Em discurso na ONU, presidente francês diz que a guerra de agressão russa é um retorno aos tempos coloniais e alerta que aqueles que se dizem neutros estão sendo cúmplices.
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O presidente francês, Emmanuel Macron, vê um ressurgimento do imperialismo na guerra de agressão russa. "O que estamos experimentando desde 24 de fevereiro é um retorno aos dias do imperialismo e das colônias", disse nesta terça-feira (20/09) o chefe de Estado francês em discurso na Assembleia Geral da ONU em Nova York.
Macron afirmou que o imperialismo atual não é europeu nem ocidental. "Ele assume a forma de uma invasão territorial, baseada em uma guerra híbrida e globalizada, que usa o preço da energia, segurança alimentar, segurança nuclear, acesso à informação e movimentos populares como armas de divisão e destruição", disse, acrescentando que a guerra é um ataque à soberania de todos.
O presidente francês criticou países que se dizem neutros diante do conflito, dizendo que eles estão sendo cúmplices desse imperialismo. "Aqueles que hoje se calam servem, contra sua vontade ou secretamente, com uma certa cumplicidade, a um novo imperialismo, a um cinismo contemporâneo que perturba a nossa ordem internacional, sem a qual a paz não é possível."
Macron pediu uma ação resoluta para garantir que a Rússia dê um fim à guerra, dizendo que essa não é uma questão de escolher entre leste e oeste, norte ou sul. "Trata-se da responsabilidade de todos aqueles que estão vinculados pelo respeito à Carta e ao nosso bem mais valioso, a paz", frisou o chefe de Estado. Ele ressaltou que a coesão também é importante, porque as consequências da guerra ameaçam dividir o mundo. "Tudo deve ser feito para que essa divisão não aconteça. Os desafios são cada vez mais numerosos e urgentes e requerem novas cooperações."
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"Referendos são sinal de cinismo"
Macron descreveu os referendos planejados nas áreas ocupadas pelos russos na Ucrânia como uma provocação adicional. "Não têm validade legal", disse Macron momentos antes de seu discurso na ONU. "A mera ideia de organizar referendos em áreas que viveram a guerra é um sinal de cinismo."
As autoridades pró-Rússia nas regiões ucranianas de Lugansk, Donetsk, Kherson e Zaporíjia anunciaram referendos sobre a união dessas áreas com a Rússia. As votações devem começar nesta sexta-feira e durar até terça-feira da próxima semana. Em reação, a Ucrânia declarou que essa "ameaça" só pode ser evitada pela força. Com isso, existe a ameaça de uma grave escalada da guerra na Ucrânia.
Macron deixou claro que vê os tais referendos como uma imitação e paródia de um processo democrático. "Se não fosse trágico, poderíamos rir disso", ironizou.
md (AFP, DPA)
Ataques da Rússia a alvos civis na Ucrânia
Vladimir Putin nega que o exército russo esteja atacando alvos civis na guerra na Ucrânia. Mas os fatos o contradizem, como mostra esta galeria de fotos, que nem de longe abrange todos os ataques russos.
Foto: Maksim Levin/REUTERS
Mais de 5.500 civis mortos
O presidente russo, Vladimir Putin, declarou no fim de junho: "O exército russo não está atacando alvos civis". Observadores independentes discordam: de acordo com dados da ONU, mais de 5.500 civis morreram na Ucrânia desde o início da guerra e mais de 7.800 ficaram feridos como resultado de ataques russos. Na foto, um centro comercial destruído em Kremenchuk, 27/06/2022.
Foto: Efrem Lukatsky/AP Photo/picture alliance
Chaplyne: 25 mortos em bombardeio
Uma enorme cratera em Chaplyne. A pequena cidade no leste da Ucrânia, com cerca de 3.800 habitantes, foi alvo de um ataque russo em 24 de agosto, como admitiu mais tarde o Ministério da Defesa em Moscou. O alvo foi um trem de transporte de armas, mas o ataque também atingiu civis. Segundo a companhia ferroviária ucraniana, 25 foram mortos, incluindo duas crianças.
