Volta ao poder do Talibã em 2021 privou afegãs de praticamente qualquer direito: sair de casa, só com um parente e coberta de véu. Criar filhos sem um companheiro é uma tarefa cruel – e meninos também são vítimas.
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Desde que o Talibã retomou o poder no Afeganistão, em 15 de agosto de 2021, muitos ex-soldados e policiais afegãos foram executados ou desapareceram pois, para os fundamentalistas islâmicos, agentes de segurança do governo anterior são traidores.
Na época, Fouzia vivia com a família na capital Cabul. No entanto, como era policial e funcionária das forças de segurança nacionais, o marido teve medo, e não quis ter mais nada a ver com ela, que agora cria sozinha o filho de cinco anos.
"Meu marido me deixou, eu tive que me esconder com o meu filho. Há mais de um ano estamos em fuga. De meses em meses, a gente segue adiante e vai morando com parentes." Sem salário e sem poder encontrar um novo emprego, Fouzia tem que trabalhar como faxineira para sobreviver.
Assim como muitas outras afegãs em situação semelhante, ela está desesperada – e pronta a assumir grandes riscos: "Eu penso se não devia vender um rim. Queria fugir com o meu filho." Os familiares, que têm sido seu único amparo, também já não podem mais sustentá-la.
A economia do Afeganistão está no fundo do poço. Segundo a Organização das Nações Unidas, 97% da população vive na pobreza; 23,7 milhões dos 40 milhões de habitantes dependem de ajuda humanitária; e 6 milhões – um em cada sete – está até ameaçado de morrer de fome.
Confinadas em casa, sem estudos
Entre os mais necessitados do Afeganistão, um grupo é especialmente grande: o das mães-solo, afirma a jornalista Azadah Shirzad, de Cabul. "Não há estatísticas sobre as mães-solo, mas nos últimos anos falei com pelo menos 50." Ela é uma das poucas profissionais de seu setor que ainda atuam em Cabul. Embora com cautela e em âmbito restrito, elas procuram dar uma voz às mulheres do país.
De início, os talibãs prometeram respeitar os direitos femininos no âmbito da xaria, a lei canônica islâmica. Na prática, contudo, nos três anos desde a retomada do poder introduziram em todo o país um grande número de leis e medidas políticas retirando os direitos fundamentais das mulheres e meninas, exclusivamente por causa de seu gênero. Funcionárias foram mandadas para casa, escolas femininas foram fechadas, negou-se às mulheres o acesso às universidades.
Segundo o fundo da ONU para a infância Unicef, desde então 1,5 milhão de jovens são alienadas de seu direito humano à educação, com efeitos danosos para suas chances profissionais e saúde psíquica.
Perante tal discriminação sistemática, a vida tornou-se especialmente penosa para muitas mães-solo. Elas só podem circular publicamente se acompanhadas por um mahram, um parente do sexo masculino. De resto, só saem de casa por motivos urgentes e cobertas com uma burca da cabeça aos pés. Desse modo, mães sem filhos em casa ou um irmão nas proximidades ficam basicamente confinadas.
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Meninos também são vítimas da discriminação
"Em Cabul, as mães-solo ainda podem trabalhar secretamente, como cozinheira, costureira, cabeleireira ou faxineira", relata Shirzad. Mas não nos lugarejos e aldeias: "Onde todo mundo conhece todo mundo, e o Talibã tem tudo sob seu controle, nem mesmo isso é possível. Lá, elas estão submissas à própria família e parentes, têm que obedecer e se sujeitar. Muitas são maltratadas ou forçadas a ser a segunda ou terceira esposa num casamento arranjado."
Devido a sua situação financeira catastrófica, muitas são forçadas a mandar os filhos para o trabalho. Bem cedo os garotos são forçados a assumir responsabilidade e trazer dinheiro para casa: "Eles trabalham como vendedores de rua, engraxate ou nos campos, fora da cidade", conta a jornalista.
"Esses meninos são explorados e, com frequência, sofrem abuso sexual. Mas as mães não têm outra opção senão mandá-los trabalhar." Também para esses homens jovens, encarregados desde tão cedo do sustento da família, a escola e a universidade não passam de um sonho distante.
