Alemães creem em melhores relações UE-EUA com Biden no poder
Melissa Sou-Jie Van Brunnersum rc
22 de agosto de 2020
Levantamento revela que 76% esperam avanços nas relações transatlânticas em caso de vitória do candidato democrata, após o aumento das tensões entre europeus e americanos durante o governo Trump.
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Mais de três quartos dos alemães acreditam que as relações da União Europeia (UE) com os Estados Unidos devem melhorar, caso o candidato democrata de oposição, Joe Biden, saia vencedor nas eleições presidências americanas em novembro, segundo informou neste sábado (22/08) o jornal alemão de relações exteriores Internationale Politik.
De acordo com o instituto Forsa, que consultou 1.009 pessoas, 76% dos entrevistados esperam melhoras nas relações bilaterais com Biden na presidência, enquanto 15% afirmam que não haverá mudanças significativas e apenas 3% avaliam que o relacionamento transatlântico deve piorar. A pesquisa será publicada em detalhes na edição de setembro do jornal alemão.
Biden foi confirmado nesta quinta-feira como o candidato do Partido Democrata, e disputará a presidência contra o atual ocupante da Casa Branca, o republicano Donald Trump.
Muitos eleitores que demonstravam pouco entusiasmo com a campanha do ex-vice-presidente passaram a enxergá-lo com maior interesse após a nomeação da senadora Kamala Harris para concorrer à vice-presidência ao lado de Biden.
Harris, filha de imigrantes, de pai jamaicano e mãe indiana, é a primeira mulher negra a concorrer ao segundo cargo mais alto do país por um dos partidos majoritários.
Uma pesquisa realizada pela Fundação Körber de Hamburgo no ano passado apontava que 87% dos alemães acreditavam que a reeleição de Trump seria prejudicial às relações teuto-americanas.
Outro estudo de novembro de 2019 do mesmo instituto em parceria com o Centro de Pesquisas Pew dizia que 64% dos alemães avaliavam como ruim as relações entre os dois países, enquanto 35% disseram preferir menos cooperação entre Berlim e Washington. Outros 23% avaliaram as relações bilaterais como sendo o principal desafio da política externa alemã.
Recentemente, um levantamento realizado pelo instituto YouGov concluiu que 47% dos alemães são favoráveis ao plano de Trump de remover em torno de 12 mil militares das bases americanas na Alemanha. Atualmente, os EUA mantêm no país europeu um contingente de 36 mil soldados.
A ministra alemã da Defesa, Annegret Kramp-Karrenbauer, chegou a afirmar à Fundação Körber que muitos no país sentem que os EUA "não são mais tão confiáveis quanto costumavam ser".
O Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR), que entrevistou 11 mil pessoas em nove nações europeias no mês de abril, revelou que o fraco desempenho dos EUA no combate à pandemia de covid-19 fez com que a perspectiva em relação ao país de Trump piorasse acentuadamente em uma parte significativa do continente.
Dois terços dos entrevistados na Dinamarca, Portugal, França, Alemanha e Espanha disseram que seus conceitos sobre os EUA pioraram durante a crise.
Os alemães (46%) e os franceses (42%) avaliaram que suas perspectivas sobre o país norte-americano se deterioraram acentuadamente. Apenas na Polônia e na Bulgária os entrevistados afirmaram que não houve mudança em suas opiniões.
Uma pesquisa do Centro Pew divulgada em janeiro revelou que apenas 13% dos alemães sentiam que podiam confiar na liderança de Trump.
História da presença militar americana na Alemanha
Desde a Segunda Guerra, o território alemão é ponto estratégico para as Forças Armadas americanas. Mas a parceria transatlântica, antes quase inabalável, ficou estremecida com a chegada de Trump à Casa Branca.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Roessler
Parceria em xeque
Quase 35 mil soldados americanos estão estacionados na Alemanha - a maioria deles no oeste e no sul do país. Nenhum outro país da Europa tem tantos soldados dos EUA em seu território. Mas isso está prestes a mudar: Donald Trump (na foto acima na base de Ramstein) quer retirar 12 mil militares da Alemanha. Uma ruptura para a aliança militar entre os dois países.
Foto: Reuters/J. Ernst
De inimigo a protetor
O ponto de partida da presença militar americana na Alemanha foi a Segunda Guerra Mundial. Os americanos haviam libertado a Alemanha do nazismo em 1945 junto com três outros aliados. Mas o antigo aliado de guerra, a União Soviética, rapidamente se tornou um novo inimigo. Na Berlim dividida, tanques americanos e soviéticos ficavam frente a frente.
Foto: picture-alliance/dpa
O soldado Elvis
Com os soldados americanos, a cultura americana também veio para a República Federal da Alemanha. O rei do rock, como Elvis Presley viria a ser chamado mais tarde, já foi um simples soldado americano. Em 1958, ele começou seu serviço militar na Alemanha. Na foto, ele acena aos fãs na estação de trem em Bremerhaven.
Foto: picture-alliance/dpa/L. Heidtmann
Residências próprias
Na foto, um militar americano em uma rua da área residencial do Exército dos EUA no aeródromo de Wiesbaden-Erbenheim. No entorno das bases americanas, há conjuntos habitacionais só para os soldados americanos e suas famílias. Isso muitas vezes dificultou a integração deles na população alemã. Em 2019, o Exército americano empregava 17 mil civis americanos na Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Dedert
Festas de rua
Apesar de os conjuntos habitacionais estarem relativamente isolados, havia encontros entre famílias americanas e alemãs desde o início. Nos primeiros anos, festas nas ruas de Berlim eram organizadas no verão. E no inverno, por exemplo, o Exército americano fazia festas de Natal para crianças alemãs. Houve também Semanas de Amizade Alemanha-EUA.
Durante a Guerra Fria, a localização da Alemanha Ocidental tornou-se particularmente importante: na foto, em 1969, os exercícios anuais da Otan na Alemanha estão em pleno andamento. Na época, os americanos realizavam extensas manobras militares em conjunto com a Bundeswehr. A Alemanha estava dividida. O inimigo era a União Soviética e os Estados do Pacto de Varsóvia.
Foto: picture-alliance/K. Schnörrer
Tensão nuclear
Em 1983, os mísseis Pershing 2 foram levados para a base americana em Mutlangen sob guarda pesada. Os mísseis com ogivas nucleares evoluíram para uma questão política: eles se destinavam a preencher uma lacuna na dissuasão do Pacto de Varsóvia por parte da Otan. O movimento pela paz, por outro lado, via tudo isso como uma ameaça e reagia com grandes manifestações.
Foto: picture-alliance/dpa
Discordância sobre Iraque
Cerca de 20 anos depois, o presidente dos EUA, George W. Bush, iniciava uma guerra contra o Iraque alegando que o país do Oriente Médio tinha armas de destruição em massa. O chanceler Gerhard Schröder rejeitou a participação de soldados alemães no conflito – e sabia ter o apoio da maioria dos eleitores. A disputa abalou a relação entre os dois governos.
Foto: picture-alliance/dpa/dpa_pool/A. Altwein
Alemanha: ponto estratégico
Mesmo após a retirada de 12 mil soldados americanos, como Trump pretende, a Alemanha permaneceria importante para os interesses estratégicos dos Estados Unidos. A base americana em Ramstein desempenha um papel-chave como a sede da Força Aérea dos EUA na Europa. As controversas missões de combate com drones contra supostos terroristas na África e na Ásia também são controladas a partir de Ramstein.