México revela possível gravação com voz de Frida Kahlo
14 de junho de 2019
Governo divulga áudio que pode ser o único existente da artista mexicana. Na gravação, ela lê um fragmento de texto que havia escrito para celebrar os 50 anos da carreira artística do marido Diego Rivera.
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Um áudio inédito, contendo uma voz que se acredita ser de Frida Kahlo lendo um texto que ela escreveu para seu marido, o pintor Diego Rivera, está sendo analisado no México para determinar se seria realmente o primeiro arquivo sonoro da pintora surrealista.
A ministra da Cultura mexicana, Alejandra Frausto, anunciou nesta quarta-feira (12/06) que o arquivo de áudio com duração de 90 segundos foi encontrado na coleção de Álvaro Gálvez y Fuentes, conhecido como "El Bachiller", um personagem famoso da chamada "idade de ouro" do rádio mexicano.
"A voz de Frida tem sido um grande enigma, uma busca constante. Até agora não havia uma gravação de Frida Kahlo", afirmou Pavel Granados, diretor da Fonoteca Nacional, que abriga a mais importante coleção sonora do México. "É uma gravação que está sendo estudada, uma voz que poderíamos chegar a uma conclusão próxima, sem dar 100% de certeza, que poderia ser de Frida Kahlo".
Com acordes de violão ao fundo, no áudio gravado em 1953 ou 1954 é possível ouvir Kahlo presumivelmente lendo um fragmento do texto que ela escreveu em 1949 para celebrar os 50 anos da carreira artística de Rivera.
"Com sua cabeça asiática, no qual nasce um cabelo escuro, tão fino que parece flutuar no ar, é uma criança grande, imensa, com um rosto gentil e um olhar triste", diz na gravação uma voz de timbre suave.
De acordo com Granados, uma das provas do que seria a voz de Kahlo é uma descrição captada pela fotógrafa francesa Gisele Freund em um artigo onde ela escreve que "Frida fuma, ri, fala com uma voz melodiosa e quente".
Outra prova, acrescentou Granados, é que o fragmento do texto ouvido na gravação é parte de outro recuperado pela historiadora e crítica argentina Raquel Tibol, que morreu em 2015.
O diretor explicou ainda que a gravação faz parte de um dos programas que "El Bachiller" produziu nos anos 1950 para a emissora XEW, de propriedade do conglomerado de mídia mexicano Televisa, e que os testes realizados no áudio mostram que ele foi gravado com um gravador portátil e fora de um estúdio profissional.
A análise do som descarta a possibilidade de que se trate de uma "locutora profissional", pois é possível ouvir a respiração em diferentes ocasiões, bem como um ligeiro ceceio [fenômeno linguístico da língua espanhola no qual pessoas pronunciam o "s" com som de "z"], contou Granados.
"Frida é um dos personagens mais emblemáticos que temos na cultura", afirmou a ministra da Cultura mexicana. O próximo passo será continuar com a análise da coleção de "El Bachiller" e consultar outras fontes que confirmem que a voz da gravação é realmente de Frida Kahlo.
Frida Kahlo é considerada uma das grandes pintoras surrealistas do século 20 e, no México, um símbolo nacional. Filha do fotógrafo alemão Carl Wilhelm Kahlo, ela nasceu em 1907 em Coyoacán, na atual Cidade do México. Aos seis anos, ela adoeceu de pólio e, aos 18 anos, sofreu um grave acidente de trânsito que quase custou a vida.
Ela foi operada mais de 20 vezes e teve que usar um espartilho de aço durante anos. Kahlo refletiu sua dor em suas pinturas. Respondendo às constantes infidelidades do seu marido, Kahlo teve suas próprias aventuras amorosas, algumas das quais com mulheres.
A artista expressou sua vida turbulenta em quadros coloridos. Porém, até sua morte aos 47 anos de idade, não teve reconhecimento artístico. Hoje, ela é um símbolo do feminismo latino-americano, e um ícone tão conhecido quanto Che Guevara.
FC/afp/ap/kna/efe/dpa
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Apenas em raras ocasiões, a mexicana se deixou fotografar sem o tradicional traje mexicano. O museu Marta, na cidade alemã de Herford, exibe imagens da coleção privada da artista.
