Macron e Merkel oferecem mediação europeia em Belarus
20 de agosto de 2020
Em encontro, líderes da França e da Alemanha defendem que UE deve ficar do lado dos manifestantes antigoverno bielorrussos, e se dizem prontos para mediar diálogo entre governo e oposição, com participação da Rússia.
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O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou nesta quinta-feira (20/08), após encontro com a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, que a União Europeia (UE) está pronta para mediar um diálogo entre governo e oposição em Belarus, país europeu afundado em uma crise política.
"Um diálogo entre as autoridades, a oposição e a sociedade civil é essencial. Nós esperamos que esse diálogo possa ser estabelecido pelos próprios bielorrussos. Mas a União Europeia se mantém pronta para acompanhá-lo, caso nosso papel de mediação possa ser útil e seja desejado pelos bielorrussos, junto a outras instituições e incluindo a Rússia", afirmou o líder francês.
Em coletiva de imprensa, Macron disse que ele e Merkel concordaram que a União Europeia deveria se manter do lado dos manifestantes em Belarus, que têm saído às ruas todos os dias desde 9 de agosto para protestar contra o resultado das eleições presidenciais.
O pleito garantiu um sexto mandato consecutivo ao autoritário presidente Alexander Lukashenko, há 26 anos no poder, por contestados 80% dos votos. A oposição alega que a eleição foi fraudada e vem exigindo a renúncia do chefe de Estado e a realização de um novo pleito.
Macron afirmou que ele, Merkel e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, tiveram "várias conversas" com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, sobre a situação em Belarus. "Insistimos na necessidade de haver uma transição democrática e inclusiva em Belarus por meio do diálogo."
Segundo o francês, Putin se mostrou favorável à proposta de a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) ter um papel na mediação entre governo e oposição – diferentemente do líder bielorrusso. "É o presidente Lukashenko que está relutante."
Merkel completou que o chefe de Estado bielorrusso não procurou fazer contato com nenhum líder da UE durante a crise. "Lukashenko não tentou falar com nenhum de nós", disse a alemã. "Ficou claro que nós estamos dizendo a Putin que buscamos um diálogo."
Lukashenko e o presidente da Rússia, seu aliado, já conversaram mais de uma vez por telefone nesse meio tempo, tendo Putin oferecido ajuda para garantir a segurança no país vizinho, o que gerou preocupações na comunidade internacional de uma possível ingerência russa na crise.
Merkel e Macron se reuniram nesta quinta-feira na residência de verão dos líderes franceses, em Fort de Brégançon, no sul da França. Seguindo regras de distanciamento social por conta da pandemia de coronavírus, o líder francês recebeu a alemã não com um costumeiro aperto de mãos, mas com uma saudação namastê, com as mãos unidas no peito e uma reverência com a cabeça.
No encontro, os dois discutiram diversos temas internacionais, como a pandemia de covid-19, o conflito no Mar Mediterrâneo, a situação no Mali e o suposto envenenamento de um opositor russo, e concordaram em coordenar tais crises globais cada vez mais de perto.
Envenenamento de opositor russo
Alexei Navalny, uma das principais vozes de oposição ao governo Putin, foi hospitalizado às pressas nesta quinta-feira. Segundo sua equipe, ele está em coma na unidade de terapia intensiva de um hospital na Sibéria e respirando com a ajuda de um ventilador pulmonar. Sua porta-voz acredita que Navalny foi envenenado com alguma substância misturada em seu chá.
Merkel e Macron lamentaram o estado de saúde do opositor russo e ofereceram ajuda de seus países. "Estamos obviamente muito preocupados e tristes com a situação de Alexei Navalny, e prontos para fornecer qualquer assistência necessária", afirmou o líder francês.
A chefe de governo alemã completou: "Espero que ele possa se recuperar e, naturalmente, seja na França ou na Alemanha, que ele possa receber de nós toda a ajuda e apoio médico necessário", caso um pedido formal nesse sentido seja feito.
