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Jazz Brasil-Alemanha

20 de julho de 2009

O baixista Thomas Rotter apresenta seus dotes de 'bandleader' em 'Traumzeit', um álbum temperado pela musicalidade do Brasil, da bossa nova à gafieira. A seu lado, saxofonista e baterista brasileiros.

Capa de 'Traumzeit', do Thomas Rotter QuartetFoto: Mulatina

Os fãs dos discos da ECM Records e da boa música instrumental brasileira tiveram uma bela surpresa ao se depararem com o álbum de estréia do Thomas Rotter Quartet, de Stuttgart, que está nas lojas alemãs.

Traumzeit, lançado pelo selo Mulatina Records, é um autêntico manifesto do talento de um instrumentista que sabe conjugar as peculiaridades do jazz europeu com o melhor da escola brasileira, indo de Nico Assumpção a Tom Jobim. Fundamentais para atingir tal desempenho foram as participações especiais de dois músicos mineiros, o saxofonista Cléber Alves e o baterista André "Limão" Queiroz, que se somaram a Ull Möck (piano) e Jochen Feucht (sax), formando uma banda muito coesa.

Praias desertas

O disco já começa a seduzir o ouvinte pela incômoda capa que o embala. Nela aparece uma praia deserta de um país nórdico qualquer, com uma série de vestuários enfileirados, todos vazios e cerrados, sem alma humana por perto. A fotografia comunga da mesma força perturbadora, de atmosfera gélida, que marcou muitos dos legendários álbuns jazzísticos da gravadora ECM, de Munique, e que funciona como pista para quem quer conhecer o som do quarteto e a quem eles estão filiados.

No Way Out é a faixa mais fantástica do álbum, uma peça misteriosa onde há uma sutil citação da jobiniana Chovendo na Roseira. Outro grande momento de Traumzeit é Partido Tunísia, um jazz de pegada brasileira, que encontra parentesco na sonoridade do excelente grupo Pagode Jazz Sardinhas Club, do Rio de Janeiro. É som de gafieira, concebido pela mente de um jazzista alemão.

Astúcia e competência

Todas as dez composições do álbum foram assinadas e arranjadas por Thomas Rotter, músico que acompanhou por longos 12 anos o baterista argentino Daniel Messina, com quem Rotter acentuou seu latinflair. O produtor e compositor de trilhas sonoras cinematográficas Georg Schaller é um que tira o chapéu para Rotter:

"Ele é, sem dúvida alguma, um dos melhores baixistas da Alemanha, que não se perde em traquinagens virtuosísticas, fazendo seu baixo cantar". Para Schaller, o encanto de Traumzeit (que significa "Tempo de sonho") está "na linguagem musical, nos sentimentos que a música de Thomas Rotter transmite, que são mais universais e mais fortes do que o idioma do jazz".

Já Klaus Dieter Zeh, da revista austríaca Concerto, define a música de Rotter como a "de um quarteto jazzístico com finas nuances", feitas por um "baixista requisitado que conseguiu emplacar um debut marcante como compositor e líder".

Referência brasileira

Thomas Rotter travou o primeiro contato com a música brasileira nos anos 80, ao ouvir os discos de Tom Jobim e Astrud Gilberto. Na época, o jazzista aprimorava seus conhecimentos numa escola de música: "Eu achava Astrud com Stan Getz maravilhoso, mas de lá para cá eu passei a achar o samba de partido-alto, o frevo e o choro mais interessantes do que a bossa nova".

Tom Jobim é inspiração para o jazzista alemãoFoto: Folha Imagem

Rotter conta que conheceu os brasileiros Cléber Alves e André "Limão" na Alemanha: "Cléber eu conheço desde 1990 mais ou menos, quando ele estudava comigo na Escola de Música de Stuttgart. André eu conheci em 2006, quando Cléber o trouxe para a turnê que fazia pela Alemanha. Desde o primeiro momento, eu percebi que gostaria de ter o André como baterista nas minhas gravações", revela o baixista.

"O mistério da música brasileira está na grande variedade e vivacidade de seus ritmos, mas também na harmonia e na melodia. Ela exala muita energia e vontade de viver, mas tem também algo profundo e melancólico", afirma Thomas Rotter. Ele lamenta o fato de a música alemã contemporânea ser tão distinta em termos de qualidade. "Infelizmente não temos nada comparável com a música popular brasileira, que é única em todo o mundo."

Cléber Alves, seu amigo brasileiro, imagina o quanto o Brasil ainda tem a fazer pelo bem de seu próprio patrimônio musical. Em entrevista ao jornal Estado de Minas, o saxofonista mineiro declarou: "Se a Alemanha, que é berço de Bach e Beethoven, conseguiu criar cursos de música popular a partir da experiência com o jazz, imagina o que poderia ocorrer aqui no Brasil, onde temos uma cultura musical própria".

O entrosamento entre os músicos brasileiros e alemães do Thomas Rottter Quartet é mesmo de impressionar. "Pena que tão poucos músicos brasileiros venham tocar aqui na Alemanha", comentou Thomas Rotter, um incorrigível aficionado da musicalidade do Brasil.

Autor: Felipe Tadeu
Revisão: Augusto Valente

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