Sébastien Lecornu reassume o cargo após colapso do governo com desafio de aprovar lei orçamentária, nomear novo gabinete e evitar nova dissolução do Parlamento.
Sébastien Lecornu e Emmanuel Macron. Primeiro-ministro volta ao cargo sob desafio de contornar moção de censuraFoto: Benoit Tessier/AFP
Aliados e opositores esperavam uma nova figura no governo para encerrar meses de paralisia em torno da aprovação de uma lei orçamentária, mas Macron optou por reconduzir Lecornu. Ele é o quinto primeiro-ministro a ocupar o cargo somente durante o segundo mandato do presidente francês, que teve início em 2022.
"O presidente da República nomeou Sébastien Lecornu como primeiro-ministro e o encarregou de formar um governo", informou o Palácio do Eliseu.
Após o anúncio, Lecornu disse que aceitou a missão "por dever". "Precisamos encerrar a crise política", afirmou.
A França vive um impasse político desde que Macron convocou eleições antecipadas no ano passado. O pleito resultou em um Parlamento ainda mais dividido, separado em três grandes blocos: a aliança de esquerda, o bloco centrista – aliado de Macron – e a ultradireita, nenhum dos quais detém maioria absoluta.
Lecornu entregou cargo por pressão sobre gabinete
Aliado fiel de Macron e ex-ministro da Defesa, Lecornu havia renunciado na última segunda-feira, apenas 14 horas após anunciar seu gabinete. Suas escolhas foram criticadas por aliados e opositores por manter nomes do governo anterior na chefia das pastas. A principal polêmica se concentrou no nome de Bruno Le Maire, ex-ministro das Finanças, reconduzido à Defesa.
Sob pressão, Lecornu entregou o cargo e disse que sua missão estava terminada, mas concordou em permanecer por mais dois dias na função para dialogar com todos os partidos políticos e verificar se havia desejo por novas eleições.
Após consultas, Lecornu indicou a Macron que a maioria absoluta da Assembleia Nacional rejeita uma nova dissolução do Parlamento, que poderia colocar também a permanência do presidente em xeque.
"Existe uma plataforma para a estabilidade", disse o gabinete de Macron, citando as conclusões de Lecornu.
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Lei orçamentária sob risco
Com a recondução do primeiro-ministro, a expectativa é que um novo gabinete seja apresentado, com maior espaço para partidos aliados.
Lecornu disse acreditar ser possível aprovar uma lei orçamentária até o final do ano. Altamente endividada, a França precisa aprovar seu orçamento dentro do prazo. Formalmente, o texto precisa ser submetido por um premiê até a próxima segunda-feira.
Com os prazos apertados, a nova tentativa governista de Lecornu é vista como a última chance de Macron se manter no poder sem levar a uma paralisia completa do Executivo e Legislativo francês.
O líder do partido de ultradireita Reagrupamento Nacional, Jordan Bardella, classificou a permanência de Lecornu no cargo como uma "piada de mau gosto" e prometeu buscar imediatamente a destituição do novo gabinete.
Um porta-voz da coalizão de esquerda, que também faz oposição a Macron, disse que o retorno de Lecornu foi um "gesto obsceno ao povo francês".
Os socialistas, grupo decisivo no Parlamento, afirmaram que "não têm acordo" com Lecornu e que derrubariam seu governo caso ele não suspendesse a reforma da previdência de 2023, que aumentou a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos.
Medidas de austeridade estão no centro da disputa com o Legislativo francês. O parlamento derrubou os dois antecessores de Lecornu por embates sobre cortes orçamentários.
Críticas de aliados
A crise crescente também levou antigos aliados a criticarem o presidente. Em um movimento inédito, o ex-primeiro-ministro Edouard Philippe, pré-candidato à presidência em 2027, afirmou no início da semana que Macron deveria renunciar após a aprovação do orçamento.
Mas Macron diz que permanecerá até o fim de seu mandato. Lecornu alertou que todos os que desejam integrar seu novo governo "devem se comprometer a deixar de lado ambições presidenciais" para as eleições de 2027.