Merkel também exigiu que a Rússia esclareça com rapidez as circunstâncias do aparente envenenamento do opositor. "O que é muito, muito importante agora é que isso seja esclarecido com urgência: como essa situação aconteceu? Iremos insistir nisso."
"Soberania europeia" no Mediterrâneo
Os dois líderes europeus também debateram a crise no Mar Mediterrâneo, atualmente palco de tensões entre a Grécia e a Turquia em uma disputa por gás natural. Merkel disse que a situação no Mediterrâneo Oriental é crítica e urgiu aos dois países que encontrem uma solução na mesa de negociações, porque "precisamos de estabilidade na região, e não de tensões".
Na reunião no sul da França, Merkel e Macron concordaram que "não aceitarão ataques à soberania de Estados-membros da União Europeia". "Defendemos a resolução de problemas por meio do diálogo, e não da escalada de tensões. Isso se aplica a todos os envolvidos", disse a alemã.
"O nosso objetivo estratégico no Mediterrâneo Oriental é o mesmo: soberania e estabilidade europeias", completou Macron, reiterando sua solidariedade à Grécia e ao Chipre, países-membros da UE. Segundo ele, todos os países têm sua maneira "de fazer as coisas" e cada nação tem "sua história", mas é preciso "haver uma complementaridade" visando alcançar objetivos comuns.
A Grécia acusa a Turquia de explorar ilegalmente reservas de gás natural em território próximo a ilhas gregas. O governo em Ancara rejeita as acusações e alega que as águas exploradas pertencem à plataforma continental turca. Em apoio simbólico à Grécia, Paris anunciou que enviaria dois navios de guerra e dois aviões para o Mediterrâneo Oriental.
De jovem cientista da Alemanha Oriental à primeira mulher a liderar uma das maiores potências do mundo: em 17 de julho, a chanceler federal completa 65 anos.
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Futuro brilhante
Quem diria que Angela Dorothea Kasner seria um dia a mulher mais poderosa do mundo? Dedicação, objetividade, discrição, pés no chão: são as qualidades que lhe transmitiu o lar protestante em Templin, no estado de Brandemburgo, na antiga Alemanha Oriental, embora ela tenha nascido em Hamburgo. O pai era pastor luterano, e a mãe ficava em casa, cuidando de "Angie" e de seus dois irmãos mais novos.
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Raízes polonesas
Os avós Greta e Ludwig Kazmierczak com o filho Horst, pai de Merkel. A família de origem polonesa mudou-se de Poznań (Posen, em alemão) para Berlim e, em 1930, trocou seu nome para Kasner. As raízes não alemãs da chanceler federal só foram divulgadas em 2013, causando um alvoroço temporário, sobretudo na Polônia. O sobrenome Merkel veio do primeiro marido, Ulrich Merkel, com quem se casou em 1977.
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Aluna aplicada
Esta foto foi tirada em 1973, num acampamento em Himmelfort, após Merkel concluir o curso secundário com uma média de 1,0 – nota máxima no sistema escolar alemão. Seus fortes eram russo e matemática. Durante a escola, foi filiada à associação juvenil socialista Juventude Alemã Livre (FDJ). Ela é a primeira chefe de governo da Alemanha crescida no regime comunista da Alemanha Oriental.
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Ciência em vez de rock 'n' roll
Na década de 70, Merkel estuda Física em Leipzig. Depois, trabalha no Instituto de Química da Academia de Ciências da República Democrática Alemã (RDA). Sua tese de doutorado é sobre reações de desintegração. Nesse período, conhece o primeiro marido. "Angela me chamou a atenção por ser amigável, aberta e natural", lembra Ulrich Merkel. Um dos prazeres dela é viajar – como nesta foto, em Praga.
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Apoio de Kohl
"Um dia, ela pegou suas coisas e se foi do quartinho em que vivíamos", conta o ex-marido. O banheiro era compartilhado com outros estudantes. "Ela levou a máquina de lavar, e eu fiquei com os móveis." Merkel passa a ser politicamente ativa, primeiro no movimento oposicionista Despertar Democrático, depois na União Democrata Cristã (CDU). Lá, conquista a confiança do chefe do partido, Helmut Kohl.
