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Mídia árabe condena atentado em Paris

Kersten Knipp (md)9 de janeiro de 2015

Jornais do mundo islâmico repudiam atentado contra redação do semanário satírico francês "Charlie Hebdo". Segundo veículos, terrorismo ameaça não só a paz, mas mancha a própria imagem do islamismo.

Foto: Reuters/S. Lam

No começo, era terror e depressão. O ataque contra o semanário satírico Charlie Hebdo provocou indignação em muitas partes do mundo árabe e muçulmano. Os comentaristas expressaram revolta e repulsa, reservando palavras duras para os terroristas e suas ações. "Não há diferença alguma entre os que assassinaram os jornalistas em Paris e aqueles que matam crianças na Síria, que humilham mulheres yazidis no Iraque ou atiram contra policiais na fronteira iraquiana-saudita", opina o jornal pan-árabe baseado em Londres Al Sharq al Awsat.

A publicação também cita os motivos ideológicos dos criminosos. "Por trás disso está sempre o mesmo: extremismo muçulmano e extremistas muçulmanos". Na avaliação do articulista Abdul Rahman al-Rashid, nas capitais árabes, as condições que dão origem ao extremismo, tais como falhas na educação e ideologia extremista, ainda não foram plenamente reconhecidas. "Por isso, a região ainda não conseguiu sair do túnel do terrorismo. Este terror agora ameaça o mundo inteiro."

La Liberté, da Argélia, concorda com essa avaliação, alertando que, enquanto o mundo inteiro ainda discute sobre o extremismo islâmico, este continua se espalhando, matando, destruindo, e só gradualmente as pessoas entendem o que ele representa: "um empreendimento genocida". O jornalista Mustapha Hammouche escreve ser nesessário abordar o fenômeno por seu lado ideológico. "O terrorismo não pode ser combatido enquanto o extremismo islâmico não for isolado. Nem no mundo e menos ainda no mundo islâmico."

Extremistas fazem do Islã uma religião do terror

O jornal tunisiano Akhbar Tunis afirma que os extremistas transformaram o Islã em uma religião do terror, o que segundo o periódico prejudica o próprio islamismo. "Através deles, a dignidade do profeta, sustentada nas escrituras, é ridicularizada." Ele escreve que em todo o mundo milhões de muçulmanos assistem impotentes às atividades dos terroristas. Atividades que mancham diariamente sua religião. Na vanguarda, o Akhbar Tunis vê os jihadistas do "Estado islâmico". A publicação pede para que os muçulmanos despertem em todo o mundo. "Eles têm que provar que os muçulmanos são o oposto da imagem obscura que deles é divulgada; que são pessoas ativas e produtivas, embaixadores da paz e da fraternidade – tanto em seus países de origem como naqueles em que são acolhidos."

O jornal pan-árabe Al Quds al Arabi teme que o ataque em Paris possa causar uma mudança na política ocidental. "E não só em relação ao extremismo islâmico, mas também em relação a todas as comunidades muçulmanas. Nós testemunhamos um revés para o que resta da imagem de um Islã moderado. "O periódico afirma que agora existe a ameaça de que o laço histórico entre os moderados dos lados cristão e muçulmano possa se romper. "Este, que foi por muito tempo uma espécie de rede de segurança para os muçulmanos inocentes que não têm nada com esse tipo de crime."

"Eu sou Charlie" diz a mensagem de solidariedade de internauta do LíbanoFoto: twitter.com/marchlebanon

No Paquistão, o atentado também causou indignação. O conhecido jornalista Muhammad Ziauddin chamou o ataque de "evento terrível que nunca deveria ter acontecido", acrescentando que ele não serve para outra coisa a não ser representar a comunidade muçulmana como desumana. "No entanto, deveria haver uma lei que proteja os sentimentos religiosos de todas as crenças", escreve Ziauddin. "Deve existir liberdade de expressão. Mas os sentimentos religiosos de outras pessoas também devem ser respeitados", pondera.

Causas mais profundas

O jornalista Tallat Hussein aponta para um aspecto adicional. Ele alerta que a França também deve investigar as causas mais profundas do incidente. "Se nos interessamos somente pelo 'que' e não pelo 'porquê', jamais será possível obtermos um panorama completo."

O cartunista iraniano radicado em Paris Mana Neyestani vê o problema de outra forma. Ele acredita ser necessário se discutir sobre as fronteiras entre a sátira, o insulto e a vontade de ridicularizar os outros. "Mas se, como no caso do ataque ao Charlie Hebdo, alguém pega em armas, então tais discussões estão fora de lugar." Ele afirma que uma condição para um debate sobre os limites da sátira é que este ocorra como um diálogo civilizado. "Mas quando alguém puxa uma arma, não tenho outra escolha senão condenar este ato."

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