Declaração é feita após líder oposicionista Juan Guaidó propor diálogo mediado por comunidade internacional. Noruega já estaria em contato com regime e oposição.
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O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou nesta quarta-feira (12/05) que está disposto a se reunir com representantes da oposição num encontro mediado por governos internacionais. A declaração foi feita um dia após o líder oposicionista Juan Guaidó propor a negociação de acordo entre as "forças democráticas" e o regime.
Durante um ato governamental transmitido pela emissora de televisão estatal VTV, Maduro afirmou que concorda em participar de uma negociação medida pela União Europeia ou pelo governo da Noruega. "Quando eles quiserem, onde quiserem e como quiserem, eu estou pronto para me reunir com toda a oposição para ver o que sai disso", declarou.
Reconhecido em janeiro de 2019 como presidente interino da Venezuela pelos Estados Unidos e mais de 50 países, Guaidó não conseguir tirar Maduro do poder, que continuou a receber o apoio de Rússia, China e Cuba. Nesta terça-feira, o oposicionista voltou a propor o retorno das negociações, com estabelecimento de um cronograma para eleições e a possibilidade de revisão das sanções impostas à Venezuela.
Guaidó publicou nas redes sociais um vídeo em que disse buscar um grande acerto entre os atores políticos dentro da Venezuela. "Esse acordo precisa surgir através de um processo de negociação entre as forças democráticas legítimas, o regime e os poderes internacionais", destacou o líder oposicionista.
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Proposta da oposição
No vídeo, Guaidó afirmou que o acordo deve incluir "a entrada maciça de ajuda humanitária e vacinas contra a covid-19, garantias para todos os atores das forças democráticas e também do 'chavismo', com mecanismos para a reinstitucionalização da Venezuela".
Ele pediu ainda a libertação de presos políticos, o regresso dos exiliados, o fim progressivo das sanções internacionais contra o país condicionado ao cumprimento de metas estabelecidas nas negociações, e um cronograma para a realização de eleições gerais "livres e justas".
A Venezuela deve realizar eleições regionais neste ano, mas ainda não está claro se a oposição pretende participar. Os opositores boicotaram o pleito legislativo do ano passado, afirmando que não havia garantias de que o processo seria democrático.
Depois de meses de recusa em participar de negociações, o governo parece ter voltado atrás. Maduro enxerga a investida dos opositores com bons olhos, mas voltou a acusá-los nesta quarta de tentar tirá-lo do cargo através de um golpe de Estado.
"Vamos ver se sai algo de bom disso. Eles abandonaram o caminho da guerra, da invasão, dos ataques, do golpe de Estado e vêm para o caminho eleitoral. Estamos esperando por eles aqui, no caminho eleitoral. A proposta foi aprovada", afirmou, que, no entanto, ironizou ao dizer que o ex-presidente do Parlamento venezuelano pode ter alguma carta na manga.
"Guaidó quer se sentar comigo. O que trará em suas mãos? Que armadilha trará? Será que lhe deram a ordem do Norte?", provocou, chamando o rival de "boi de piranha" dos Estados Unidos.
Mediação da Noruega
Nesta quarta, em entrevista coletiva conjunta, representantes da oposição reforçaram a possibilidade de contar com a Noruega como mediadora na negociação e confirmaram que representantes do país escandinavo visitaram a Venezuela em duas ocasiões neste ano.
A Noruega mediou o diálogo entre a oposição e Maduro que fracassou em 2019 e foram suspensos após os Estados Unidos intensificaram as sanções econômicas contra o país. Sem dar mais detalhes, o governo norueguês confirmou estar em contato com atores políticos e sociais venezuelanos.
A Venezuela enfrenta uma grave crise econômica, marcada por sete anos de recessão e quatro de hiperinflação. Os serviços públicos básicos estão em colapso e mais de 5 milhões de venezuelanos já deixaram o país em busca de melhores condições de vida.
cn (Efe, Lusa, Reuters, AFP)
Venezuela: um país sacrificado
Em 6 de dezembro, os venezuelanos vão às urnas eleger uma nova Assembleia Nacional em meio a uma crise econômica e política que se arrasta há anos. O cotidiano no país é marcado pela fome e pobreza.
Foto: Cristian Hernandez/AFP/Getty Images
Geladeira vazia
Em 2018, a Venezuela registrou a maior inflação da história do país: 65.374%. O Fundo Monetário Internacional (FMI) chegou a calcular uma inflação de 1.370.000% naquele ano para o país. Devido à falta de divisas, quase nenhuma mercadoria pode ser importada. Fazer compras em supermercados é quase impossível para a maioria dos venezuelanos por causa dos preços altos dos produtos.
Foto: Alvaro Fuente/ZUMA Press/imago images
Escassez geral
Com frequência, apenas aqueles que trazem seu próprio prato recebem algo para comer em centros de distribuição de refeições, como o da cidade de Valencia. Embalagens descartáveis faltam também para organizações de ajuda. A Venezuela, outrora rica, vem sofrendo há anos com uma grave crise de abastecimento. Falta de tudo: alimentos, medicamentos e produtos de higiene.
