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ConflitosJordânia

Maior campo de refugiados sírios completa 10 anos

30 de julho de 2022

Com população de 80 mil pessoas, campo de Zaatari, na Jordânia, se tornou uma verdadeira cidade, com 1,8 mil lojas e 32 escolas. Apesar do sucesso, famílias enfrentam problemas como escassez de água e energia.

Foto aérea do campo
Quase 1,2 mil funcionários trabalham para 32 agências da ONU e ONGs para manter o local em funcionamentoFoto: Imago/ITAR-TASS

O maior campo de refugiados sírios, Zaatari, na Jordânia, completa 10 anos de existência, com uma população de cerca de 80 mil pessoas, 1,8 mil estabelecimentos comerciais, 32 escolas, 58 centros comunitários e oito unidades de saúde. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (29/07) pela ONU, em uma conferência de imprensa realizada em Genebra, na Suíça.

Segundo o representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) na Jordânia, Dominik Bartsch, cerca de 20 mil crianças já nasceram no local – uma média de 40 bebês por semana. Metade da população do local é formada por crianças, das quais muitas nunca cruzaram o perímetro do acampamento. 

No final de julho de 2012, cerca de 450 sírios fugindo dos combates em seu país cruzaram a fronteira para a vizinha Jordânia e se tornaram os primeiros habitantes do recém-inaugurado campo de refugiados de Zaatari.

Em um ano, a população saltou para 120 mil pessoas. Sem uma solução para o conflito à vista, as tendas que forneciam um teto temporário nas primeiras semanas e meses foram substituídas por milhares de abrigos de metal. 

"Os contêineres substituíram as tendas em 2013 e têm uma vida útil média de entre seis e sete anos. Por isso, muitos deles necessitam reparos urgentes", explicou Bartsch.

De acordo com uma avaliação recente, mais de 70% dos abrigos estão com paredes, pisos e tetos considerados abaixo do padrão – em 2021, cerca de 7 mil refugiados de Zaatari pediram ajuda para consertos. 

Metade da população de Zaatari é formada por criançasFoto: picture-alliance/AP Photo/R. Adayleh

Empreendedorismo

A avenida principal do acampamento, apelidada de "Sham Elysees", se estende por quase três quilômetros, abrigando desde lojas a oficinas de bicicletas. Todos os estabelecimentos são administrados por refugiados.

O empreendedorismo em Zaatari tem sido destaque em reportagens em todo o mundo. As relações comerciais com empresas e fornecedores locais da Jordânia, sobretudo na cidade vizinha de Mafraq, significa que há um fluxo constante de caminhões de entrega indo e vindo do acampamento.

Mas, manter o local em funcionamento e de forma organizada não é uma tarefa fácil. Quase 1,2 mil funcionários trabalham para 32 agências da ONU e ONGs. De proteção à saúde, de assistência financeira à manutenção de abrigos, a coordenação é fundamental para manter tudo funcionando sem problemas. O Acnur gerencia todas as atividades em cooperação com o governo da Jordânia.

Na área de saúde, por exemplo, aproximadamente 25 mil consultas médicas são realizadas todos os meses. Casos mais graves são encaminhados para hospitais jordanianos em cidades próximas.

O campo conta com sua própria usina de energia solar, inaugurada em 2017Foto: Getty Images/AFP/K. Mazraawi

Água e energia

Com a Jordânia reconhecida como o segundo país com maior escassez de água do mundo, esse elemento é um recurso precioso no campo de Zaatari. Embora todos os abrigos estejam conectados à rede de água, em uma pesquisa recente, 30% das famílias disseram que o abastecimento não é suficiente para todas as suas necessidades.

O campo conta com sua própria usina de energia solar, inaugurada em 2017. Embora originalmente projetada para fornecer eletricidade por quase 12 horas por dia, nos últimos meses, o Acnur teve que reduzir o fornecimento para 9 horas por dia, devido à disparada na demanda.

Sucesso, mas com problemas

O representante do Acnur salientou que, apesar do relativo sucesso do campo de refugiados como local de acolhimento de longa duração, ele apresenta problemas de manutenção decorrentes de uma década de funcionamento.

Além disso, dois terços das famílias estão altamente endividadas e quase todas (92%, segundo pesquisas do Acnur) disseram recorrer a medidas desesperadas para sobreviver, como reduzir as refeições diárias ou aceitar empregos em condições inseguras. Atualmente, apenas 4% dos refugiados em idade ativa em Zaatari têm permissão de trabalho para atuar na Jordânia.

Todas as casas contam com abastecimento de águaFoto: picture-alliance/dpa/J. Nasrallah

Esperança de voltar para casa

Segundo o Acnur, a maioria dos moradores do campo deseja retornar à Síria no futuro. Tradições são transmitidas através das gerações e ajudam a manter a cultura e a herança sírias vivas no campo.

"A população da Jordânia tem sido uma referência no acolhimento de refugiados", disse Bartsch, lembrando que o país abriga cerca de 675 mil pessoas que fugiram do conflito.

De acordo com dados das Nações Unidas, na última década mais de 10 milhões de sírios deixaram suas casas e fugiram da guerra civil para outros países ou para outras regiões dentro da Síria. Além disso, os primeiros dez anos da guerra na Síria deixaram mais de 300 mil civis mortos, segundo a ONU, o que significa aproximadamente 1,5% da população do país.

le (Lusa, ots)

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