Após ter aceitado com tranquilidade a derrota nas eleições parlamentares na Venezuela, Maduro volta mais combativo e descarta cooperar com a oposição. Em congresso do PSUV, ele reconheceu erros do próprio partido.
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O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, causou surpresa ao aceitar com serenidade a derrota nas eleições parlamentares do último domingo e exaltar o "triunfo da Constituição e da democracia". Mas menos de uma semana depois, ele retomou a retórica agressiva da campanha e mostra que não vai aceitar a derrota tão facilmente.
Maduro afirmou nesta quinta-feira (10/12), durante um congresso extraordinário do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), que a derrota do governo nas eleições parlamentares ocorreu devido a "erros" cometidos pela própria legenda governista.
Maduro afirmou que o PSUV foi prejudicado pela "guerra econômica" e por seus próprios erros, como a "falta de método político para tratar de situações juntamente com o povo e pela elitização que nossa liderança tem sofrido".
O primeiro projeto da nova Assembleia de maioria oposicionista é uma lei de anistia aos opositores presos pelo regime. Maduro, porém, já afirmou que irá rechaçar a iniciativa. O presidente disse que a oposição "já trata de usar o poder que obteve para desmontar a revolução bolivariana e aplicar um golpe definitivo à paz".
Ele disse que a investida dos "empresários monopolistas" começou há dois anos, dentro do que chamou de "guerra econômica", o que teria gerado descontentamento entre a população e, consequentemente, a derrota nas urnas.
Segundo Maduro, trata-se de um modelo desenvolvido "sobre circunstâncias reais da economia, que se soma ao esgotamento do modelo petroleiro e o bloqueio financeiro internacional que o país sofre. Foi um golpe calculado", disparou o presidente, que considerou a vitória da oposição uma "contrarrevolução antipátria".
A coalizão de oposição Mesa de Unidade Democrática (MUD) conquistou 112 das 167 cadeiras da Assembleia Nacional, enquanto o PSUV elegeu apenas 55 parlamentares. De acordo com dados do Conselho Nacional Eleitoral, o MUD se consagrou com 7,7 milhões de votos, o que representa 56,2% do total, contra 5,6 milhões (40,8%) do oficialismo.
A maioria absoluta permitirá aos opositores realizar plebiscitos, remover ministros, designar funcionários públicos e até destituir o presidente.
RC/dpa/rtr
Opositores neutralizados pelo governo venezuelano
Temendo derrotas em eleições legislativas, o governo do Partido Socialista Unido da Venezuela usa poder para afastar candidatos da oposição com boas chances de vitória. A DW listou alguns exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa/Sanchez
Controle sobre adversários
Pesquisas sugerem que apenas 25% da população da Venezuela aprova o desempenho do presidente, Nicolás Maduro. Temendo derrotas em eleições legislativas, o governo do Partido Socialista Unido da Venezuela usa o poder para afastar candidatos da oposição com boas chances de vitória. Opositores têm candidatura vetada ou são proibidos de ocupar cargos públicos.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gutierrez
Candidatura anulada
Em 21 de setembro, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anulou a candidatura parlamentar de Carlos Vecchio, líder do partido Vontade Popular. Apesar de estar exilado, Vecchio liderava a lista dos candidatos da oposição no estado de Monagas, onde competia diretamente com Diosdado Cabello, segundo na hierarquia do PSUV e atual presidente da Assembleia Nacional.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gutierrez
Afastamento público
A Mesa da Unidade Democrática (MUD), a aliança de partidos de oposição venezuelanos, comunicou em 18 de julho que Pablo Pérez foi proibido de ocupar cargos públicos por dez anos. Sua participação nas eleições legislativas em nome da MUD estava assim sendo revogada. Perez foi governador do estado de Zulia, de 2008 a 2012, e líder do partido oposicionista Um Novo Tempo.
Em 15 de junho, Enzo Scarano, ex-prefeito do município de San Diego, no estado de Carabobo, recebeu a notificação da Controladoria-Geral informando-o que ele foi proibido de ocupar cargos públicos nos próximos 12 meses. Scarano havia sido eleito em maio, nas primárias da oposição, como candidato à Assembleia Nacional no colégio eleitoral 3 de Carabobo.
Foto: Getty Images/AFP/F. Parra
Proibida de concorrer
María Corina Machado foi incluída em maio na lista de candidatos da MUD para as eleições parlamentares de dezembro. Poucos dias antes de neutralizar Enzo Scarano, o controlador-geral, Manuel Galindo, desabilitou Machado politicamente por um ano. Machado foi a deputada que obteve mais votos na Venezuela nas eleições legislativas de 2010.
Foto: Getty Images/AFP/F. Parra
Mais um afastamento
A MUD lançou Daniel Ceballos como candidato para as eleições parlamentares pelo colégio eleitoral 5 do estado de Táchira. Mas, no início de julho, o político foi proibido de ocupar cargos públicos por um ano. Ceballos foi prefeito do município de San Cristóbal, até que o Supremo Tribunal destituiu-o em 2014, em meio aos protestos antigovernamentais daquele ano.
Foto: picture alliance/Demotix
Sete anos de proibição
No início de maio, apenas alguns dias antes de a MUD celebrar as primárias, o ex-governador de Táchira César Pérez Vivas foi proibido de ocupar cargos públicos por um período de sete anos. "Eu não sou o primeiro nem serei o último a sofrer este tipo de arbitrariedade e injustiça", disse Perez Vivas, na época.
Foto: Getty Images/AFP/J. Watson
Politicamente desqualificado
O fundador do partido Um Novo Tempo, Manuel Rosales, foi prefeito de Maracaibo, governador do estado de Zulia e candidato presidencial – o principal opositor de Hugo Chávez em 2006 – antes de procurar asilo político no Peru. Em maio de 2015, ele foi nomeado pela MUD para as eleições legislativas. Um mês depois, Rosales foi politicamente desqualificado por sete anos e meio.