentos pelos feridos e suas famílias. "Deve ficar muito claro que o Judiciário tomará medidas duras contra esse perpetrador com todos os meios que tiver à sua disposição", afirmou.
"Qualquer pessoa que cometer crimes na Alemanha não será apenas severamente punida e enviada para a prisão, mas também deve esperar que não poderá continuar sua estadia na Alemanha", completou.
Mais tarde, em entrevista à ZDF, Scholz reforçou que qualquer pessoa que não seja cidadão alemão e cometa este tipo de crime será deportada.
"Isso também acontecerá com esse criminoso. Porque nós
certamente o veremos ser condenado pelos tribunais e, mesmo antes de sair da prisão, ele também será devolvido ao seu país de origem."
A ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, prometeu "severidade máxima" para o suspeito e afirmou que o governo já começou a deportar pessoas para o Afeganistão, apesar das tensas relações com o regime talibã.
Incidente vira disputa eleitoral
O atropelamento repercutiu imediatamente nas campanhas políticas que antecendem as eleições gerais de 23 de fevereiro na Alemanha, nas quais a política de migração e possíveis atentados tomaram o centro da discussão.
O líder do partido conservador CDU, Friedrich Merz, favorito para se tornar o próximo chanceler, pediu medidas de segurança mais fortes após o suposto atentado.
"Todos em nosso país devem se sentir seguros novamente. Algo tem que mudar na Alemanha", escreveu no X.
"A segurança das pessoas na Alemanha será nossa prioridade máxima. Nós faremos cumprir rigorosamente a lei e a ordem", acrescentou.
Também antes de o status de residência do suspeito ser anunciado como regular, a candidata a chanceler federal da ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), Alice Weidel, insistiu que o afegão nunca teria entrado na Alemanha se seu partido estivesse no poder.
"É sempre o mesmo padrão: um solicitante de asilo vem para a Alemanha, seu pedido de asilo é rejeitado e ele não é deportado", disse ela durante uma conversa ao vivo em estúdio com eleitores na ZDF. "Sob o comando da AfD, ele não teria vindo para cá em primeiro lugar."
rc/cn/ra/gq (DPA, AFP, Reuters)
O mês de fevereiro em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: John Macdougall/AFP/Getty Images
Moraes determina bloqueio do Rumble no Brasil
O ministro do STF Alexandre de Moraes determinou (21/02) o bloqueio da rede social Rumble no Brasil, acusando a plataforma de "reiterados, conscientes e voluntários descumprimentos" de ordens judiciais, além de tentativas de "não se submeter ao ordenamento jurídico brasileiro [...] para instituir um ambiente de total impunidade e de 'terra sem lei' nas redes sociais brasileiras". (21/02)
Foto: EVARISTO SA/AFP
Hamas entrega corpos de 4 reféns israelenses
Grupo islamista alega que reféns teriam sido mortos em bombardeio de Israel. Vítimas são um bebê de 9 meses, seu irmão de 4 anos, a mãe deles, de 32 anos, e um idoso de 83 anos. O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) acusou o Hamas de ter transformado o ato em palco político. (20/02)
Foto: Stringer/REUTERS
Trump culpa Ucrânia por invasão russa e chama Zelenski de "ditador"
Irritado ao ouvir de Volodimir Zelenski que vive numa "bolha de desinformação" após ter ecoado a linha oficial do Kremlin e atribuído à Ucrânia a culpa pela invasão russa em 2022, o presidente americano Donald Trump chamou o colega de "ditador" e aconselhou-o a ser "rápido" se não quiser "ficar sem país". A escalada diplomática é mais um passo no estranhamento entre EUA e Ucrânia. (19/02)
Foto: Roberto Schmidt/AFP/Getty Images
Procuradoria denuncia Bolsonaro e outros 33 ao STF por tentativa de golpe
A Procuradoria-Geral da República denunciou Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas ao Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado. O ex-presidente é acusado de cinco crimes, que juntas somam até 43 anos de prisão: organização criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. (18/02)
Foto: Ton Molina/NurPhoto/picture alliance
Avião capota no Canadá
Um avião da Delta capotou em acidente ocorrido no Aeroporto Internacional Pearson de Toronto, no Canadá, ficando de barriga para cima na pista e deixando ao menos 15 feridos. O terminal ficou horas paralisado após o acidente. (17/02)
Foto: Uncredited/CTV/AP/dpa/picture alliance
Candidatos a chanceler federal se enfrentam em debate na Alemanha
Temas como imigração, economia, relação com Estados Unidos e guerra na Ucrânia pautaram o primeiro debate com os quatro principais candidatos a chanceler federal. O evento colocou Olaf Scholz, do SPD, contra seu principal rival, Friedrich Merz, que lidera com folga as pesquisas de intenção de voto. Também participaram Alice Weidel, da AfD, e o vice-chanceler Robert Habeck, dos Verdes. (16/02)
Foto: Kay Nietfeld/dpa-Pool/picture alliance
Tumulto deixa dezenas de mortos em estação de trem na Índia
Pelo menos 15 pessoas morreram e mais de 10 ficaram feridas em um tumulto em uma estação ferroviária na capital da Índia, Nova Délhi, quando uma multidão tentava chegar na maior congregação religiosa do mundo, o Khumba Mela. No mês passado, 30 pessoas morreram em um tumulto no festival hindu de Kumbh Mela, no norte da Índia. (15/02)
Foto: Uncredited/AP/dpa/picture alliance
Vice-presidente dos EUA pede resgate de valores europeus e fim do "cordão sanitário"
JD Vance provocou choque entre líderes europeus que acompanharam seu discurso na Conferência de Segurança de Munique. O americano quebrou o protocolo ao focar sua fala na política interna da União Europeia, e disse que os EUA estão preocupados com os valores que os europeus estão defendendo. Ele ainda sugeriu o fim do "cordão sanitário" que isola a ultra direita no parlamento alemão. (14/02)