Foto: Dmytro Smolienko/Ukrinform/IMAGO
Vinnytsia: 28 vítimas em ataque com foguete
Em 14 de julho, o exército russo atingiu com um míssil a Casa dos Oficiais de Vinnytsia, onde teria ocorrido "uma reunião da liderança militar das Forças Armadas ucranianas e fornecedores estrangeiros de armas". Entre os 28 mortos, estavam três crianças e três oficiais, além de mais de 100 feridos. Vinnytsia se localiza a sudoeste de Kiev.
Foto: State Emergency Service of Ukraine/REUTERS
Chasiv Yar: 48 mortos em bombardeio
Na noite de 9 de julho, a pequena cidade de Chasiv Yar, no leste da Ucrânia, foi bombardeada. Segundo a mídia, os lançadores de foguetes múltiplos Uragan foram disparados em áreas residenciais. Um edifício residencial de cinco andares foi duramente atingido, e 48 corpos foram resgatados de seus escombros.
Foto: Nariman El-Mofty/AP/dpa/picture alliance
Serhiyivka: 21 mortos em ataque com mísseis de cruzeiro
Um ataque a Serhiyivka em 1º de julho custou pelo menos 21 vidas. O porto perto de Odessa aparentemente foi atingido por mísseis de cruzeiro durante a noite, como a Anistia Internacional informou após investigações no local. Pelo menos 35 ficaram feridos nos ataques. Por ser um resort de saúde, Serhiyivka é particularmente popular entre os turistas russos.
Foto: Maxim Penko/AP/picture alliance
Kramatorsk: 61 mortos na estação de trem
Imagens terríveis de Kramatorsk deram a volta ao mundo em 8 de abril: vários mísseis submarinos russos 9K79-1 Tochka atingiram a estação ferroviária da cidade no leste da Ucrânia, enquanto passageiros esperavam pelo trem. 61 foram mortos, incluindo sete crianças. Cientistas de balística determinaram que os mísseis haviam sido disparados da área da Ucrânia controlada pelos russos.
Foto: Ukrainian President Volodymyr Zelenskyy's Telegram channel/dpa/picture alliance
Bucha: encontrados 1.316 corpos
Bucha tornou-se sinônimo das ações brutais do Exército russo: depois que as tropas inimigas partiram, em 30 de março, vários corpos jaziam na rua Jablunska. No total, foram encontrados 1.316 corpos em Bucha e arredores. Embora a Rússia tenha negado quaisquer massacres, verificadores de fatos internacionais e equipes de investigação confirmaram execuções de civis por soldados russos.
Foto: Zohra Bensemra/Reuters
Mykolaiv: 36 mortos em ataque à administração regional
Em 29 de março, um ataque aéreo atingiu o prédio da administração regional de Mykolaiv. A parte central do edifício foi completamente destruída, do primeiro ao nono andar, restando apenas um esqueleto do prédio. A explosão também danificou vários edifícios residenciais e administrativos próximos, causando a morte de 36 cidadãos.
Em 16 de março, uma bomba destruiu o teatro no centro de Mariupol. De acordo com a Human Rights Watch, mais de 500 civis estavam se abrigando dos ataques no prédio na época. A palavra "Crianças" escrita em enormes letras brancas na frente e atrás do prédio não serviu como escudo. Segundo a prefeitura, 300 morreram.
Foto: Pavel Klimov/REUTERS
Mariupol: quatro mortos em ataque a clínica
Um ataque aéreo russo em 9 de março destruiu o hospital infantil e a maternidade de Mariupol. Houve menos quatro mortes, incluindo uma grávida e seu bebê, 17 ficaram feridos. Enquanto o Ministério da Defesa russo falou de uma "provocação encenada", o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, chamou o atentado de "crime de guerra".
Foto: Evgeniy Maloletka/AP/picture alliance
Charkiv: foguete mata 24 pessoas
Um vídeo de vigilância divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia mostrou um foguete atingindo o prédio da Administração Estatal Regional de Kharkiv em 1º de março, causando 24 mortes, inclusive de transeuntes.
Foto: Pavel Dorogoy/AP/picture alliance
Inquérito do Tribunal Penal Internacional
As autoridades ucranianas relatam mais de 29 mil crimes de guerra, do início do conflito, em 24 de fevereiro de 2022, até 26 de agosto. Investigações independentes prosseguem. O Tribunal Penal Internacional enviou equipes para coletar informações. De acordo com as Convenções de Genebra, ataques deliberados a civis são crimes de guerra. No entanto, a Rússia não reconhece a corte sediada em Haia.