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Magnata da mídia é preso em Hong Kong

10 de agosto de 2020

Jimmy Lai, crítico do regime de Pequim e proprietário de jornal pró-democracia, foi detido com base em nova lei de segurança nacional imposta pela China.

Jimmy Lai, empresário do vestuário que fundou grupo de mídia pró-democracia em Hong Kong, é levado algemado por policiais
Jimmy Lai, empresário do vestuário que fundou grupo de mídia pró-democracia, é levado algemado por policiaisFoto: picture-alliance/dpa

O empresário Jimmy Lai, uma das figuras mais influentes do movimento pró-democracia em Hong Kong, foi preso nesta segunda-feira (10/08) com base na lei de segurança nacional imposta em junho por Pequim na antiga colônia britânica.

Sua detenção nesta segunda-feira foi revelada por um de seus assistentes. Outros dois funcionários e dois filhos do empresário foram presos. Mais tarde, em comunicado, a polícia anunciou sete detenções por suspeitas de conluio com forças estrangeiras e por fraude.

Em fevereiro, Lai, que também tem cidadania britânica, já havia sido acusado de "participar conscientemente de uma manifestação não autorizada".

Lai, de 71 anos, é proprietário da Next Digital, um dos maiores grupos de mídia de Hong Kong, que edita o jornal Apple Daily, crítico de Pequim e um dos mais lidos do território, e um site com o mesmo nome.

Em entrevistas, Lai, que fez fortuna nos anos 1980 no ramo do vestuário, disse que decidiu investir em negócios de mídia após a violenta repressão das autoridades chinesas aos estudantes pró-democracia na Praça da Paz Celestial (Tiananmen), em 4 de junho de 1989. Seu patrimônio é estimado em mais de 1 bilhão de dólares.

No fim da manhã desta segunda-feira, quase 200 policiais se deslocaram para a sede do grupo de comunicação em uma área industrial do bairro Lohas Park.

Policiais na redação do "Apple Daily"Foto: picture-alliance/AP Photo/Apple Daily

Jornalistas do Apple Daily transmitiram ao vivo no Facebook as imagens da operação, que mostram o chefe de redação da publicação, Law Wai-kwong, solicitando aos policiais o mandado de busca.

Chris Yeung, presidente da Associação de Jornalistas de Hong Kong, chamou a operação de "impactante e aterrorizante". "Isto não tem precedentes e era inimaginável há um ou dois meses", disse. Lai apareceu na redação sendo escoltado, algemado, por policiais.

Em meados de junho, duas semanas antes da promulgação da nova lei de segurança, Lai declarou que esperava ser detido. "Estou preparado para ir à prisão", disse à agência AFP. "Se isto acontecer, terei a oportunidade de ler os livros que ainda não consegui. A única coisa que posso fazer é permanecer otimista."

Na mesma entrevista à AFP, ele afirmou que a nova lei de segurança nacional deixara Hong Kong "de joelhos" e citou o temor de processos contra jornalistas.

Ele ainda advertiu que Hong Kong se tornaria tão corrupta quanto a China continental porque "sem o Estado de Direito, as pessoas que fazem negócios aqui não terão proteção".

Após a prisão desta segunda-feira, a imprensa estatal da China descreveu Lai como um "instigador de tumultos" que "espalhou ódio e boatos" e "difamou as autoridades de Hong Kong e de Pequim por anos".

A prisão ocorre em meio a um contexto de erosão das liberdades em Hong Kong, desde que Pequim passou a reagir de maneira mais enérgica contra o movimento pró-democracia na cidade, que organizou uma série de grandes protestos entre 2019 e 2020 contra a interferência do regime no território semiautônomo, que retornou à China em 1997.

A nova lei de segurança entrou em vigor no final de junho e prevê até prisão perpétua para qualquer coisa que a China considerar subversão, secessão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras.

Vários ativistas pró-democracia denunciaram que, na prática, a lei acaba com o princípio "um país, dois sistemas" em vigor desde a devolução do território pelos britânicos, e que em tese garantia até 2047 uma série de liberdades para os cidadãos de Hong Kong que não existem no restante da China.

JPS/afp/rtr

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