Foto: Leah Millis/REUTERS
Carro avança sobre multidão em Munique, na Alemanha
Um automóvel atropelou um grupo de pessoas no centro de Munique, deixando 30 feridos. As causas do incidente estão sendo investigadas. O governador da Baviera, Markus Söder, falou em "possível atentado". O motorista do automóvel seria um afegão de 24 anos que tinha autorização de permanência no país. Chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, diz que suspeito "tem que deixar o país". (13/02)
Foto: Michael Bihlmayer/Bihlmayerfotografie/IMAGO
Alemanha prorroga controles de fronteira
Governo em Berlim prolongou por mais seis meses os controles em todas as suas fronteiras exteriores, a fim de "frear a imigração irregular", segundo o chanceler federal Olaf Scholz. A medida foi adotada em setembro de 2024. (12/02)
Foto: Matthias Balk/dpa/picture alliance
EUA e Reino Unido rejeitam declaração de Paris sobre IA
Em torno de 60 países assinaram em Paris uma declaração que pede o uso transparente e sustentável da inteligência artificial e regulamentações internacionais, com EUA e Reino Unido sendo as notáveis ausências na lista de signatários. O vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, expôs na cúpula as várias reservas dos EUA em relação ao tema.(11/02)
Foto: Thomas Padilla/AP Photo/picture alliance
Donald Trump impõe tarifas de 25% sobre a importação de aço e alumínio
Presidente dos EUA, Donald Trump, assina ordem executiva determinando imposição de tarifas de 25% sobre a importação de aço e alumínio, o que poderá afetar as exportações brasileiras. O decreto de Trump cancela isenções e cotas isentas de impostos para os principais fornecedores, em uma medida que pode aumentar o risco de uma guerra comercial multifacetada. (10/02)
Foto: Kyodo/picture alliance
Hamas anuncia retirada do exército israelense do corredor de Netzarim, em Gaza
O corredor de Netzarim é uma faixa de terra que divide o enclave palestino em norte e sul. Ele foi estabelecido por Israel quando o conflito em Gaza começou e até agora era militarizado pelo exército israelense. Como parte da trégua entre Israel e o Hamas, o exército israelense se comprometeu a se retirar do corredor e, assim, permitir que os palestinos retornem ao norte de Gaza. (09/02)
Prisioneiros palestinos libertados são saudados por uma multidão ao chegarem à Faixa de Gaza depois de serem libertados de uma prisão israelense. Israel e o grupo extremista Hamas concluíram neste sábado a quinta troca de reféns e prisioneiros, como parte do acordo de cessar-fogo em curso. (08/02)
Foto: Abdel Kareem Hana/AP/picture alliance
Rio vermelho
A água do rio Sarandí, na província de Buenos Aires, ganhou um tom vermelho vivo. A suspeita é de que o fenômeno tenha sido causado pelo vazamento de corante da indústria têxtil ou de resíduos químicos de uma fábrica próxima ao rio, que atravessa o município de Avellenada, a quase 10 quilômetros de Buenos Aires. (07/02)
Foto: Rodrigo Abd/AP/dpa/picture alliance
Israel prepara plano para saída "voluntária" de Gaza
O ministro da defesa de Israel, Israel Katz, ordenou que o exército prepare um plano para a saída de "qualquer residente de Gaza que deseje sair", após declarações do presidente americano, Donald Trump, sobre um possível deslocamento dos habitantes de Gaza. (06/02)
Foto: Dawoud Abu Alkas/REUTERS
Milei segue passos de Trump e retira Argentina da OMS
Presidente da Argentina, Javier Milei, segue exemplo de seu colega em Washington, Donald Trump, e retira o país da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ele acusou a entidade de "crime de lesa humanidade" ao intervir nas soberanias nacionais e repetiu acusações do líder americano de "má gestão da saúde". (05/02)
Foto: Tomas Cuesta/Getty Images
Atirador deixa mortos em escola na Suécia
Um atirador matou cerca dez pessoas em um ataque a uma escola para adultos em Örebro, na Suécia. A polícia informou que o agressor também estava entre os mortos. A Suécia vem enfrentando uma onda de tiroteios e ataques a bomba resultantes do problema endêmico no país de crimes de gangues. (04/02)
Governo federal regulamenta poder de polícia da Funai
Decreto regulamenta o poder de polícia de agentes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). A função foi prevista na lei que criou o órgão, em 1967, mas nunca havia sido regulamentada. Funcionários poderão usar a força para combater violações como ataques ao patrimônio cultural, invasões e atividades de exploração exercidas por terceiros dentro de terras indígenas. (03/02)
Foto: Reuters/Handout FUNAI
Multidão protesta contra fim do "cordão sanitário" em Berlim
Protestos eclodiram em toda a Alemanha após partido conservador CDU acatar votos da ultradireita em projeto anti-imigração, rompendo o isolamento da sigla AfD no parlamento alemão. Polícia registrou confrontos com manifestantes. Na capital alemã, 160 mil pessoas se reuniram e direcionaram palavras de ordem contra o candidato a chanceler federal Friedrich Merz. (02/02)
Foto: John Macdougall/AFP/Getty Images
Morre Horst Köhler, ex-presidente da Alemanha
O ex-presidente da Alemanha Horst Köhler morreu aos 81 anos em Berlim. Ele foi o nono presidente alemão do pós-guerra, entre 2004 e 2010. Enquanto esteve no cargo, ele se dedicou a temas voltados para as relações exteriores, projetos de desenvolvimento na África e mudanças climáticas. Antes de entrar para a política, Köhler foi economista e diretor do FMI. (01/02)