Serviço climático americano afirma que temperatura na Terra em janeiro de 2020 superou todas as medições já feitas para o mês desde 1880. Além disso, termômetros na Antártida marcam mais de 20 ºC pela primeira vez.
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O mês passado foi o janeiro mais quente já registrado desde o início das medições, em 1880, afirmou nesta quinta-feira (13/02) a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês), instituição que integra o governo dos Estados Unidos.
Segundo o órgão, a temperatura das superfícies terrestres e oceânicas em janeiro de 2020 superou em 1,14 ºC a média registrada para o mês no século 20, que é de 12 ºC.
O mês passado foi ainda o 44º janeiro consecutivo e o 421º mês seguido com temperaturas acima da média registrada no século passado.
Em partes da Rússia, da Escandinávia e do leste do Canadá, os termômetros chegaram a superar em 5 ºC as médias registradas no século 20.
Assim, o mês passado ultrapassou, embora por muito pouco, o recorde anterior de janeiro mais quente em 141 anos de medições, registrado em 2016. Esse aquecimento está diretamente ligado às mudanças climáticas, afirmou a NOAA.
Temperaturas mais quentes significam o derretimento da neve e das geleiras. Em janeiro deste ano, a cobertura de gelo no Oceano Ártico esteve 5,3% abaixo da média registrada entre 1981 e 2010, enquanto a do Oceano Antártico foi 9,8% menor.
Os dados confirmam uma descoberta semelhante do serviço de monitoramento climático da União Europeia, divulgada na semana passada.
Os cientistas concordam em peso que as emissões de gases de efeito estufa geradas pelo homem são uma causa significativa do aquecimento que o mundo vive atualmente.
No ano passado, as Nações Unidas alertaram que as emissões globais precisam cair 7,6% por ano ao longo da próxima década a fim de limitar o aquecimento a 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais, meta estabelecida pelo Acordo de Paris sobre o clima, em 2015.
Antártida acima dos 20 ºC
Também nesta quinta-feira, cientistas anunciaram que a Antártida registrou um recorde de temperatura de 20,75 ºC, ultrapassando pela primeira vez a marca dos 20 ºC.
"Nunca tínhamos visto uma temperatura tão alta na Antártida", afirmou o pesquisador brasileiro Carlos Schaefer à agência de notícias AFP.
Segundo ele, a medição foi feita em 9 de fevereiro na ilha Seymour, localizada na ponta norte da Península Antártica. A ilha abriga a base de pesquisa argentina Marambio.
Schaefer afirmou, no entanto, que esses valores "não são válidos como uma tendência" das mudanças climáticas e que apenas mostram "que algo de diferente está acontecendo nessa região".
O recorde de temperatura na Antártida já tinha sido ultrapassado em 6 de fevereiro, quando os termômetros marcaram 18,3 ºC. O registo mais elevado era, até o momento, de 17,5 ºC, de 24 de março de 2015, segundo o Serviço Meteorológico Nacional da Argentina.
A Islândia fez um funeral para sua primeira geleira a desaparecer devido à mudança climática. Enquanto isso, em outras partes do mundo o derretimento avança – da Antártida à Groenlândia, mas também na África e Patagônia.
Foto: picture-alliance/AP Photo/NASA
Morte de uma geleira
A Islândia prestou homenagem à primeira geleira do país a desaparecer devido às mudanças climáticas. Okjökull perdeu seu status de geleira em 2014. Em 18 de agosto, o país realizou um funeral simbólico e inaugurou uma placa de cobre em homenagem à geleira morta. "Nos próximos 200 anos todas as nossas principais geleiras deverão seguir o mesmo caminho", prevê a mensagem cravada na placa.
Foto: Getty Images/AFP/J. Richard
Risco na Antártida
Acredita-se que a geleira Thwaites, parte da camada de gelo da Antártida Ocidental, represente um grande risco para o aumento do nível do mar no futuro. Caso derreta, o bloco gelado pode elevar em 50 centímetros o nível do mar, segundo revelou um estudo da Nasa no início de 2019. A Antártida abriga 50 vezes mais gelo do que todas as geleiras de montanha do mundo juntas.
Foto: Imago Images/Zuma/NASA
Beleza ameaçada na Patagônia
A galeira Grey, no Chile, fica nos campos gelados da Patagônia, que representam a maior extensão de gelo do Hemisfério Sul fora da Antártida. Pesquisadores estão monitorando de perto o derretimento na região, já que isso poderia ajudá-los a entender o que pode acontecer com outras geleiras, como as da Antártida e da Groenlândia, em climas mais quentes no futuro.
Foto: picture alliance/dpa/blickwinkel/E. Hummel
Geleira empacotada
A galeira do Ródano, na Suíça, dá origem ao rio Ródano. Há vários anos cientistas têm coberto seu gelo com mantas brancas resistentes aos raios ultravioleta durante o verão, na tentativa de retardar seu derretimento. Pesquisadores acreditam que o clima mais quente poderá erradicar dois terços do gelo nas geleiras alpinas até o final deste século.
Foto: Imago Images/S. Spiegl
Derretimento na Nova Zelândia
A geleira Franz Josef, na Ilha Sul da Nova Zelândia, é um destino turístico popular. A massa de gelo costumava seguir um padrão cíclico de avanço e recuo. Mas, desde 2008, Franz Josef vem diminuindo rapidamente. Se antes os guias costumavam levar os turistas a pé diretamente até o glaciar, agora a única maneira de alcançá-lo é de helicóptero.
Foto: DW/D. Killick
O gelo africano desaparece
As geleiras do monte Kilimanjaro também estão em risco. Em 2012, pesquisadores apoiados pela Nasa estimaram que o gelo restante na montanha mais alta da África deve desaparecer até 2020. O Kilimanjaro é uma das principais atrações turísticas da Tanzânia e um gerador crucial de receita num país onde a maioria das pessoas vive abaixo do limite da pobreza.
Foto: Imago Images/robertharding/C. Kober
Perigo no meio do rio
O estado americano do Alasca abriga milhares de geleiras. Um estudo divulgado em 2019 revelou que algumas delas estão derretendo 100 vezes mais rápido do que os cientistas previam anteriormente. Em agosto de 2019, dois alemães e um austríaco foram encontrados mortos após andar de caiaque num lago em Valdez. Autoridades acreditam que os turistas morreram pela queda de gelo glacial.
Foto: imago/Westend61
Esta cresce, mas não o suficiente
Jakobshavn, a maior geleira da Groenlândia, está crescendo, conforme revelou um estudo da Nasa no início de 2019. Mas, embora uma borda da geleira tenha engrossado ligeiramente desde 2016, a camada de gelo em geral ainda está derretendo rapidamente, superando em muito a expansão. Cientistas acreditam que o crescimento se deva a um afluxo de água fria do Atlântico Norte, um fenômeno temporário.