Foto: Museum MARTA
Frágil feminilidade
Frida Kahlo mostrou a poucas pessoas seu lado mais terno e indefeso. Momentos íntimos da artista foram captados somente pelo amante e fotógrafo Nickolas Murray. Ela teve a vida marcada por um grave acidente, operações e internações. O suntuoso colorido de sua obra contrasta com as imagens em preto e branco de sua vida cotidiana, que agora podem ser vistas no museu Marta, na alemã Herford.
Foto: Museo Frida Kahlo, Mexico City
"Querido Diego"
Frida Kahlo organizava suas fotos meticulosamente. A coleção inclui trabalhos de fotógrafos famosos, como Tina Modotti e Man Ray, e também registros da esfera privada da artista, como esta foto do pintor Diego Rivera, que foi seu marido. Ela marcou algumas de suas fotos favoritas com um beijo de batom ou anotando pensamentos ao lado da imagem.
Foto: Museo Frida Kahlo, Mexico City
Álbum de família
Quando Frida Kahlo era criança, álbuns de fotos com a capa em tecido ou couro eram imprescindíveis nas casas das famílias de classe média. O pai dela, Guillermo Kahlo, era fotógrafo e transmitiu à filha o amor por essa arte. Frequentemente, ela lhe servia de modelo.
Foto: Museum MARTA/DW
Os pais
O pai de Frida Kahlo era alemão e emigrou para o México em 1891, onde se tornou um dos mais conhecidos fotógrafos do país. A mãe, Mathilde Calderón, tinha raízes espanholas e indígenas e uma inclinação "exagerada por coisas religiosas", criticava a filha.
Foto: Museum MARTA/DW
Fotografia como consolo
O pai de Frida Kahlo era apaixonado pela filha e fez incontáveis retratos dela. Ela o acompanhou em várias ocasiões durante suas reportagens e o ajudava no processo de revelação das fotos. Assim, os pais tentavam fazer a filha esquecer sua deficiência, o pé direito deformado, sequela da poliomielite.
Foto: Museo Frida Kahlo, Mexico City
Pintando no hospital
Em 1925, a vida de Frida Kahlo mudou drasticamente devido a um grave acidente de ônibus. Uma barra de ferro perfurou seu corpo, e ela quase morreu em consequência das lesões. Obrigada a permanecer na cama, ela começou a pintar e a escrever um diário. Desde então, as estadas em hospital passaram a ser parte de seu cotidiano. Para poder pintar na cama, ela mandou fazer aparatos especiais.
Foto: Museo Frida Kahlo, Mexico City
Casal de artistas
Aos 22 anos, Frida Kahlo casou-se com o também pintor Diego Rivera, de 43 anos, que era o pintor mexicano de maior sucesso da época. Ela o admirava e o ajudava na realização de seus grandes murais. A grande diferença de idade não parecia importar. Ela a chamava de "minha pombinha" e adorava quando ela vestia o colorido traje típico mexicano.
Foto: Museo Frida Kahlo, Mexico City
Viagem aos EUA
Em 1932, Diego Rivera foi encarregado pela montadora de automóveis Ford de pintar um mural político. Ele era fascinado pelas formas abstratas do mundo industrial. Frida Kahlo viajou com ele aos EUA e, em São Francisco, ela realizou sua primeira exposição, que foi um sucesso. Mas a saudade do país natal era grande demais, e, em 1934, o casal retornou ao México.
Foto: Museum MARTA/DW
Muitos amantes
Frida Kahlo não foi sempre feliz em seu casamento com Rivera, que tinha muitas aventuras amorosas. Eles se separaram e tornaram a se casar em 1940. A artista também teve muitos amantes. Um deles, o fotógrafo profissional Nikolas Muray, permaneceu sempre um fiel companheiro, tendo documentado a vida da artista até a morte dela, em 1954, aos 47 anos.
Foto: Museo Frida Kahlo, Mexico City
Valioso acervo fotográfico
O arquivo fotográfico privado de Frida Kahlo conta com cerca de 6.500 fotos. Somente em 2007, muito depois da morte da artista, a coleção foi apresentada ao público. O curador mexicano Pablo Ortiz Monasterio selecionou 241 delas para a exposição no museu Marta, em Herford, em cartaz até 10 de maio de 2015.