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México lembra os 5 anos do sumiço dos jovens de Ayotzinapa

27 de setembro de 2019

Cerca de 10 mil participam de marcha na Cidade do México. Governo oferece recompensa, reconhece ter ocorrido um "crime do Estado" e diz que não haverá impunidade no caso dos 43 estudantes que sumiram em Iguala.

Pessoas com cartazes com fotografias em passeata no México
"Responsabilidade é do Estado", diz Felipe de la Cruz, pai de um dos desaparecidosFoto: Reuters/C. Jasso

Cerca de 10 mil pessoas participaram nesta quinta-feira (26/09) de um ato na Cidade do México para lembrar os cinco anos do desaparecimento de 43 estudantes de Ayotzinapa, cidade no sul do país. O caso comoveu o México e provocou indignação mundial.

"Para nós, a responsabilidade é do Estado, é um crime do Estado", afirmou Felipe de la Cruz, pai de um dos desaparecido e porta-voz dos familiares das vítimas. "Vamos chegar aonde estão os autores", acrescentou.

Esta foi a 59ª manifestação desde o desaparecimento dos jovens, em 26 de setembro de 2014. Dezenas de organizações se juntaram à marcha, liderada pelos parentes dos estudantes e com participação de alunos da Escola Normal Rural Raúl Isidro Burgos, um internato para homens onde os desaparecidos estudavam.

O governo mexicano descreveu o caso nesta quinta-feira como um "desaparecimento forçado" cometido por agentes do Estado e ofereceu uma recompensa milionária para quem ajudar a encontrar os responsáveis.

"Exigimos justiça", afirmou Rosa, de 58 anos, uma das mães dos desaparecidos. "Isso ofende quem tem dignidade neste país", acrescentou a mulher, que preferiu não citar seu sobrenome, por questões de segurança. Ela marchou com uma vela na mão e vestiu um traje que lembra uma onça, usado em uma dança típica do estado de Guerrero, onde os jovens desapareceram.

Houve momentos de violência. Uma centena de ativistas encapuzados quebraram vitrines de lojas e tentaram queimar um restaurante, mas os outros manifestantes ajudaram a apagar o fogo. No centro da cidade, os mascarados chegaram a atacar uma entrada do palácio presidencial e fizeram pichações no prédio, um deles dizia "Estado assassino".

Horas antes, o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, garantiu à imprensa que não haverá impunidade nas investigações do caso Ayotzinapa e que encontrar os jovens é uma prioridade do seu governo. "Não há impunidade. Isso é importante porque, quando se trata de crimes estatais, é muito difícil se chegar à verdade", disse López Obrador vestindo uma camisa com o dizer "Ayotzinapa, 5 anos; eu, pela verdade".

O subsecretário de Direitos Humanos do Ministério do Interior mexicano, Alejandro Encinas, disse que os desaparecimentos, ocorridos durante a presidência de Enrique Peña Nieto, estão sendo investigados agora como um "desaparecimento forçado cometido por agentes do Estado mexicano".

Encinas anunciou que o governo mexicano oferecerá uma recompensa de 1,5 milhão de pesos (cerca de 320 mil reais) para quem fornecer informações "confiáveis ​​e verificáveis" sobre o paradeiro dos estudantes.

Uma segunda recompensa de 10 milhões de pesos (mais de 2 milhões de reais) será dada àqueles que reportarem o paradeiro de Alejandro Tenescalco, supervisor da polícia local de Iguala e um dos principais indiciados no caso.

Em 26 de setembro de 2014, os estudantes de uma escola de formação de professores viajaram para Iguala, localizada também no estado de Guerrero, no sul do país, para participar de um protesto contra as más condições da educação no país. Na volta, os ônibus em que estavam foram atacados pela polícia local, que cooperava com o cartel de drogas Guerreros Unidos. Desde então, o paradeiro de 43 deles é desconhecido. 

De acordo com a versão oficial, os 43 estudantes foram detidos por policiais municipais de Iguala e entregues a membros do Guerreros Unidos, que teriam assassinado os jovens e incinerados os corpos num depósito de lixo.

López Obrador criou uma Comissão da Verdade para o caso, enquanto a Procuradoria Geral prometeu reiniciar a investigação "praticamente do zero".

Enquanto o paradeiro dos estudantes permanece um enigma, a Justiça mexicana libertou 77 detidos na investigação original e cujos testemunhos foram obtidos sob tortura.

MD/efe/afp

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