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Macron é eleito presidente da França

7 de maio de 2017

Franceses freiam populismo e euroceticismo de Le Pen e elegem por ampla margem o jovem político de 39 anos, favorito das lideranças da UE. Em discurso, ele promete lutar contra as divisões que enfraquecem o país.

Frankreich Präsident Emmanuel Macron spricht vor dem Louvre in Paris
Foto: Reuters/P. Wojazer

O centrista Emmanuel Macron foi eleito neste domingo (07/05) o novo presidente da França, numa vitória com uma série de aspectos históricos. Ele é o primeiro independente a conquistar o posto de presidente na história da Quinta República francesa – um feito ainda mais notável se considerado que seu movimento, o Em Marcha, foi fundado há apenas um ano. Aos 39 anos, ele vai se tornar ainda o mais jovem presidente eleito da França – o recorde anterior era de Luís-Napoleão Bonaparte, que conquistou o cargo em 1848 aos 40 anos.

Com um programa abertamente pró-europeu, Macron venceu – com 66.06% dos votos – como o candidato favorito das lideranças da UE. Sua vitória traz alívio para o bloco, que ainda tenta se adaptar à saída do Reino Unido e vem sendo alvo de críticas de populistas em todo o continente.

A derrota de Marine Le Pen – que obteve 33,94% dos votos – representa mais um golpe para os eurocéticos. Em março, eles já haviam sido derrotados na Holanda. Muitos encaravam as eleições francesas como um termômetro para verificar a força atual dos populistas anti-UE e a resistência do projeto europeu, além de sinalizar o que esperar das eleições gerais na Alemanha e, possivelmente, na Itália, ainda neste ano.

Outros temas que tem tido uma prevalência mundial também dominaram as eleições francesas, como a insatisfação generalizada com o sistema político e econômico, o temor em relação ao terrorismo e a imigração. Com esses temas na mesa, Macron se posicionou como o reformista otimista, em contraponto ao discurso reacionário e isolacionista de Marine. Apesar do temor que sua candidatura provocava, Le Pen nunca chegou a ameaçar a liderança de Macron ao longo da campanha do segundo turno, sempre estando pelo menos 20 pontos percentuais atrás, segundo todas as pesquisas.

"Defenderei a França, seus interesses vitais e sua imagem. Assumo o compromisso diante de vocês. Defenderei a Europa. Nossa civilização, nossa maneira de sermos livres, está em jogo", afirmou, logo após a confirmação da vitória. "Eu quero ser uma página de esperança e confiança renovada. Brigarei com todas minhas forças contra a divisão que nos enfraquece."

Franceses celebram a vitória de Macron diante do LouvreFoto: picture-alliance/AP Photo/E. Morenatti

Em termos locais, a vitória de Macron implode de vez o sistema tradicional partidário, marcado por um rodízio entre conservadores e socialistas, que dominou o país desde o início da Quinta República, no final dos anos 50. Agora, saem os socialistas do atual e impopular presidente François Hollande, e entram os novatos do Em Marcha. Só a presença de Macron e de Le Pen no segundo turno já havia sido histórica, marcando a primeira vez que dois outsiders dominaram o segundo turno.

Uma terceira via francesa

Ao longo da campanha, Macron disse não representar nem a direita, nem a esquerda. Ele preferiu o termo "progressista". Sua plataforma, no entanto, incorporou elementos de políticas sociais de esquerda e do liberalismo econômico – uma espécie de "terceira via" francesa.

A vitória mostra que o programa teve apelo entre muitos eleitores, especialmente os das grandes cidades e os membros das classes mais educadas. A vitória não foi livre de percalços. Macron teve que superar as dificuldades de criar uma máquina política do zero e até mesmo armadilhas que marcaram outras eleições, como a dos EUA. Assim como ocorreu com Hillary Clinton, sua campanha também foi alvo de hackers e de disseminação de notícias falsas.

Apesar de tudo isso, sua trajetória foi sempre ascendente. Já no primeiro turno, Macron foi tratado como um fenômeno que conseguia arrastar multidões para comícios. Ele terminou em primeiro lugar, com 24,01% dos votos, beneficiado também pelo naufrágio da candidatura do conservador François Fillon, que ao longo de 2016 foi considerado o favorito para suceder a Hollande.

Mas apesar da vitória sólida, a bem-sucedida campanha de Macron neste segundo turno também evidencia algumas divisões profundas na sociedade francesa. Este segundo turno foi marcado por um comparecimento mais fraco do que no primeiro. Ao todo, 25,8% dos eleitores deixaram de comparecer às urnas neste domingo, o pior resultado em décadas - foram 22,3% no primeiro turno, em abril.

Macron com a mulher, Brigitte, em ParisFoto: Reuters/B. Tessier

O dado é ainda mais chamativo considerando que quem estava na disputa era Marine Le Pen. Em 2002, quando seu pai, Jean-Marie Le Pen, chegou ao segundo turno das eleições presidenciais, o comparecimento foi maior na segunda votação, após uma série de campanhas apelarem para os eleitores sobre o perigo representado pela candidatura do populista. Jean-Marie também não conseguiu ampliar significativamente o eleitorado entre as duas rodadas – terminou com apenas 0,93% a mais de votos válidos. 

Contra Marine, a "Frente Republicana" que uniu políticos de todos os espectros políticos não teve a mesma eficácia. Houve até mesmo uma ausência notável, o esquerdista independente Jean-Luc Mélenchon, quarto lugar no primeiro turno, que se recusou a apoiar Macron e seu programa de contornos liberais. O número de votos em branco chegou a 8,4% de acordo com os prognósticos.

Resultado histórico para a FN

Para Marine, a derrota não é de todo amarga. Ela conseguiu dobrar a votação recebida pelo seu pai em 2002. Os 33,94% de Le Pen representam cerca de 16 milhões de votos. O resultado sinaliza que o novo programa imposto por ela na Frente Nacional, a sigla fundada por Jean-Marie, conseguiu expandir a base.

Com Le Pen no comando, a FN passou a cortejar eleitores de zonas que sofrem com a desindustrialização da França usando muitas vezes um discurso com elementos socialistas, misturado com acusações contra Bruxelas e a UE. A velha pregação xenofóbica ainda está presente, mas não tem mais os elementos mais gritantes e abertamente racistas que costumavam ser usados pelos antigos fascistas e católicos radicais que povoaram a FN por várias décadas.

O resultado mostra que Le Pen conseguiu, efetivamente, normalizar a FN e inseri-la como um ator relevante na paisagem política francesa. A FN conta com décadas de existência e uma legião fiel de seguidores, mas na maior parte da sua existência foi marginalizada pelo establishment político. Ao conceder a derrota, Marine salientou que o resultado foi "histórico" para a FN. 

Para Macron, o primeiro desafio será o de inserir o Em Marcha como um ator eficiente capaz de tocar o dia a dia do governo. O primeiro teste para a força do movimento ocorre em junho, nas eleições legislativas. Ele terá que conseguir uma maioria para formar governo, seguindo as regras do sistema híbrido francês, onde o Parlamento tem bastante autonomia interna. Estimativas apontam que o Em Marcha deve levar entre 249 e 286 deputados, próximo da maioria. 

 

 

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