Música contra o radicalismo de direita
21 de julho de 2006No Leste alemão, os skinheads e jovens de orientação radical de direita não são minoria. Em 2004, nas eleições estaduais da Saxônia, quase 25% dos eleitores que votaram pela primeira vez elegeram a facção de extrema direita NPD (Partido Nacional Democrático da Alemanha). Uma das razões do sucesso do NPD é o contínuo trabalho executado junto aos jovens.
A associação Arquivo das Culturas Juvenis se opõe ao radicalismo de direita e mostra, com o projeto Culture on the Road (Cultura na Estrada), a diversidade cultural entre os jovens. Não importa se é punk, hip-hop ou metaleiro – tudo é melhor do que ser de extrema direita.
Tudo é melhor do que a extrema direita
Desde 2002, o Culture on the Road vem promovendo seminários e cursos de aperfeiçoamento em toda a Alemanha, apoiados pela iniciativa governamental Entimon, um programa em defesa da dignidade e do respeito, coordenado do Ministério alemão da Família. Donas de casa, idosos, jovens e organismos governamentais trabalham em cooperação com iniciativas locais, escolas, cursos de capacitação profissional, centros municipais e clubes de jovens.
No curso de DJ na escola de aperfeiçoamento Blankenhain em Thüringen, no Leste alemão, os alunos se sentam cheios de curiosidade e aprendem a mixar sons, em vez de ficarem fazendo exercícios de matemática. Peer Wiechmann mostra aos alunos como se toca e como se acha o ritmo certo.
Aprendendo a ser DJ
"Aqui é a sua mesa de trabalho, você pega a mão e mexe o disco para lá e para cá. Tente primeiramente de forma regular, de lá para cá, daqui para lá, de forma que você crie um ritmo. Quando se sentir seguro, misture a outra música e tente colocar o ritmo sobre ela. Não precisa dar nenhum empurrão, solte simplesmente em um movimento para frente", explica Wiechmann.
Qualquer um pode tentar. O adolescente Bastian de 14 anos está totalmente por dentro do assunto: "Como já toco, é sempre bom aprender de uma pessoa mais experiente e receber novas dicas". Wiechmann responde a todas as perguntas e mostra alguns truques. Embora não seja DJ, ele entende do assunto.
Culturas juvenis: premissa de tolerância
Peer Wiechmann, de Weimar, pertence a uma organização contra o radicalismo de direita. Ele trouxe a equipe de Culture on the Road de Berlim para Blankenhain.
"Aqui existe uma presença relativamente grande da extrema direita e nós fomos incumbidos pela União contra o Radicalismo de Direta, de Weimar, de organizar aqui um evento. Atraímos os jovens através daquilo que gostam: música e dança. As culturas juvenis têm por princípio uma expressão de tolerância, diversidade e internacionalidade. É isto que tentamos transmitir e que todos acham muito legal no final".
Culture on the Road é composto por uma equipe bastante diversificada de 15 pessoas. Alguns deles estudaram Ciências Políticas e receberam uma formação especial para tratar com o pensamento radical de direita. Outros provêm de diversas "tribos" juvenis – da cena hip hop, tecno ou heavy metal. Também está presente uma norte-americana, que tocou durante vários anos em uma banda punk.
São oferecidos workshops com duração de um dia na área de música e estilos musicais, história e origens das diferentes culturas juvenis. Os alunos podem escolher em quais seminários desejam participar.
Xenofobia no Leste alemão: "coisa normal"
Silke Baer é a diretora pedagógica do projeto. Sua intenção é chegar principalmente aos jovens das regiões distantes das cidades maiores, nos Estados da ex-Alemanha Oriental, onde "a xenofobia é considerada como uma coisa normal. Nessas regiões, levamos os jovens a discussões políticas através do tema das 'culturas juvenis'. Tentamos, desta forma, integrá-los em uma sociedade interessada na democracia".
O fato de a maioria dos movimentos juvenis ter surgido fora da Alemanha é um dos pontos tratados. Outro é a história destes movimentos. Nenhum dos alunos sabia, por exemplo, que o movimento punk surgiu no Reino Unido, devido ao grande desemprego entre os jovens nos anos 70. Uma situação que eles bem conhecem.
Primeiro realçar e depois integrar
Para a socióloga Michaela Glaser, do Instituto da Juventude Alemã em Halle, este tipo de trabalho é indispensável: "O importante é ter um acesso aos jovens, sem o qual não se pode trabalhar. Nossa experiência mostra que estes tipos de projeto, que trabalham com temas do cotidiano, realçando-os e aprendendo com eles, podem levar a juventude a se abrir para estes temas e para a continuidade de uma discussão com conteúdo."
Segundo Glaser, é importante iniciar uma discussão a partir destes temas. Se depois destes workshops nada mais acontece, o trabalho foi em vão, um perigo que existe em muitas comunidades. Em tempos de escassez de recursos, é comum o corte de orçamento na área de trabalho com jovens.
Os professores de Blankenhain, entretanto, não querem deixar a bola cair: "Acabei de falar com Peer Wiechmann e lhe pedi para continuar, de qualquer maneira, em contato conosco, pois o projeto tem funcionado muito bem. Queremos que um ou outro projeto tenha continuidade através do nosso clube de jovens. O começo já foi feito, agora vamos ver que forma daremos à sua continuação".