Regente ficou conhecido mundialmente por seu desempenho frente à Filarmônica de Nova York e por invocar o poder da música em momentos históricos.
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O maestro alemão Kurt Masur morreu neste sábado (19/12) aos 88 anos, nos Estados Unidos. Sua morte foi divulgada pela Orquestra Filarmônica de Nova York, da qual ele foi um de seus mais longevos diretores musicais.
Masur nasceu em 18 de julho 1927, em Brieg, na região da Silésia (hoje Brzeg, pertencente à Polônia). Descobriu sua paixão pela música ainda quando criança, aprendendo sozinho a tocar piano.
Por desejo de seus pais, formou-se como eletricista, antes de começar a estudar música em 1942, em Breslau (Wroclaw). Após a Segunda Guerra Mundial, mudou-se para Leipzig, na antiga Alemanha Oriental, para estudar piano, composição e regência orquestral.
Depois de trabalhar em Dresden, Schwerin e Berlim, Masur voltou a Dresden em 1970 para assumir a direção musical da tradicional sala de concertos Gewandhaus, cargo que ocupou por quase 30 anos.
Masur ficou conhecido por invocar o poder da música em momentos históricos. Em 1989, nos últimos dias da Alemanha Oriental, o número de participantes nas manifestações em prol da democracia em Leipzig crescia cada vez mais, e o governo comunista ameaçava oprimir o protesto pacífico, com mais de 8 mil policiais e soldados. O regente leu numa rádio local de Leipzig o manifesto Keine Gewalt (Sem violência), do qual foi coautor.
"Nossa preocupação e responsabilidade comuns hoje nos uniram. Somos afetados pelos acontecimentos em nossa cidade e buscamos uma solução. Pedimos que todos mantenham a calma para que um diálogo pacífico seja possível", dizia o texto.
Os grupos armados, os soldados do Exército Nacional Popular e a polícia recuaram. A Orquestra da Gewandhaus pôde prosseguir com o concerto marcado para aquela noite.
Crença no poder da música
O maestro regeu a Filarmônica de Nova York entre 1991 e 2002. Seu desempenho lhe rendeu reconhecimento mundial, ao elevar a reputação da orquestra e realizar 17 turnês mundiais.
Após os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, Masur regeu a Filarmônica nova-iorquina durante uma performance marcante do Réquiem Alemão de Brahms, numa cerimônia memorável transmitida para todo o país.
"Os anos de Masur frente à Filarmônica representam uma de suas eras douradas, em que o labor musical era pleno de comprometimento e devoção, com a crença no poder da música para unir a humanidade", afirmou Alan Gilbert, diretor musical da orquestra nova-iorquina. "As dimensões éticas e morais que ele trouxe como regente ainda são palpáveis nas performances dos músicos."
Ele também conduziu as Filarmônicas de Londres e Dresden e a Orquestra Nacional da França. Até a sua morte, ele continuou regente honorário da Orquestra Gewandhaus.
A Filarmônica de Nova York informou que o funeral de Masur será realizado em cerimônia particular, mas haverá também atos públicos para homenagear o maestro.
RC/dpa/afp/epd
Leipzig, cidade da música
Em 2015, cidade na Saxônia celebra seu milésimo aniversário, tanto como importante centro comercial quanto meca cultural. Músicos influentes moldaram a vida de Leipzig ao longo dos séculos.
Foto: picture-alliance/dpa
Emprego para "sopradores municipais"
Em 1479 o conselho de Leipzig contratou instrumentistas de sopro como "stadpfeifer". Diariamente os "sopradores municipais" tocavam na frente da prefeitura, dando um ar de corte real à cidade, e acompanhavam festas e os cultos nas igrejas. Além de salário fixo, tinham um traje de verão e um de inverno, moradia na Stadtpfeifergasse e uma casa de banho comunitária "com fornos sobre pés de pedra".
Foto: gemeinfrei
800 anos do coro de São Tomás
Invariavelmente associado ao compositor Johann Sebastian Bach, o renomado coro da Igreja de São Tomás foi fundado em 1212, sendo considerado um dos mais antigos do mundo. Hoje, seus cantores realizam turnês mundiais e são celebrados como astros do rock. Seu cotidiano é ditado por um cronograma de ensaios rigoroso e um estrito regime de internato.