Mulheres não podem mais ir à universidade no Afeganistão
Desde que tomou o poder em meados de 2021, o Talibã tem continuamente restringido os direitos da população feminina do país. A mais recente medida do regime de Cabul impede que elas frequentem faculdades.
Foto: AFP
Adeus para sempre?
Uma mulher usando burca deixa uma universidade na província de Kandahar. Ela não tem permissão para voltar a estudar. Em uma declaração governamental, o Talibã instruiu todas as universidades públicas e privadas do Afeganistão a proibir a presença de mulheres. Todas as estudantes do sexo feminino estão excluídas das universidades.
Foto: AFP
Mulheres excluídas
No dia seguinte à proibição de mulheres frequentarem a universidade, o Talibã controla a entrada de uma instituição de ensino superior em Cabul: as estudantes do sexo feminino têm que ficar do lado de fora. A proibição é por um período indefinido. Mas os protestos já estão agitando as universidades: os colegas estudantes do sexo masculino interromperam um exame, professores paralisaram as aulas.
Foto: WAKIL KOHSAR/AFP/Getty Images
Ensino superior só para homens
Restrições já existiam antes: depois que o Talibã tomou o poder em agosto de 2021, as universidades tiveram que separar as entradas e as salas de aula por gênero. As mulheres só podiam ter aulas com professoras mulheres ou homens idosos. Na foto, uma área para estudantes do sexo feminino na Universidade de Kandahar separada por uma cortina.
Foto: AFP/Getty Images
Últimas formandas
Estas formandas da Universidade Benawa de Kandahar ainda conseguiram se formar em ciências da computação em março. Em nível internacional, a nova restrição dos direitos da mulher tem sido fortemente criticada: a organização de direitos humanos Human Rights Watch chamou a proibição universitária de "decisão vergonhosa", a ONU a descreveu como uma violação dos direitos humanos.
Foto: JAVED TANVEER/AFP
"Impacto devastador sobre o futuro do país"
Ainda em outubro, milhares de meninas e mulheres haviam feito testes de admissão na faculdade, como estas em frente à Universidade de Cabul. Muitas querem ser professoras ou médicas. O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a proibição de cursar a universidade "não só viola a igualdade de direitos das mulheres, mas terá consequências devastadoras".
Foto: WAKIL KOHSAR/AFP/Getty Images
Sem chances de formação
A proibição de frequentar a universidade é mais uma restrição às oportunidades educacionais para mulheres e meninas afegãs. Desde algum tempo, as adolescentes na maior parte do país não podem frequentar escolas a partir da sétima série. Estas meninas, que estão a caminho da escola no leste do Afeganistão, têm sorte: algumas províncias longe dos centros de poder do Talibã ignoram a proibição.
Foto: AFP
País das mulheres invisíveis
Meninas e mulheres afegãs são em grande parte excluídas da vida pública. Há meses, elas não podem visitar academias de ginástica e parques em Cabul. Este parque de diversões na capital também é proibido para elas. O Talibã alegou que os regulamentos sobre a separação dos sexos não estavam sendo observados e que as mulheres não estavam usando o lenço na cabeça conforme prescrito.
Foto: WAKIL KOHSAR/AFP/Getty Images
Distopia vira realidade
As mulheres coletam flores de açafrão na província de Herat. Este trabalho elas têm permissão de fazer, ao contrário da maioria das outras profissões. Desde que chegou ao poder, o Talibã promulgou inúmeras regulamentações que restringem maciçamente a vida de mulheres e meninas: por exemplo, elas estão proibidas de viajar sem acompanhante masculino e fora de casa devem usar hijab ou burca.
Foto: MOHSEN KARIMI/AFP
"Vergonha para o mundo"
Muitas mulheres afegãs não querem aceitar a revogação de seus direitos. Na foto, uma manifestação em Cabul em novembro. "A terrível situação das mulheres afegãs é uma vergonha para o mundo", lê-se num cartaz. O protesto público requer muita coragem: manifestantes correm o risco de serem espancadas e presas. As militantes dos direitos das mulheres são perseguidas no Afeganistão.