Maior mostra individual de Ai Weiwei chega ao fim em Berlim
13 de julho de 2014Até o último momento, o próprio Ai Weiwei ainda tinha esperança de poder comparecer à sua retrospectiva no espaço de exposições Martin Gropius Bau, que se encerra neste domingo (13/07) na capital alemã. "Produzir obras de arte é uma coisa. Mas a interação com o público também faz parte da minha arte. O fato de isso não ser possível é uma sensação estranha", disse ele com pesar, em entrevista.
Mas as autoridades chinesas continuaram a agir com dureza: o passaporte do artista residente em Pequim – um dos mais conhecidos artistas contemporâneos do mundo e, além disso, ativista dos direitos humanos – até hoje não foi restituído, apesar da ação solidária de celebridades alemãs que se tornou manchete pouco antes da abertura da mostra.
A magia do bom artista
Para o diretor do Martin Gropius Bau, Gereon Sievernich, a exposição foi um projeto significativo. Como tal, ele afirmou estar duplamente satisfeito: devido ao grande sucesso de público, a retrospectiva teve de ser prorrogada até 13 de julho. E de forma impressionante, as filas em frente à entrada foram longas. Nos três meses que ficou em cartaz, mais de 200 mil pessoas visitaram a exposição de apelo internacional.
Isso superou até mesmo sucessos de bilheteria da casa, como as exposições da artista mexicana Frida Kahlo ou do escultor britânico-indiano Anish Kapoor. Entre os visitantes, também estiveram muitos chineses. "Na China, Ai Weiwei está proibido de expor. Qualquer diretor de museu que comprar algo do artista perde o seu emprego", explicou Sievernich.
Os trabalhos espetaculares do artista chinês também se adaptaram surpreendentemente bem aos espaços do antigo museu de artes e ofícios, embora Ai Weiwei nunca tenha entrado no prédio, relatou Susanne Rockweiler, que manteve um estreito contato por email com o artista no contexto da montagem da exposição.
A concepção da retrospectiva feita sob medida também mostra a sua qualidade como arquiteto e artista, acrescentou Rockweiler. "Somente assim as obras de arte puderam desenvolver a sua própria magia."
A principal atração foi, sem dúvidas, a instalação que preencheu todo o espaço do pátio interno com antigos banquinhos de madeira chineses da dinastia Ming. Imagens desse trabalho espetacular foram divulgadas milhares de vezes pelas redes sociais. Mesmo os visitantes que não conheciam o trabalho de Ai Weiwei viajaram a Berlim para ver a mostra. A mídia também deu destaque especial à retrospectiva.
O artista como estrela pop
Para a exposição berlinense, o conhecido artista chinês revogou, expressamente, a usual proibição de fotografar nos museus alemães e, assim, todo visitante estava autorizado a tirar fotos. Isso faz parte do conceito de Ai Weiwei: para o artista proibido de deixar a sua pátria, o intercâmbio através de redes sociais é vital.
"Naturalmente, devo à internet o fato de ser um fenômeno mundial atualmente", disse Ai Weiwei à revista Gala. "Comunico-me, diariamente, com a mesma quantidade de pessoas que o pintor Van Gogh conheceu durante toda a sua vida. Como artista, minha voz é ouvida – antes isso não seria possível."
Durante a exposição berlinense, essa forma de encenação midiática polarizou fortemente as opiniões: a maior parte dos visitantes ficou impressionada, principalmente pelas instalações em grande formato e pelos trabalhos de cunho político. A cena artística, por outro lado, manteve-se dividida.
Para o curador e especialista em China, Andreas Schmid, comercializar Ai Weiwei de tal forma como uma estrela, é antes algo duvidoso: "A mídia alemã avança sobre um único artista chinês e deixa os demais de lado. Devido ao destaque dado a ele, o olhar sobre a arte contemporânea chinesa não é nítido."
Mensagens nas entrelinhas
O diretor do espaço de exposições Sievernich, que visitou Ai Weiwei diversas vezes em seu ateliê em Pequim, disse não poder compartilhar essa opinião: "Considero Ai Wewei o mais importante artista chinês. Também o considero o mais chinês de todos os artistas chineses. Seus temas têm sempre ligação com sua terra natal." Não somente na Alemanha, mas também em outros países europeus, Ai Weiwei representa a atual produção artística chinesa, afirmou Sievernich.
Nesse contexto, a sua abordagem artística é fortemente influenciada por sua biografia: a sua prisão em 2011, a destruição de seu ateliê, o monitoramento radical por parte das autoridades de segurança chinesas 24 horas por dia e o recolhimento de seu passaporte. Tudo isso se espelha nos trabalhos apresentados na exposição em Berlim – e não pode ser generalizada para a situação de todos os artistas chineses.