Macron vai condecorar cacique Raoni com a Legião de Honra
26 de março de 2024
Líder indígena vai receber condecoração durante visita do presidente francês a Belém. Entre brasileiros que receberam honraria estão figuras como D. Pedro 2° e ex-presidentes.
Anúncio
O presidente francês, Emmanuel Macron, vai condecorar na terça-feira (26/03) o cacique Raoni com a Legião de Honra, a mais alta distinção francesa, no primeiro dia de sua viagem oficial ao Brasil, anunciou o governo francês nesta segunda-feira.
A condecoração de Raoni Metuktire, de 92 anos, será feita em Belém, no Pará. Segundo o governo francês, a honraria será conferida a Raoni por seu papel como "figura internacional da luta pela preservação da floresta amazônica e da cultura dos povos originários".
Criada em 1802 pelo imperador Napoleão Bonaparte, a Legião de Honra é a maior honraria concedida pela França a cidadãos do país e estrangeiros em reconhecimento a seus méritos. Ela conta com três graus e duas dignidades. Além do imperador Dom Pedro 2°, os ex-presidentes Eurico Gaspar Dutra, Juscelino Kubitschek, José Sarney e Fernando Henrique Cardoso estão entre os brasileiros que já receberam a honraria.
Em 2013, a cidade de Paris já havia concedido a Raoni o título de cidadão de honra.
O presidente francês e o líder caiapó já se encontraram em outras ocasiões. Uma delas ocorreu em 2019. A última, em junho de 2023, quando Macron o recebeu no Palácio do Eliseu, em Paris, para discutir a proteção das florestas e os direitos dos povos indígenas. Além de Macron, Raoni também já foi recebido no passado por outros três presidentes da República: François Mitterand, Jacques Chirac e François Hollande.
Raoni percorreu o mundo nas últimas décadas para conscientizar sobre a ameaça da destruição da Amazônia.
Como parte da visita de Macron ao Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva receberá o francês em Belém, na primeira etapa da visita bilateral à América Latina, que busca relançar a relação com o Brasil. A visita ocorre após um período de distanciamento depois da turbulência registrada no Brasil a partir de 2016 e a animosidade aberta do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro entre 2019 e 2022.
Essa é a primeira visita de um chefe do Executivo francês ao país em mais de dez anos. A última visita de um líder francês havia ocorrido em 2013, com o socialista François Hollande.
A visita de três dias também incluirá viagens ao Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.
jps (Reuters, AFP, ots)
Raoni e a união dos indígenas
Em encontro com lideranças indígenas no Mato Grosso, cacique pede união "para defender nosso povo, nossa causa, nossa terra".
Foto: DW/N. Pontes
Chegada
Atendendo ao chamado de cacique Raoni, mais de 600 lideranças indígenas de 47 etnias, como os tapirapé (foto) se deslocaram pelo rio Xingu ou pelas estradas de terra até o local do encontro, de 12 a 17 de janeiro. A viagem de muitos indígenas até o local da reunião, Terra Indígena Capoto Jarina, Mato Grosso, foi apoiada com recursos
recebidos de doadores internacionais.
Foto: DW/N. Pontes
No meio do conflito
Indígenas enauê-nauê habitam terras na região de Juara, Mato Grosso. Devido à tensão e a conflitos recentes com fazendeiros, os indígenas tiveram que ir a Vilhena, em Rondônia, para embarcar rumo à aldeia que sedia o encontro. No ritual sagrado, eles tocam a flauta e cantam tentando imitar o som do instrumento.
Foto: DW/N. Pontes
Mulher Kayapó
A pintura corporal faz parte do cotidiano das mulheres kayapó, e é vista como parte do vestuário. Há diferentes tipos de pintura, das cotidianas às usadas em ocasiões especiais, como rituais sagrados e manifestações. Na foto, uma mulher kayapó segura um facão durante uma dança com os homens, numa demonstração de coragem e força.
Foto: DW/N. Pontes
Dança dos homens
Homens yawalapiti fazem dança típica durante o encontro. Eles são uma das 16 etnias que habitam o Parque Indígena do Xingu, primeiro grande território demarcado no país, em 1961. A área incide sobre 10 municípios do norte de Mato Grosso e foi idealizado pelo irmãos Villas Bôas.
Foto: DW/N. Pontes
Segurança
Durante toda a participação de Raoni nas reuniões na chamada Casa dos Homens, no centro da aldeia Piaraçu, dois jovens se encarregaram da segurança do líder. Em sua última aparição num evento do tipo, um participante avançou sobre Raoni e o assustou.
Caciques tradicionais também acompanhavam as discussões e falas dos participantes.
Foto: DW/N. Pontes
Alessandra Munduruku
A participação das mulheres foi destaque durante a reunião. Alessandra Munduruku, que sofre ameaças por sua atuação em defesa do território de seu povo, cobrou que países ricos se posicionem contra projetos de exploração em terras indígenas, como construção de hidrelétricas. Só na bacia do rio Tapajós, região dos munduruku, há cerca de 60 usinas em operação.
Foto: DW/N. Pontes
Aldeia Piaraçu
A aldeia Piaraçu faz parte da Terra Indígena Capoto Jarina, região norte do Mato Grosso. Com 635 mil hectares, as aldeias são formadas por povos txukahamae e mentuktire e subgrupos kayapo. Homologado em 1991, o território está dentro dos municípios Marcelândia, Peixoto de Azevedo e São José do Xingu.
Foto: DW/N. Pontes
Estrada e balsa
A rodovia estadual MT 322, antiga BR 080, marca a divisa entre os territórios do Parque do Xingu e Terra Indígena Capoto Jarina. O trecho que corta os territórios indígenas não é pavimentado, onde carretas carregadas de soja, milho e algodão transportam a carga do Mato Grosso e Pará. Para cruzar o rio Xingu, é preciso usar o serviço de balsa, operados pelos indígenas.