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México: Sheinbaum toma posse nesta terça em meio a desafios

Tobias Käufer
30 de setembro de 2024

Primeira mulher presidente do México, Claudia Sheinbaum enfrentará na largada de sua gestão temas como eleições nos Estados Unidos e recente reforma judicial.

Claudia Sheinbaum fala em microfone
Claudia Sheinbaum durante evento na Cidade do MéxicoFoto: Carlos Santiago/Eyepix/NurPhoto/picture alliance

Se o candidato à Presidência dos Estados Unidos Donald Trump conseguir o que quer, as empresas que produzem no México para o mercado americano terão que se mudar imediatamente para os EUA.

Se os chineses quiserem vender seus carros nos EUA, eles também terão de produzi-los nos EUA. Caso contrário, Trump ameaçou, na convenção do partido Republicano que o confirmou na corrida presidencial, que elevaria as tarifas desses produtos a ponto de torná-los inacessíveis. O setor automobilístico alemão, que está em parte instalado no México, também é alvo dessa ameaça.

O debate mostra que o México corre mais uma vez o risco de se tornar um peão na política interna dos EUA.

À espera de 5 de novembro

Claudia Sheinbaum (62) tomará posse nesta terça-feira (01/10) e se tornará a primeira mulher à frente do país. Entre outros desafios, seu mandato será marcado pelas eleições nos EUA em 5 de novembro, quando saberá quem será seu interlocutor em Washington pelos próximos quatro anos.

A escolha entre Kamala Harris ou Donald Trump para o comando da Casa Branca também será crucial para o clima de boa vizinhança. Sheinbaum, alinhada a ideais de esquerda, herda de seu antecessor, mentor e apoiador Andrés Manuel López Obrador uma economia que enfrenta incertezas.

Claudia Sheinbaum e seu antecessor e mentor, Andres Manuel Lopez ObradorFoto: Carlos Santiago/ Eyepix Group/Sipa USA/picture alliance

Crescimento e reforma judicial

De acordo com o Banco Mundial, a economia mexicana cresceu 3,2% no ano passado. Isso significa que o México alcançou um crescimento econômico acima de 3% pelo segundo ano consecutivo. De acordo com informações oficiais, a taxa de pobreza caiu de 43,9% (2020) para 36,3% (2022) – cerca de 8,8 milhões de mexicanos teriam saído da pobreza.

Uma reforma judicial causou alvoroço nas últimas semanas. Ela foi rapidamente aprovada pelas instituições em tempo recorde, apesar de inúmeros protestos, e causou preocupação entre parceiros comerciais.

A reforma determina que, no futuro, todos os juízes federais serão eleitos diretamente. Críticos da medida temem que o crime organizado, que já tem grande influência no México, ganhe mais influência sobre o Judiciário.

O embaixador dos EUA no México, Ken Salazar, disse há algumas semanas que essa reforma ameaça as relações construídas, "que dependem da confiança dos investidores na estrutura jurídica mexicana". Entretanto, nos últimos dias de seu mandato, López Obrador aprovou a reforma, que ele chama de "democratização do sistema jurídico".

Estado de Direito e investimento

Organizações de direitos humanos e a Igreja Católica advertem que as eleições do México já podem estar infiltradas pelo crime organizado. O alto número de candidatos assassinados durante as campanhas eleitorais é uma clara indicação disso.

Pelo menos 22 políticos locais foram assassinados no México desde setembro de 2023, de acordo com dados oficiais do governo de maio deste ano. Algumas organizações não governamentais, como a Data Cívica, registram números ainda mais altos. E há temores de que esse tipo de violência política também possa se estender às campanhas eleitorais no judiciário.

Cena do assassinato do candidato de oposição Alfredo Cabrera na cidade de Las Lomas, no estado mexicano de GuerreroFoto: Francisco Robles/AFP/Getty Images

"Para as empresas, o Estado de Direito é um critério importante para fazer negócios no exterior, construir e operar fábricas. E para o Estado de Direito, juízes independentes são um requisito básico", disse à DW Hartmut Rank, chefe do programa de Estado de Direito para a América Latina da Fundação Konrad Adenauer.

"Se a reforma for implementada conforme o planejado, os tribunais do México se tornarão menos independentes, o que poderia incentivar empresários a procurar locais alternativos", avalia Rank.

Há também ceticismo nos mercados financeiros: após as eleições, a moeda mexicana perdeu 13% de seu valor em relação ao dólar americano.

O futuro governo de Sheinbaum está respondendo às preocupações das empresas estrangeiras com uma previsão otimista: ela espera um aumento no investimento estrangeiro direto de três a quatro bilhões de dólares por ano, segundo jornal mexicano El Economista. Ao final do mandato de seis anos, em 2030, isso significaria um aumento nos investimentos estrangeiros de até 24 bilhões de dólares.

Expectativa entre empresas alemãs

A reforma judicial também é um tópico entre as empresas alemãs, que têm uma grande presença no México. "Mas teremos de esperar para ver como a reforma será implementada na prática; todo o resto é especulação", disse Johannes Hauser, diretor geral da Câmara de Comércio Exterior (AHK) no México, à DW.

"Nossas empresas parceiras estão atualmente analisando os cenários. Está claro que a reforma judicial pode limitar a independência dos tribunais. Como se espera que os juízes sejam elegíveis para reeleição, provavelmente será mais difícil fazer valer os interesses individuais em detrimento dos interesses do grupo; isso provavelmente se aplica tanto a indivíduos quanto a empresas", diz Hauser.

O analista pontua que há o temor de que, no futuro, os juízes possam pensar como os políticos e fazer seus julgamentos tendo em vista o impacto em suas chances de reeleição.

O que acontecerá se Trump vencer a eleição?

Para os fabricantes de automóveis alemães, o México é, depois dos Estados Unidos e à frente do Brasil e da Argentina, o local de produção mais importante nas Américas, de acordo com a Associação Alemã da Indústria Automotiva (VDA). É por isso que as sedes das empresas ficaram atentas às recentes declarações de Donald Trump sobre os locais de produção.

Um porta-voz da VDA disse à DW: "Os Estados Unidos concluíram o acordo comercial USMCA com o México e o Canadá. A imposição de tarifas mais altas sobre as importações de veículos do México seria uma violação desse acordo, o que prejudicaria especialmente as empresas americanas. Elas são as que desfrutam de muitas vantagens graças à rede de produção norte-americana".

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