Pesquisa realizada pouco após atentado em Berlim revela que maior parte da população aprova atuação da polícia, mas tem pouca confiança nos serviços de inteligência. Partidos conservadores recuperam popularidade.
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A maioria dos alemães reagiu com relativa calma ao mais recente ataque terrorista no país, ocorrido num mercado Natal de Berlim em dezembro. Numa pesquisa realizada pelo instituto Infratest Dimap e divulgada nesta quinta-feira (05/01), 73% dos entrevistados disseram se sentir "mais seguros que inseguros", enquanto 26% afirmaram que se sentem "mais inseguros que seguros".
A pesquisa, encomendada pela emissora pública ARD e pelo jornal Die Welt, foi realizada apenas duas semanas depois do atentado em Berlim, perpetrado em 19 dezembro e no qual 12 pessoas foram mortas após um caminhão avançar sobre um mercado de Natal.
De modo geral, os alemães parecem ser bem menos temerosos do que muitos políticos imaginam, o que está bastante evidente no caso do medo de terrorismo. A aprovação a um aumento da vigilância por meio de câmeras diminuiu. As pessoas também estão menos atentas a indivíduos ou objetos suspeitos.
Apesar das recentes críticas às autoridades após o ataque em Berlim, a maioria dos alemães se sente suficientemente protegida contra ataques terroristas.
Embora tenha sido alvo de discussão devido a atitudes consideradas discriminatórias no final de 2016, a polícia foi bem avaliada na pesquisa. Há um ano, após a série de agressões sexuais durante o réveillon em Colônia, a corporação foi amplamente criticada. Agora, porém, parece que os cidadãos voltaram a confiar nos policiais: 88% das pessoas afirmam ter "grande" ou "muito grande" confiança na polícia.
Serviços de inteligência em baixa
As agências de inteligência, porém, não foram tão bem avaliadas. Mais da metade dos entrevistados expressaram "pouca" ou "absolutamente nenhuma" confiança no Departamento de Proteção à Constituição da Alemanha (BfV, serviço de inteligência interna) e no Departamento Federal de Investigações (BND).
No caso do BfV, é possível presumir que a baixa popularidade resulte da associação da agência com o caso do grupo extremista de direita Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU, na sigla em alemão), que executou nove pessoas de origem turca ou grega e uma policial alemã entre 2000 e 2007.
Quanto ao BND, o escândalo resultante do órgão atuação junto à Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) – que envolveu a espionagem das comunicações de países aliados – pode ter minado sua credibilidade perante os cidadãos. Mesmo assim, de modo geral, a confiança no governo federal aumentou em 6%.
Conservadores em alta
A segurança interna e a proteção contra ameaças terroristas são apenas o segundo tema de maior importância para os alemães: apenas 11% dos entrevistados acreditam que devem ser a prioridade maior do governo. Segundo a pesquisa, para 40% dos alemães, a questão de maior relevância é a crise migratória. A preocupação com o aumento da criminalidade aumentou 3%, e a com a concorrência no mercado de trabalho caiu 10% em relação ao levantamento anterior, de dezembro.
Segundo a pesquisa, em comparação com o mês anterior, aumentou o apoio tanto às legendas conservadoras que integram a coalizão governista – União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU) – quanto ao partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD). A CDU, da chanceler federal Angela Merkel, e a CSU, sua tradicional aliada na Baviera, recuperaram 2% do apoio popular, atingindo 37%. A popularidade da AfD aumentou na mesma proporção, chegando a 15%.
O Partido Social-Democrata (SPD) – legenda de centro-esquerda que é parceira da CDU/CSU na coalizão governista – e o Partido Verde perderam 2% do apoio popular cada um, ficando, respectivamente, com 20% e 9%. O A Esquerda manteve os 9% do levantamento anterior, enquanto o Partido Liberal Democrata (FDP) caiu um ponto, para 5%.
Cronologia: terrorismo na Alemanha
Há muito tempo a Alemanha já é alvo de atentados e planos de ataques de grupos extremistas. O mais recente aconteceu num mercado de Natal em Berlim, onde um caminhão avançou contra a multidão.
Foto: Reuters/W. Rattay
Dezembro de 2016: Berlim
Um caminhão invadiu a calçada e avançou contra o mercado natalino na praça Breitscheidplatz, em Berlim. Segundo a polícia, ao menos 12 pessoas morreram e 48 ficaram feridas.
Foto: Reuters/F. Bensch
Outubro de 2016: Leipzig
A polícia prendeu o refugiado sírio de 22 anos Jaber al-Bark após descobrir explosivos e equipamentos para fabricação de bombas caseiras no seu apartamento em Chemnitz, próximo a Leipzig, no leste da Alemanha. Ele foi acusado de planejar um ataque ao aeroporto de Berlim. Depois de dois dias na prisão, al-Bark se enforcou.