Foto: Juan Carlos Hernandez/ZUMA Wire/imago images
Crianças com fome
Em Caracas, as crianças estendem os braços desesperadas quando a Caritas ou outra organização de ajuda distribui alimentos. Muitas passam dias sem comer. De acordo com um estudo da Universidade Católica Andrés Bello, 96% das famílias na Venezuela vivem na pobreza. Destas, 64% vivem na pobreza extrema. Poucas famílias consomem carne, peixe, ovo, frutas e legumes.
Foto: Roman Camacho/ZUMA Press/imago images
Sistema de saúde próximo do colapso
Quem precisa ser internado, como no Hospital San Juan de Dios, em Caracas, tem que pagar do próprio bolso os medicamentos e materiais hospitalares, como seringas e catéteres. Mais de um terço dos 66 mil médicos venezuelanos deixaram o país. O número de outros profissionais de saúde também diminuiu, o que deixou o sistema de saúde à beira do colapso.
Foto: Dora Maier/Le Pictorium/imago images
Casas precárias
Uma criança brinca em sua casa construída com pedaços de madeira e barro. Esse tipo de construção remete ao período pré-colombiano. Com um aumento da pobreza extrema nas regiões rurais, esse método de construção está se tornando cada vez mais comum no país. Essas casas não têm eletricidade e nem água encanada.
Foto: Jimmy Villalta/UIG/imago images
Sem energia elétrica
Apagões paralisam o país frequentemente. A oposição cita a falta de investimentos, corrupção e escassez de manutenção de usinas como motivos para os apagões. Para economizar energia, o governo tomou medidas parcialmente drásticas. Ocasionalmente, a semana de trabalho de funcionários públicos é reduzida a dois dias úteis. A medida, porém, não surte efeito.
Foto: Humberto Matheus/ZUMA Press/imago images
Vida na rua
Quando falta energia, as casas ficam sem ventiladores e ar condicionado. Para suportar o calor, a população costuma passar o tempo na rua, como em Maracaibo. Apagões regionais ou nacionais são comuns no país há anos. O presidente Nicolás Maduro alega que eles são causados por atos de sabotagem da oposição contra a infraestrutura do país.
Foto: Humberto Matheus/ZUMA Press/imago images
Falta de água
No distrito Santa Rosa, em Valencia, o abastecimento de água foi interrompido mais uma vez. Venezuelanos usam a água acumulada numa poça na rua para se lavar. Em algumas regiões da Venezuela, há água encanada apenas três dias por semana e somente por algumas horas. Muitas famílias enchem todas as garrafas e baldes disponíveis para ter um pouco de água quando as torneiras secarem novamente.
Foto: Elena Fernandez/ZUMA Wire/imago images
Energia e água
Esgoto e produtos químicos tóxicos são jogados no rio Guaire. Água e eletricidade têm uma relação de dependência no país. Devido à falta de manutenção e energia, paredes de reservatórios do país racharam e o nível da água caiu. Com menos água, menos energia pode ser gerada nas hidrelétricas. Assim ocorrem apagões. Um círculo vicioso.
Foto: Adrien Vautier/Le Pictorium/imago images
Contaminado com petróleo
Os venezuelanos nadam em petróleo, mas não no bom sentido. No Lago de Maracaibo, pescadores utilizam como boias câmaras de ar de caminhões velhos cheias de óleo. A costa também é atingida por esse tipo de poluição: devido a vazamentos em oleodutos e uma pane numa refinaria próximo a Puerto Cabello, no nordeste do país, cerca de 20 mil barris de petróleo bruto teriam vazado no mar.
Foto: Miguel Gutierrez/Agencia EFE/imago images
Falta gasolina
Em Guacara, no estado de Carabobo, carros fazem filas há mais de duas semanas num posto de combustíveis e esperam por gasolina. A Venezuela precisa importar petróleo do Irã porque suas refinarias em péssimo estado quase não conseguem mais explorar o combustível fóssil. Há dez anos, eram produzidos no país 2,3 milhões de barris de petróleo ao dia. A atual produção, porém, caiu para menos da metade.
Foto: Juan Carlos Hernandez/ZUMA Wire/imago images
Em busca de gás
Em Caracas, alguns moradores esperam na rua com botijões de gás na esperança de que eles sejam reabastecidos em breve. Devido à escassez de gasolina e falta de eletricidade, muitos passaram a usar o gás de cozinha como fonte de energia. O aumento da demanda tornou o produto escasso.
Foto: Miguel Gutierrez/Agencia EFE/imago images
Heróis enfraquecidos
Imagens de Hugo Chávez, Fidel Castro, Evo Morales e Rafael Correa adornam o muro de uma casa em Caracas. Muitos venezuelanos adoram os líderes socialistas da Venezuela, Cuba, Bolívia e Equador como santos. Mas na Venezuela o socialismo do século 21 não foi capaz de cumprir sua promessa de prosperidade para todos.