gq (AFP, AP, DPA)
O mês de outubro em imagens
Veja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: Eyad Baba/AFP/Getty Images
Trump e líderes árabes assinam acordo de paz para Gaza
Estados Unidos, Egito, Catar e Turquia assinaram uma declaração como garantidores do acordo de paz em Gaza, dias após o início da trégua entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas. "Juntos, conseguimos o que todos diziam ser impossível. Finalmente, temos paz no Oriente Médio", disse Donald Trump em um discurso dirigido aos líderes internacionais reunidos no encontro, no Egito. (13/10)
Foto: Michael Kappeler/dpa/picture alliance
Ajuda chega a Gaza após garantia de liberação de reféns
Grupos de ajuda humanitária intensificaram os esforços de socorro a Gaza, devastada por dois anos de guerra. Os envios foram autorizados após o Hamas confirmar que seguirá o cronograma de libertação de reféns. Diante do quadro de fome generalizada causado pelo bloqueio imposto por Israel, entidades se preparam para enviar cerca de 600 caminhões com alimentos e suprimentos médicos por dia. (12/10)
Foto: Stringer/REUTERS
Protestos pró-palestinos se espalham pela Europa
Manifestantes pró-palestinos marcharam por várias cidades da Europa no segundo dia de cessar-fogo entre Israel e Hamas em Gaza. Milhares de pessoas ocuparam as ruas de Londres, Berlim e Viena. Em Berna, na Suíça, houve confrontos com a polícia. Em Tel Aviv, israelenses comemoraram o acordo de paz com gritos pró-EUA. (11/10)
Foto: Jaimi Joy/REUTERS
Palestinos iniciam retorno ao norte de Gaza após cessar-fogo
Dezenas de milhares de palestinos caminham rumo ao norte de Gaza para retornar às suas casas, após o exército israelense recuar de suas posições como parte do acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas, que entrou em vigor ao meio-dia (horário local). Um intenso bombardeio ainda foi registrado no território durante a manhã. A expectativa é que os reféns sejam libertados até segunda-feira. (10/10)
Foto: Eyad Baba/AFP
Milhares se reúnem para comemorar cessar-fogo em Gaza
Milhares de pessoas tomaram as ruas de Tel Aviv para comemorar o acordo que propõe colocar fim à guerra entre Israel e o grupo radical palestino Hamas. O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ratificou o texto e deve recuar suas tropas. A expectativa é que 20 reféns israelenses sejam devolvidos até segunda-feira. (09/10)
Foto: Ilia Yefimovich/dpa/picture alliance
Israel e Hamas firmam 1ª fase do acordo de paz em Gaza
Representantes de Israel e do grupo islamista Hamas concordaram com a primeira fase do plano de paz proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que prevê um cessar-fogo no conflito na Faixa de Gaza. A resolução prevê a libertação de reféns israelenses e prisioneiros palestinos (08/10).
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Guerra entre Israel e Hamas completa dois anos
Em 7 de outubro de 2023, combatentes do Hamas realizaram um ataque-relâmpago contra Israel, matando quase 1,2 mil pessoas e sequestrando outras 251. Reação israelense deu início à guerra na Faixa de Gaza, onde, depois de dois anos, mais de 66 mil palestinos morreram em meio ao conflito, segundo Ministério da Saúde local administrado pelo Hamas. (07/10)
Foto: Chris McGrath/Getty Images
Premiê da França renuncia após menos de um mês no cargo
O primeiro-ministro da França, Sébastien Lecornu apresentou sua renúncia ao presidente Emmanuel Macron, que a aceitou, após a oposição ameaçar derrubar o novo governo. A renúncia inesperada e sem precedentes aprofunda ainda mais a crise política na França, causada pela falta de uma maioria para Macron na Assembleia Nacional. (06/10)
Foto: Eliot Blondet-Pool/SIPA/picture alliance
Síria realiza a primeira eleição pós-ditadura
Após mais de 50 anos de ditadura e uma década de guerra civil, a Síria realizou suas primeiras eleições parlamentares. Mas o processo de votação está longe de ser simples – e está repleto de controvérsias e polêmicas. Nem todos os sírios foram às urnas. Também não houve partidos políticos. Os votos foram emitidos por vários comitês, razão pela qual a eleição é descrita como "indireta". (05/10)
Foto: Mahmoud Hassano/REUTERS
Japão prestes a eleger a primeira mulher para comandar o país
O Partido Liberal Democrático (PLD), que governa atualmente o Japão, escolheu a conservadora linha-dura Sanae Takaichi como líder da legenda, abrindo caminho para ela se tornar a primeira mulher a assumir o cargo de primeira-ministra do país. (04/10)
Foto: Kim Kyung-Hoon/POOL/AFP/Getty Images
Nos 35 anos da reunificação, Merz pede união frente a autocracias
No dia em que a reunificação da Alemanha completa 35 anos, o chanceler federal Friedrich Merz fez um apelo por união em meio a mudanças na ordem econômica mundial e à ascensão de autocracias. "Vamos fazer um esforço conjunto por uma nova união em nosso país", disse em Saarbrücken, falando a uma plateia que incluiu o presidente da França, Emmanuel Macron. (03/10)
Foto: Jean-Christophe Verhaegen/AFP
Ataque perto de sinagoga deixa 2 mortos no Reino Unido
Duas pessoas morreram e três ficaram feridas após um agressor dirigir contra um grupo de pedestres e esfaquear um segurança próximo a uma sinagoga em Manchester, na Inglaterra. O incidente ocorreu no Yom Kippur, o dia mais sagrado do calendário judaico. O primeiro-ministro britânico Keir Starmer ordenou que a segurança de sinagogas em todo o Reino Unido seja reforçada. (02/09)
Foto: Peter Byrne/PA/AP Photo/picture alliance
Israel intercepta flotilha humanitária rumo a Gaza
A flotilha internacional que transportava ajuda humanitária e cerca de 500 ativistas de vários países rumo à Faixa de Gaza, incluindo a sueca Greta Thunberg e um grupo de brasileiros, foi interceptada por navios militares israelenses. O Ministério do Exterior de Israel disse que "Greta e seus amigos estão seguros e saudáveis" e foram levados para um porto em Israel. (01/10)