Médico brasileiro pede estado de emergência por zika
Bruce Douglas (av)31 de janeiro de 2016
Diante de explosão de casos, vice-presidente da Fiocruz, Rodrigo Stabeli, defende que OMS adote medida emergencial. Ainda não há certeza científica sobre relação de causalidade entre zika e microcefalia, diz.
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Antecipando a conferência a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta segunda-feira (01/02), em Genebra, o vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Rodrigo Stabeli, defendeu que o órgão internacional declare estado de emergência relativo ao vírus zika.
Falando à DW, o médico explicou que o rápido alastramento da doença pela América do Sul motivou o seu apelo. "Como [a presidente da OMS] Margaret Chan disse, estamos vendo um crescimento explosivo dos casos. Considerando as taxas de transmissão do vírus, acho que Margaret deveria declarar estado de emergência de saúde pública."
Tal iniciativa poderia agilizar a liberação de fundos pelos Estados-membros da OMS e por doadores privados, com o fim de combater o vírus. Entre os 22 países atingidos no continente americano, o Brasil é a maior vítima.
O Ministério da Saúde em Brasília estima que haja até 1,5 milhão de cidadãos infectados. Além disso, há 4.180 casos registrados de suspeita de microcefalia – malformação craniana congênita que as autoridades associam ao zika. Dentre esses, porém, somente 270 estão confirmados, e em apenas seis há uma relação comprovada com o agente patogênico.
Relação duvidosa com microcefalia
No entanto, entre as preocupações da comunidade científica brasileira, em meio à epidemia, a principal parece ser a ignorância. "O problema é que sabemos tão pouco sobre a doença", comenta a epidemiologista Denise Valle, também da Fiocruz. "Precisamos entender esse vírus muito melhor, no momento ele ainda é um mistério."
Quanto a uma eventual ligação entre o zika e a incidência de microcefalia, apesar de indicadores fortes, os cientistas brasileiros admitem que uma correlação não significa causalidade. "Os indícios são muito sugestivos, mas não podemos dizer que seja uma certeza científica", explica Stabeli.
Ele acrescenta que o vírus foi encontrado no líquido amniótico de duas gestantes cujos fetos portavam microcefalia. E o Instituto Carlos Chagas demonstrou recentemente que o patógeno é capaz de passar através da placenta.
Com base na taxa de crescimento dos casos de microcefalia ao longo de 2015, a Fiocruz projeta que, até o fim do ano corrente, o Brasil terá 16 mil portadores da malformação. Segundo o doutor Stabeli, essa é a pior crise sanitária no país desde a epidemia de gripe espanhola em 1918.
Testes, vacina e prevenção
Neste sábado, a empresa de biotecnologia Genekam, sediada na cidade alemã de Duisburg, anunciou um teste de DNA para diagnóstico rápido do vírus zika, cujos kits já estariam a caminho do Brasil. Até então, os únicos métodos disponíveis eram em nível molecular, com alto nível de complexidade e apenas eficazes na presença de sintomas clínicos – uma fase breve da infecção, com apenas três a sete dias de duração.
Stabeli também menciona um procedimento diagnóstico a partir do soro sanguíneo, que permitiria detectar a doença precocemente, mas "no momento esse tipo de teste não está no mercado". Além disso, calcula-se que sejam necessários, no mínimo, três anos para se desenvolver uma vacina.
Na falta de alternativas médicas, o Brasil se concentra na prevenção e no combate ao vetor do vírus zika: o mosquito Aedes aegypti, o mesmo transmissor da dengue. Para tal, a partir de 13 de fevereiro 220 mil soldados irão de casa em casa, educando a população sobre a necessidade de eliminar focos potenciais do inseto, como poças de água parada.
Os 10 vírus mais perigosos do mundo
Embora a covid-19 seja muito contagiosa, sua taxa de mortalidade é relativamente baixa em comparação com esses dez vírus.
Foto: picture-alliance/dpa
Vírus de Marburg
O vírus mais perigoso do mundo é o Marburg. Ele leva o nome de uma pequena cidade alemã às margens do rio Lahn, onde o vírus foi documentado pela primeira vez. O Marburg provoca febre hemorrágica e, assim como o ebola, causa convulsões e sangramentos das mucosas, da pele e dos órgãos. A taxa de mortalidade do vírus chega a 88%.
Foto: Bernhard-Nocht-Institut
Ebola
O vírus do ebola foi descoberto em 1976 na República Democrática do Congo por uma equipe de pesquisadores belgas. A doença foi batizada com o nome do rio que passa pelo vilarejo onde ela foi identificada pela primeira vez. Ele pode ocorrer em cinco cepas distintas, denominadas de acordo com países e regiões na África: Zaire, Sudão, Bundibugyo, Reston, Floresta de Tai. A cepa Zaire é a mais fatal.
Foto: Reuters
Hantavírus
O hantavírus descreve uma ampla variedade de vírus. Assim como o ebola, ele também leva o nome de um rio – neste caso, onde soldados americanos foram os primeiros a se infectarem com a doença durante a Guerra da Coreia, em 1950. Os sinais são doenças pulmonares, febre e insuficiência renal.
Foto: REUTERS
Gripe aviária
Com uma taxa de mortalidade de 70%, o agente causador da gripe aviária espalhou medo durante meses. Mas o risco real de alguém se infectar com o vírus H5NI é muito baixo. Os seres humanos podem ser contaminados somente através do contato muito próximo com as aves. Por esse motivo, a maioria dos casos ocorre na Ásia, onde pessoas e galinhas às vezes vivem juntas em espaço pequeno.
Foto: AP
Febre de Lassa
Uma enfermeira na Nigéria foi a primeira pessoa a se infectar com o vírus Lassa. A doença é transmitida aos humanos através do contato com excrementos de roedores. A febre de Lassa ocorre de forma endêmica na África Ocidental, como é o caso, atualmente, mais uma vez na Nigéria. Pesquisadores acreditam que 15% dos roedores dali sejam portadores do vírus.
Foto: picture-alliance/dpa
Junin
O vírus Junin é associado à febre hemorrágica argentina. As pessoas infectadas apresentam inflamações nos tecidos, hemorragia e sépsis, uma inflamação geral do organismo. O problema é que os sintomas parecem ser tão comuns que a doença raramente é detectada ou identificada à primeira vista.
Crimeia-Congo
O vírus da febre hemorrágica Crimeia-Congo é transmitido por carrapatos. Ele é semelhante ao ebola e ao Marburg na forma como se desenvolve. Durante os primeiros dias de infecção, os doentes apresentam sangramentos na face, na boca e na faringe.
Foto: picture-alliance/dpa
Machupo
O vírus Machupo está associado à febre hemorrágica boliviana. A infecção causa febre alta, acompanhada de fortes sangramentos. Ele desenvolve-se de maneira semelhante ao vírus Junin. O Machupo pode ser transmitido de humano para humano, e é encontrado com frequência em roedores.
Foto: picture-alliance/dpa/Marks
Doença da floresta de Kyasanur
Cientistas descobriram o vírus da floresta de Kyasanur na costa sudoeste da Índia em 1955. Ele é transmitido por carrapatos, mas supõe-se que ratos, aves e suínos também possam ser hospedeiros. As pessoas infectadas apresentam febre alta, fortes dores de cabeça e musculares, que podem causar hemorragias.
Dengue
A dengue é uma ameaça constante. Transmitida pelo mosquito aedes aegypti, a doença afeta entre 50 e 100 milhões de pessoas por ano em todo o mundo. O vírus representa um problema para os dois bilhões de habitantes que vivem nas áreas ameaçadas, como Tailândia, Índia e Brasil.