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'Guerra cambial'

14 de outubro de 2010

Já se fala em "guerra cambial". China não permite que seu yuan se valorize e Brasil duplicou alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras. Enquanto isso, Banco Central Europeu não cede à pressão.

Cotação do yuan é a mais alta em cinco anosFoto: picture-alliance/dpa

Quando são pagas com uma moeda fraca, as mercadorias provenientes de um país com moeda forte tornam-se muito caras, aumentando o risco de não se encontrar um comprador. Esse aspecto do comércio internacional domina, no momento, principalmente o mercado de divisas. E, por esse motivo, teve início uma corrida pela desvalorização cambial entre diversas grandes economias.

Os métodos são variados. A China não desvaloriza sua moeda, mas também não permite que ela se fortaleça. Essa é uma decisão política. A cotação do yuan sobretudo em relação ao dólar é assunto de governo. Os chineses mantêm um regime cambial fixo ante a moeda norte-americana.

Para fomentar suas exportações, Pequim mantém a cotação do yuan 20% a 30% abaixo do seu real valor de mercado. As mercadorias chinesas são tão baratas, que os produtores norte-americanos não podem competir. Os Estados Unidos, por sua vez, respondem com uma política de enfraquecimento da moeda.

Brasil em jogo

Seu método não é a política cambial, mas a política monetária. No entanto, ao imprimir dinheiro ininterruptamente, o Banco Central norte-americano faz com que o dólar se desvalorize. E os muitos dólares que o Fed coloca no sistema financeiro têm que ser aplicados em algum lugar.

Os investidores com dólares passaram a aplicar, por exemplo, no Brasil. Para tal, tinham que trocar seus dólares por reais. Ao comprarem a moeda brasileira, provocaram uma valorização do real.

Para conter esta alta, o governo brasileiro taxou os investimentos estrangeiros no país e, mais recentemente, duplicou a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) – esse também é um método de pressionar a cotação de uma moeda.

No resto do mundo

A intervenção no mercado de divisas é o método clássico para o controle cambial, ou seja, o Banco Central de um determinado país vende a própria moeda para baixar a cotação.

As moedas da Suíça e do Japão estavam tão fortes, que ambos os países foram obrigados a lançar mais francos suíços e ienes japoneses no mercado, para não ameaçar suas exportações.

O Japão, além disso, cortou sua taxa básica de juros, que já era baixa, para zero. O peso argentino e o won coreano também estão depreciados. Em todos os lugares, os bancos centrais intervêm para controlar a valorização das moedas locais.

"Guerra cambial"

Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central EuropeuFoto: AP

Foi o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que usou pela primeira vez a expressão que agora está em todas as bocas: "guerra cambial". No mundo todo, políticos e bancos centrais temem que aconteça um cenário semelhante à crise econômica dos anos 1930. Na época, em consequência da Grande Depressão, cada país começou a agir por conta própria, o que resultou em um caos cambial e o comércio internacional entrou em colapso.

Por esse motivo, os EUA anunciaram que não irão relaxar no conflito cambial com a China e tentarão aumentar a pressão sobre Pequim. O tema dominou a reunião dos ministros das Finanças e chefes dos bancos centrais de todo o mundo, presentes ao encontro do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, na última semana em Washington.

A reunião acabou sem perspectiva, a curto prazo, de arrefecimento do conflito em torno das cotações controladas artificialmente. No início desta semana, todavia, a moeda chinesa atingiu a maior cotação desde o começo da reforma cambial do yuan, há mais de cinco anos. Segundo o governo norte-americano, tem-se a impressão que a China reagiu à pressão exercida durante o encontro em Washington.

Banco Central Europeu

O Banco Central Europeu (BCE), por sua vez, se encontra em uma situação difícil. Há uma semana, o BCE anunciou manter a taxa básica de juros da zona do euro em 1%. Na verdade, as autoridades financeiras europeias teriam preferido aumentar paulatinamente a taxa de juros, mantendo assim a estabilidade da moeda e controlando a inflação, que já se dirige para 2% ao ano.

Isso tornaria o euro mais caro. Os políticos e empresários europeus querem, todavia, um euro mais barato, o que aqueceria a conjuntura e tornaria as mercadorias europeias mais baratas no exterior. O BCE, no entanto, não cede à pressão.

Recentemente, o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, declarou que "mais do que nunca, acredito que as taxas cambiais devam refletir as bases da economia. O excesso na volatilidade das taxas cambiais tem um impacto nocivo para a estabilidade econômica e financeira".

CA/dpa/dw

Revisão: Roselaine Wandscheer

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