Foto: picture-alliance/dpa
J.S. Bach: "kantor" e gênio musical
Em 1723 Johann Sebastian Bach foi apenas a terceira opção na escolha do "kantor" (diretor musical) da Igreja de São Tomás. Por sua vez, ele se queixava da "estranha e pouco inclinada à música" magistratura de Leipzig. Tais circunstâncias não impediram o gênio natural da Turíngia de alcançar a absoluta perfeição musical nos 27 anos que passou na cidade – hoje palco do famoso Festival Bach.
Foto: Bach-Archiv Leipzig
Ópera de longa tradição
Em 1692 o príncipe eleitor Johann Georg 3º decretou a construção de uma casa de ópera, para oferecer 15 récitas durante cada uma das três feiras anuais de comércio. Georg Philipp Telemann e Johann David Heinichen estiveram entre os compositores mais assíduos da Ópera de Leipzig, que se tornaria um importante reduto do romantismo musical. O atual prédio na Augustusplatz foi inaugurado em 1960.
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Orquestra Gewandhaus
"Res severa verum gaudium": "Alegria verdadeira é coisa séria". Em letras de pedra, a citação do filósofo romano Sêneca decora a sede da Gewandhausorchester. Fundada em 1743, a orquestra mudou-se em 1781 para o antigo salão de exposições dos comerciantes de têxteis. Daí o nome, que significa "casa de vestimentas". A atual sala de concertos da Gewandhaus, em frente à Ópera, foi inaugurada em 1981.
Foto: picture-alliance/F. Gentsch
Mendelssohn: mestre da leveza musical
Em 1835 a direção da Gewandhaus desejava um maestro progressista para a orquestra. Felix Mendelssohn-Bartholdy era considerado moderno, entre outros motivos, por reger com batuta, e não, como era hábito, com um rolo de papel de música. Seus concertos fizeram enorme sucesso. Na casa da Goldschmidtstrasse nº 12, onde o compositor morou até a morte, em 1847, aos 38 anos, fica o Museu Mendelssohn.
Foto: Archiv Mendelssohn-Haus
Robert Schumann: compositor e jornalista
Leipzig foi também lar de outro grande compositor, Robert Schumann. Aos 18 anos, ele começou a estudar piano com Friedrich Wieck. Suas ambições a uma carreira de virtuose se desfizeram após uma lesão no dedo, e ele se voltou para a composição. Em 1834, fundou a revista "Neue Zeitschrift für Musik", consagrando-se como um dos primeiros jornalistas musicais do mundo.
Foto: ullstein bild
Clara Schumann: estrela do piano
Friedrich Wieck iniciou a filha Clara na arte pianística. Aos 12 anos ela se apaixonou por Robert Schumann. O romance desencadeou anos de disputa entre os dois homens, só resolvida com a decisão judicial que permitiu o casamento de Robert e Clara. Ela sobreviveu o compositor em 40 anos. Antigo ponto de encontro de celebridades musicais, a residência Schumann, na rua Inselstrasse, é hoje um museu.
Foto: ullstein bild - Granger Collection
Primeiros passos de Wagner
Richard Wagner nasceu em 1813 em Leipzig, onde também frequentou a escola – quando não matava aula para secretamente aprender música. O compositor escreveu suas primeiras obras na cidade natal, que negligenciou longamente seu filho famoso. Até seu bicentenário, em 2013, quando foi inaugurada uma estátua realizada pelo escultor Stephan Balkenhol.
Foto: picture-alliance/dpa
Segunda era de ouro para a Gewandhaus
"Ele é como um mago diante da orquestra": assim o compositor Piotr Tchaikovsky louvava o maestro Arthur Nikisch. Meio século após a era Mendelssohn, o húngaro inaugurara uma segunda época de ouro para a Gewandhaus de Leipzig. Nikisch assumiu a direção musical da orquestra em 1895, aos 40 anos, permanecendo até a morte, em 1922.
Foto: picture-alliance/Imagno/Wiener Stadt- und Landesbibliothek
Masur: comprometido com a revolução pacífica
Em 1970, Kurt Masur foi nomeado regente titular da Gewandhaus. Sete anos depois, iniciava a construção da terceira sede da orquestra, e permaneceu no cargo por 26 anos. Em outubro de 1989 começaram em Leipzig os maiores protestos contra o governo socialista na história da Alemanha Oriental. O maestro se destacou como principal defensor de negociações pacíficas entre manifestantes e regime.