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Apesar dos ventos contrários
Merkel esforça-se para subir e, em 1990, torna-se deputada federal no Bundestag. O então premiê, Helmut Kohl, a nomeia ministra para Assuntos Femininos e Juvenis, embora a alemã-oriental não disponha de bons contatos na CDU e tenha pouca experiência. Quatro anos mais tarde, ela se torna ministra do Meio Ambiente, além de ser responsável pela segurança das usinas nucleares.
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Sem dó nem piedade
Em 1998, Merkel é nomeada secretária-geral da CDU, e, quatro anos depois, torna-se presidente do partido. No meio tempo, renegara publicamente seu padrinho político, Kohl, retirando-lhe todo apoio no contexto de um escândalo de doações partidárias. Em 2005, por fim, se elege chanceler federal, vencendo o social-democrata Gerhard Schröder. Sob a nova chefe, a CDU se torna um partido mais de centro.
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Motivos para rir
Merkel move-se sem problemas no mundo masculino da política. Encabeçando a locomotiva econômica europeia, ela dita o tom durante a crise financeira mundial e defende os interesses alemães. Críticos no país a acusam de excesso de manobras e estratégias e também carência de palavras claras – sobretudo quando o assunto é o escândalo de espionagem da NSA na Alemanha.
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Relação com Putin
Mesmo antes da crise da Crimeia, a relação entre Merkel e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, não era tão amigável como a deste com o antigo chanceler federal Gerhard Schröder. Porém, Putin diz ter grande respeito por Merkel, e ambos conversam fluentemente tanto em alemão como em russo.
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"Primeira dama"
Com a política mundial nas mãos de sua esposa, Joachim Sauer pode cumprir sem preocupações o papel de "primeira dama" da Alemanha. Merkel casou-se com seu segundo marido em 1989. Com fama de ser avesso às atenções públicas, Sauer é professor de Química e tem dois filhos do primeiro casamento.
Foto: Reuters/A. Gebert
Como a Casa Branca para os americanos...
... ou o Palácio do Eliseu para os franceses, assim está a residência no bairro berlinense de Mitte para o casal Merkel-Sauer. A chanceler federal não necessita de muita pompa. Os vizinhos a encontram regularmente no supermercado, pois ela não abre mão de fazer as compras, nem de cozinhar de vez em quando para o marido.
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Música erudita e futebol
Assim como na política, também no lazer ela parece atender a uma ampla gama de gostos, mostrando ser tanto amante da música erudita (sempre presente no Festival Wagner de Bayreuth), como do futebol. Na foto, Merkel com a seleção de Joachim Löw, campeã da Copa do Mundo de 2014.
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Crise dos refugiados
A abertura das fronteiras aos refugiados em 2015 foi uma medida que a chanceler federal alemã, Angela Merkel, bancou sozinha, politicamente. Não houve decisão da União Europeia, o Parlamento alemão não foi consultado, e muito menos a população do país.Isso lhe trouxe muitas críticas dentro do próprio partido e arranhou sua imagem junto à população.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
Quebrando clichês
Uma mulher que cresceu na Alemanha Oriental, sem padrinhos políticos, que primeiro ascendeu à chefia do partido conservador e, depois, se tornou chanceler federal. E, desde então, já foi reeleita três vezes. Assim chega Merkel aos 65 anos. E a líder alemã já teve até uma peça de teatro dedicada a ela: "Mutti" (Mãezinha, como é apelidada no país), da autora Juli Zeh.
Foto: Reuters
Crises de tremor
Uma série de crises de tremedeira em público nas semanas anteriores fez com que Angela Merkel se decidisse a receber a premiê da Dinamarca sentada em 11 de julho último. Embora Merkel repetidamente tenha assegurado que goza da saúde necessária para continuar no cargo, desenvolveu-se na Alemanha um debate sobre a saúde da chefe de governo.