1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Mídia russa pinta Gerhard Schröder como "salvador da Europa"

Juri Rescheto
5 de agosto de 2022

Figura desgastada na Alemanha por seus laços comerciais com estatais russas, ex-chanceler se encontrou novamente com Putin na semana passada. Após visita, imprensa russa cobre político alemão de elogios.

Capas de jornais russos
Mídia russa deu atenção a visita de Schröder ao KremlinFoto: Dmitry Feoktistov/ITAR-TASS/IMAGO

"A Alemanha vai congelar. E muito, caso o gasoduto Nord Stream 2 não seja colocado em operação". De acordo com o título de um artigo em um dos maiores tablóides russos, o Moskovsky Komsomolets (MK), o presidente russo, Vladimir Putin, recebeu esta informação de seu amigo alemão, o ex-chanceler Gerhard Schröder, que recentemente esteve na Rússia.

Segundo o jornal, Putin "explicou ao seu convidado em grandes detalhes o que está acontecendo e como a situação pode ser melhorada".

O jornal elogia Schröder por explicar o raciocínio de Putin à mídia alemã logo após a visita e por "conclamar o governo federal [alemão] para que abra o gasoduto Nord Stream 2".

Para o periódico, Schröder obviamente achou os argumentos de Putin convincentes. "Em sua entrevista à mídia alemã, ele [Schröder] reverberou Putin e culpou a Siemenspelos problemas [com o fornecimento de gás para a Europa]".

No final de julho, Schröder, que governou a Alemanha entre 1998 e 2005, visitou Putin em Moscou pela segunda vez desde o início do conflito. Amigo pessoal do líder russo, Schröder é hoje uma figura desgastada na Alemanha por causa dos seus laços com o Kremlin e os diversos cargos que ocupou em estatais russas de energia após deixar o governo, que lhe valeram acusações de atuação como lobista.

Nesta semana, ao regressar da sua mais recente visita a Moscou, Schröder concedeu uma entrevista na qual afirmou que a Rússia está pronta para “um acordo negociado” em relação à Ucrânia e defendeu a abertura do gasoduto submerso Nord Stream 2 como forma de aliviar a escassez de gás na Alemanha.

O gasoduto, controlado pela empresa russa Gazprom, nunca entrou em operação e teve sua licença suspensa por Berlim pouco antes da Guerra na Ucrânia. Schröder ocupa justamente a presidência do conselho de diretores da subsidiária responsável pelo Nord Stream 2.

Schröder como "negociador""

A emissora conservadora religiosa russa Zargrad disse que Schröder renunciou a algumas de suas conexões comerciais com a Rússia sob pressão de um "lobby europeu" não especificado. A Zargrad agora atribui ao político o novo papel de "negociador".

"Gerhard Schröder é um dos 'amigos' europeus mais importantes de Putin, como foi retratado na imprensa ocidental durante anos. Na realidade, isso significa que foi muito confortável trabalhar em conjunto com o ex-chanceler".

A agência de notícias Ria Nowosti, conhecida por suas reportagens opinativas, refere-se a algumas cartas ao editor do jornal alemão Die Welt, em que Schröder também é elogiado: "Os alemães estão entusiasmados com suas palavras sobre Putin".

No artigo em questão, são traçados paralelos com o atual chanceler federal, Olaf Scholz - em seu detrimento. Os leitores também são citados como pedindo que o projeto de gasoduto germano-russo Nord Stream 2, no momento suspenso, seja retomado.

Gerhard Schröder e Vladimir Putin são amigos de longa dataFoto: Alexei Druzhinin/dpa/picture alliance

Diplomacia para resolver o conflito

O jornal Izvestia ressalta a lealdade de Schröder a Putin. "O ex-chanceler se recusou a pedir desculpas por sua amizade com Putin", destacou. Segundo o periódico, falar é melhor do que silenciar, já que a situação na Ucrânia pode ser resolvida com a ajuda da diplomacia.

O jornal cita o ex-chanceler dizendo que o Kremlin está pronto para as negociações de paz - e o alfineta, em referência às palavras de Schröder: "Mas os países europeus, incluindo Alemanha e França, não estão fazendo o suficiente sobre isso".

O portal online Deita.ru pergunta em sua manchete: "O 'amigo de Putin' veio a Moscou para salvar a Alemanha e encerrar a operação especial militar?", esclarecendo que Schröder provavelmente esteve na capital russa para salvar os alemães de um iminente "terror frio" e para atuar como mediador no conflito na Ucrânia.

No entanto, o jornal pondera que, no caso de qualquer negociação de paz russo-ucraniana, o Kremlin provavelmente só faria concessões se Scholz, em troca, renunciasse a fornecer ajuda militar à Ucrânia.

"Ao cumprir a vontade dos Estados Unidos, a Alemanha fornece às forças ucranianas armas que matam soldados russos. E aqui nenhum interesse econômico prevalece sobre o valor da vida. Além disso, é impossível fechar os olhos ao confisco de bens públicos e privados russos", diz o jornal, manifestando a esperança de que a amizade de longa data entre os dois políticos faça avançar as negociações.

"Schröder goza de um alto nível de credibilidade na Alemanha (...) e é um dos políticos com quem Putin gostaria de conversar."

Pular a seção Mais sobre este assunto