Médicos Sem Fronteiras critica ajuda alemã contra o ebola
2 de dezembro de 2014
Organização reclama de atrasos e falta de coordenação. Governo alemão admite demora, mas argumenta que toda a comunidade internacional avaliou mal a situação.
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O presidente da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras na Alemanha, Tankred Stöbe, criticou a ajuda prestada pelo governo alemão aos países afetados pela epidemia de ebola. Em declarações ao jornal Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung, ele afirmou que a Alemanha ainda não prestou assistência médica própria na Libéria, Serra Leoa e Guiné.
Apesar de vários anúncios e promessas de recursos significativos, nenhum dos centros para tratamento de paciente com ebola é comandado pelos alemães, disse Stöbe. Segundo ele, o centro da tratamento da Cruz Vermelha alemã em Monróvia, capital da Libéria, ainda não está funcionando. E há apenas 16 funcionários alemães nos três países citados.
"Não foi fácil descobrir quando as promessas seriam cumpridas. Mas parece que agora estamos quase lá", declarou Stöbe, reclamando que a ajuda alemã veio muito tarde e descoordenada. "Após o terremoto no Haiti ou o tufão nas Filipinas, levou apenas horas ou dias para a ajuda internacional se mobilizar em massa. No caso do ebola, passaram-se meses", protestou.
Encarregado alemão desmente críticas
Numa conferência de peritos de organizações humanitárias realizada nesta segunda-feira (1º/12) em Berlim, o encarregado de ebola do governo alemão, Walter Lindner, rejeitou as críticas. Ele admitiu que a ajuda chegou tarde, mas reiterou que não apenas a Alemanha avaliou de forma equivocada a situação nos países afetados.
"Agora a Alemanha está ativa em todos os três países: Libéria, Serra Leoa e Guiné", afirmou. Lindner salientou ainda que, mesmo que a ajuda alemã nem sempre seja visível, ela desempenha um papel fundamental, por exemplo na ponte aérea para o Senegal. Ao todo, o governo alemão disponibilizou 108 milhões de euros para ajuda emergencial na luta contra o ebola.
Segundo os últimos números da Organização Mundial da Saúde (OMS), o número oficial de mortos de ebola subiu para 6.928 pessoas. Ao todo, foram registrados 16 mil casos de infecção.
Ebola: luta contra o vírus mortal
Apesar das medidas preventivas, algumas pessoas já se contaminaram com o vírus na Europa e Estados Unidos. Cuidadores utilizam trajes para prevenir a propagação, mas na África a proteção ainda deixa a desejar.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Woitas
Traje de proteção
Na luta contra o ebola, roupas de proteção adequadas para médicos e enfermeiros são essenciais. Toda a pele deve ser coberta com material impenetrável pelo vírus. Mas trajes apenas não bastam, também é necessário seguir corretamente as prescrições de segurança.
Trabalho em conjunto
Os profissionais de saúde devem treinar a colocação correta dos trajes protetores. Como aqui, na unidade especial de isolamento de Düsseldorf. Novos trajes são utilizados a cada vez, para que não haja risco de contaminação no processo. Dessa forma, cuidadores sem proteção também podem ajudar os colegas a se vestir.
Foto: picture-alliance/dpa/Federico Gambarini
Isolamento total
Os quartos dos pacientes na unidade de isolamento em Düsseldorf são completamente protegidos do mundo exterior. O ar é filtrado e as águas residuais são tratadas separadamente. As vestes de proteção, que os cuidadores trajam permanentemente, são pressurizadas. Essas medidas de segurança vão além do necessário: o ebola pode ser transmitido por objetos contaminados, mas não pelo ar.
Após o tratamento dos pacientes, todo o traje é aspergido por fora com desinfetante, a fim de eliminar potenciais contaminações viróticas. Somente após essa ducha as vestimentas podem ser removidas, cuidadosamente.
Foto: picture-alliance/dpa/Sebastian Kahnert
Ajuda externa
Durante a remoção dos trajes protetores, os profissionais de saúde devem ser extremamente cautelosos. Luvas de proteção permanentemente instaladas nas aberturas da câmara permitem ajuda externa sem contato direto com o traje. Após o uso, estes são imediatamente descartados e incinerados.
Foto: picture-alliance/dpa/Federico Gambarini
Enfermeiras contaminadas
Apesar dos altos padrões de segurança, , na Espanha e Estados Unidos três enfermeiras contraíram a doença. As circunstâncias da contaminação ainda não foram esclarecidas. As residências das profissionais (na foto, Texas) foram isoladas e desinfetadas após a descoberta do contágio.
Foto: Reuters/City of Dallas
Proteção na África
Agora, médicos e enfermeiros da África Ocidental também foram equipados com trajes protetores. No entanto, estes nem sempre obedecem as normas para uma proteção efetiva. Por vezes, pequenas áreas da pele ficam descobertas ou o material usado é permeável. Além disso, colocar e retirar o traje pode ser arriscado.
Foto: picture alliance/AP Photo
Isolando os mortos
Os funerais das vítimas do ebola também requerem cuidados extremos. Na África Ocidental, a tradição de os familiares de lavarem os corpos dos mortos resultou em numerosas novas infecções. Para família e amigos, costuma ser difícil compreender e acatar as rigorosas medidas de isolamento.
Foto: Reuters/James Giahyue
Isolamento em barracas
Numa região onde os cuidados médicos são extremamente precários, uma epidemia das atuais proporções representa um enorme desafio. Os infectados são tratados em barracas improvisadas, como se vê na foto feita na Libéria. No entanto, até mesmo um país como a Alemanha ficaria sobrecarregado nessas circunstâncias. No momento, há apenas 50 leitos nas unidades de isolamento alemãs.
Foto: Zoom Dosso/AFP/Getty Images
Incineração em vez de sol
Em algumas regiões afetadas na África Ocidental, os trajes contaminados são pendurados para secar ao sol, numa tentativa de desinfetá-los para reutilização. No entanto, é muito mais seguro as roupas serem imediatamente incineradas após o uso, como ocorre na Guiné. Escassez e altos custos dos trajes dificultam essa medida: as roupas de proteção custam entre 30 e 200 euros.
Foto: Cellou Binania/AFP/Getty Images
Controles nos aeroportos
As viagens aéreas são a maior ameaça na transmissão de longa distância do vírus. Por esse motivo, a temperatura dos passageiros está sendo monitorada em alguns aeroportos. Entretanto, o método não oferece garantia absoluta, já que o período de incubação do ebola é de 21 dias.