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Mídia debate "A Queda" de Hitler

(sv)21 de setembro de 2004

Jornais de língua alemã opinaram nas últimas semanas sobre o longa "A Queda", dirigido por Oliver Hirschbiegel e produzido por Bernd Eichinger, sobre os últimos dias do ditador nazista.

"A Queda": polêmica na imprensaFoto: 2004 Constantin Film, München

Literatura condensada – "Digno de nota é o fato de que Bernd Eichinger foi capaz de condensar de tal forma a literatura sobre o período, que cada milímetro de seqüência desse filme deixa a impressão de pesar toneladas. [...] Falou-se que o filme não contribui em nada para a compreensão acerca do Terceiro Reich. Deveríamos protelar a resposta a essa questão. Pois o filme é capaz, primeiramente, de esclarecer algo sobre o que aconteceu. Se isso fizer com que as pessoas se voltem para os livros de Joachim Fest, Ian Kershaw ou Sebastian Haffner, já se atingiu bastante."

Frankfurter Allgemeine Zeitung

Christian Berkel como o médico SchenckFoto: 2004 Constantin Film, München

O menor denominador comum – "O argumento de que tudo aconteceu exatamente assim pode até ser verdadeiro, mas não importa. Pois a ambição do cinema sempre foi encontrar sua própria economia narrativa: saber observar a massa de fatos e fazer uma escolha, defender uma posição, um ponto de vista. A Queda faz uso do menor denominador comum e do maior efeito possível – mas quem é esse, afinal, que está narrando aqui? [...] A Queda do Terceiro Reich é, sem dúvida, uma grande narrativa. Bernd Eichinger pensou então: vamos mostrar isso exatamente como aconteceu. Mas cada movimento de câmera, cada junção de duas tomadas, cada close é também um posicionamento de valores. De outro jeito o cinema nunca funcionou. E quando um filme vai ao encontro de um fim trágico, acaba transportando uma ideologia clara: a de que existe um destino a ser amargamente cumprido, independente dos atores da história. O gênero clássico para isso é, diga-se de passagem, o melodrama. E que foi, por razões óbvias, o gênero preferido dos nazistas."

Süddeutsche Zeitung

Apocalipse no algodão – "Eichinger se atém ao de sempre: good guys / bad guys, desatino versus razão. Frente ao fanáticos Hitler/Goebbels estão principalmente Speer e o médico da SS, Schenck, que auxilia incessantemente feridos e incorpora heroicamente o humanismo. Isso certamente não foi pensado como salvação da honra da SS. Mas no cinema criado por Eichinger/Hirschbiegel tem que haver bem e mal. A Queda mostra um apocalipse no algodão. No fim, a secretária Traudl Junge, representada por Alexandra Maria Lara com infantis olhos assustados, sai andando de bicicleta em direção à nova República Federal da Alemanha."

taz

Justus von Dohnanyi e Bruno Ganz, como Adolf HitlerFoto: 2004 Constantin Film, München

Imagens de volta à escuridão de onde vieram – "É evidente que há uma necessidade de reconstrução fílmica do fim da Segunda Guerra. É natural que pessoas que passaram pela guerra, ou aquelas que querem entender melhor o sofrimento de seus pais e avós, se interessem por imagens que tragam esse assunto ao presente. Na Alemanha, faltam formas públicas de memória. A arte do cinema se mostrou no passado como a mais bem-sucedida de todas as possibilidades de lembrar o passado. Pensemos apenas em O Pianista, a obra-prima de Roman Polanski sobre o Holocausto. Embora o espectador não veja ali muita gente morrendo, o filme consegue representar o sofrimento de milhões de pessoas. Na cena mais forte do longa de Hirschbiegel e Eichinger, vê-se seis pessoas inocentes morrendo: os filhos ainda crianças de Goebbels. Uma perspectiva além disso ou, até mesmo como Eichinger anseia, uma perspectiva que leve ao uma reelaboração especialmente alemã do período nazista, o filme não consegue. As imagens que ele mostra acabam voltando para a escuridão de onde vieram."

Frankfurter Rundschau

Perspetiva do camareiro – "Ambivalente parece sobretudo o valor histórico do novo filme sobre Hitler. Como ele vai surtir efeitos: como espetáculo de mídia de grande impertinência, cuja imagem histórica é forte, porém sem conseqüências? O filme nos coloca perto de Hitler, entretanto – para falar junto com Hegel – faz isso sob a perspectiva do camareiro, para o qual não há heróis. O camareiro 'tira as botas do herói, ajuda-o a ir para a cama, sabe que ele prefere tomar champanha'. As personagens históricas, sabia Hegel, sairiam assim deturpadas, pois seriam niveladas pela perspectiva do camareiro. Sobre o Hitler de A Queda seria preciso dizer: ele é desdemonizado sob essa perspectiva. E isso é bom. Mas obviamente muito pouco, quando se abdica ao mesmo tempo de qualquer análise política."

Neue Zürcher Zeitung
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