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"Mídia alemã está com a gripe aviária"

Dennis Stute (av)24 de fevereiro de 2006

A imprensa tem exagerado os riscos de uma pandemia de gripe do frango. Afinal – embora gerando reações irracionais –, o medo é bom para as quotas de audiência e para as vendas. Mas há ainda quem aposte na força da razão.

Imagens que fomentam o pânicoFoto: AP

No final deste fevereiro, o jornal popular Bild apresentava um cenário de horror em sua matéria principal: "Gripe do frango: Copa cancelada?". Já nas semanas anteriores, os leitores do periódico precisavam ter nervos fortes: "O medo cresce!", "Abate de animais domésticos?", "Alarme de vírus!", "Medicamentos só para um em cada sete alemães", "Vacina contra gripe esgotada!", "... gripe matará milhões?". Este era o tom geral das manchetes.

Probabilidade mínima

"A mídia está, no momento, sofrendo da gripe aviária. Ela está mais doente do que os pássaros", afirma Willi Streitz, da cadeira de Pesquisa de Catástrofes da Universidade de Kiel. "A impressão é que os jornalistas inventam as manchetes, e então procuram um especialista que apóie suas opiniões."

O noticiário em geral deixa de fora quão infinitamente pequena é a probabilidade de se contaminar. Em todo o mundo, só há 170 casos confirmados – dos quais, 91 fatais – de humanos infectados com o vírus H5N1.

Medo do cancelamento da Copa 2006 na AlemanhaFoto: DW / Fotomontage

A preocupação dos especialistas é que o vírus sofra mutação, passando a transmitir-se também de pessoa para pessoa, o que resultaria numa epidemia mundial de gripe. Só neste caso se cogitaria cancelar a Copa 2006. Um detalhe, entretanto, que os leitores do Bild só ficaram sabendo ao ler a página oito.

Aprendendo com a imprensas marrom

"Os noticiários muitas vezes não têm feito uma distinção entre o avanço do vírus e o perigo potencial de uma pandemia", explica Winfried Göpfert, perito em Jornalismo Científico da Universidade Livre de Berlim.

E tal não é, de forma alguma, especialidade da imprensa marrom. Com manchetes como "Gripe do frango chega à Alemanha", jornais respeitáveis igualmente davam a impressão de que houvesse risco para os seres humanos.

"Sob a influência da imprensa marrom, também a imprensa séria é obrigada a exagerar os fatos, espalhando medo e pânico entre o público, sem que haja qualquer motivo para tal", declara Stephan Russ-Mohl, diretor do Observatório Europeu de Jornalismo (EJO), sediado em Lugano, Suíça.

Imagens e palavras

Independente da qualidade, parte do problema é o simples fato de um jornal como o Frankfurter Allgemeine Zeitung dedicar várias páginas à gripe do frango. "A mera quantidade concede, na percepção do público, importância ao tema."

Com freqüência, a linguagem visual sugere o oposto do conteúdo dos artigos, aponta Russ-Mohl: "Imprimiram-se aos milhões fotos de pessoas com vestimentas de proteção, sugerindo assim que o risco de contaminação seja grande".

Acrescente-se um problema estrutural: nos dias pobres em notícias, as redações voltam a atenção para os assuntos menos relevantes, tentando retirar o máximo deles. O professor de Jornalismo alerta: "Mesmo sob condições difíceis de trabalho redacional seria bom pensar duas vezes antes de provocar pânico sem necessidade".

Temor desproporcional

Em princípio, um risco tem sempre valor de notícia – dependendo da probabilidade de ocorrer e da dimensão dos danos possíveis. "Via de regra, quando jornalistas noticiam sobre riscos, eles exageram: o que é inseguro torna-se mais inseguro ainda, o espetacular ainda mais espetacular e os danos mais catastróficos", comenta Georg Ruhrmann, que pesquisa sobre a comunicação de riscos na Universidade de Jena.

Quer se trate de escândalo alimentar, catástrofes ambientais ou criminalidade, nos últimos dez anos nota-se um acréscimo dos temas amedrontadores, sobretudo nas redes privadas de televisão, que são mais comerciais.

"A população está contaminada por temas alarmistas. Porém antes mesmo que estes possam ser elaborados, os jornalistas já passaram para o assunto seguinte", critica Ruhrmann. "Assim, talvez eu tenha mais medo da gripe do frango do que de atravessar a rua, embora o risco de acidentes seja maior."

Vitória da sensatez?

Em geral, um assunto já some depois de poucas semanas, sem haver provocado mudanças duradouras de atitude. O desinteresse em noticiar sobre a aids, por exemplo, foi um dos fatores responsáveis pelo recrudescimento do sexo não protegido, embora o risco de infecção continue o mesmo.

'Gripe aviária – primeiros socorros' no Aeroporto de FrankfurtFoto: AP

Sob certas condições, a advertência pode descambar para a histeria, e esclarecimento para a estupidez, admite o pesquisador da Universidade de Jena. As quedas nas vendas dos produtos de aves são prova de como os noticiários sobre a gripe aviária provocaram reações totalmente irracionais.

A imprensa preencheu uma função importante, ressalta Winfried Göpfert, da Universidade Livre de Berlim. Ela forçou as autoridades a agir, a preparar-se cuidadosamente para a possibilidade cem por cento real de uma pandemia.

O sociólogo especializado em catástrofes Willi Streitz acredita que pouco a pouco uma "fase de reflexão" se anuncia: "De início todos se atiravam sobre um tema assim, o que cria uma espécie de compulsão". Mas ele prefere não falar em "alarmismo": "De um modo geral, as pessoas são sensatas, é preciso se esforçar muito para gerar pânico de verdade".

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