Foto: Polizei Sachsen
Julho de 2016: Ansbach
Em julho, o "Estado Islâmico" (EI) reivindicou a autoria do ataque executado pelo refugiado sírio Mohammed D., de 27 anos. D., que já havia jurado lealdade ao grupo extremista, detonou explosivos presos ao próprio corpo na entrada de um festival de música. O homem, que tinha problemas psiquiátricos, obteve instruções pelo celular até instantes antes do ataque.
Foto: picture alliance/AP Photo/D. Karmann
Julho de 2016: Würzburg
Um refugiado afegão de 17 anos atacou, com um machado e uma faca, passageiros de um trem regional em Würzburg, na Baviera. Várias pessoas ficaram feridas gravemente, incluindo quatro membros de uma família de Hong Kong. O jovem foi morto pela polícia. Embora o EI tenha reivindicado a autoria do atentado, para as autoridades não está claro se o rapaz mantinha contato com o grupo extremista.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Hildenbrand
Maio de 2016: Düsseldorf
Três suspeitos de integrar o EI foram presos nos estados de Renânia do Norte-Vestfália, Brandemburgo e Baden-Württemberg. Autoridades afirmam que dois dos homens planejavam detonar bombas presas ao próprio corpo, enquanto o terceiro integrante e um quatro jihadista, preso na França, planejavam matar pedestres com armas e explosivos. Os atentados aconteceriam em Düsseldorf, no oeste da Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Hitij
Abril de 2016: Essen
A polícia prendeu três pessoas após um ataque a bomba a um templo sikh em Essen, no oeste da Alemanha. O atentado aconteceu durante uma celebração de casamento. Três pessoas ficaram gravemente feridas. As autoridades identificaram os suspeitos a partir de imagens de câmeras de segurança. Entre os detidos está um jovem de 16 anos, que teria contato com o movimento salafista no país.
Foto: picture alliance/dpa/M. Kusch
Fevereiro de 2016: Hannover
A jovem Safia S., de 16 anos, alemã de ascendência marroquina, esfaqueou um policial na estação central de Hannover, cidade no norte da Alemanha. O agente foi gravemente ferido e precisou ser submetido a uma cirurgia. Segundo as autoridades, S. planejava se juntar ao EI na Síria.
Foto: Polizei
Fevereiro de 2016: Berlim
Numa operação simultânea em três estados, a polícia alemã desmantelou uma célula do grupo extremista EI. Os quatro suspeitos, da Argélia, planejavam um ataque na capital do país. Segundo a polícia, o plano ainda estava no início.
Foto: Reuters/F. Bensch
Abril de 2015: Oberursel
A polícia prendeu em Oberursel, no oeste alemão, um casal acusado de planejar um ataque durante uma corrida de ciclismo. Os dois, que seriam salafistas, mantinham no porão de casa uma bomba caseira. Por falta de provas de vínculo terrorista, o homem foi condenado a dois anos de prisão por falsidade ideológica e posse de arma e explosivos ilegais. As investigações contra a esposa foram arquivadas.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Dedert
Dezembro de 2012: Bonn
Uma mala com explosivos foi encontrada na estação central de Bonn, oeste do país. Para as autoridades, tratava-se de uma tentativa de ataque terrorista com motivações islamistas. Em 2013, quatro suspeitos de planejar um ataque contra o líder do grupo extremista de direita "Pro NRW" foram presos. Um deles teria colocado a bomba em Bonn. O processo contra o suspeito corre desde 2014, em Düsseldorf.
Foto: picture-alliance/dpa/Meike Böschemeyer
Abril de 2011: Düsseldorf
Três supostos membros do grupo terrorista Al Qaeda foram detidos em Düsseldorf, acusados de planejar um ataque a bomba no país. Em dezembro de 2011, um quarto suspeito foi preso. No final de 2014, os quatro homens foram condenados a vários anos de prisão.
Foto: picture-alliance/dpa
Março de 2011: Frankfurt am Main
As autoridades conseguiram impedir um atentado islamista no aeroporto de Frankfurt. Um albanês de Kosovo matou a tiros dois soldados americanos e deixou outros dois feridos. O homem foi condenado à prisão perpétua.
Foto: AP
Setembro de 2007: Oberschledorn
Em setembro de 2007, a organização islamista Grupo Sauerland foi desmantelada no oeste da Alemanha. Em 2010, seus quatro integrantes foram condenados por planejarem ataques em discotecas, aeroportos e instituições no país. As penas chegaram a 12 anos de prisão.
Foto: AP
Julho de 2006: Colônia
Na estação central de Colônia, no oeste do país, dois homens colocaram malas com explosivos em trens regionais que iam para Hamm e Koblenz, mas as bombas não detonaram. Em dezembro de 2008, um deles foi condenado à prisão perpétua.