Em maio, Datafolha apontou que 71% discordam que "sociedade seria mais segura se pessoas andassem armadas". Sete em cada dez também rejeitam facilitar acesso às armas e ideia de que "povo armado jamais será escravizado".
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O assassinato em Foz do Iguaçu (PR) do dirigente municipal do PT Marcelo Arruda por um bolsonarista durante uma festa de aniversário com temática pró-Lula, no sábado (09/07), trouxe à tona o receio de novos episódios de violência armada durante a campanha eleitoral deste ano.
Críticos de Jair Bolsonaro o acusaram de estimular "ódio político" e "fanatismo inconsequente", e lembraram das diversas vezes em que o presidente de extrema direita estimulou o armamento da população.
No crime em questão, tanto o perpetrador como a vítima exerciam profissões associadas ao porte de arma – Arruda era guarda municipal e o bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho, que está hospitalizado e teve sua prisão preventiva decretada, é agente penitenciário federal.
Mesmo assim, diversos indicadores apontam para o aumento do número de armas em circulação no país. O número de pessoas com certificado de registro de armas de fogo cresceu 474% no governo Bolsonaro, segundo o Anuário de Segurança Pública, com base em informações do Exército. Até 1º de julho de 2022, eram 674 mil registros ativos do tipo, que consideram apenas as atividades de caçador, atirador desportivo e colecionar (CAC). Em 2018, eram 117 mil registros ativos.
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7 em cada 10 discordam que armas trazem mais segurança
Apesar das iniciativas e falas de Bolsonaro a respeito, a maioria dos brasileiros rejeita as principais bandeiras pró-armas do presidente. Pesquisa Datafolha realizada no final de maio apontou que sete em cada dez brasileiros discordam da ideia de que armas trazem mais segurança para a população.
O levantamento do Datafolha envolveu três perguntas, que abordam diretamente ideias defendidas pelo presidente de extrema direita. Questionados sobre a frase "a sociedade seria mais segura se as pessoas andassem armadas para se proteger da violência", 72% dos entrevistados discordaram. Apenas 26% concordaram com a ideia. Ainda na campanha eleitoral, Bolsonaro defendeu flexibilizar o acesso a armas de fogo para que, segundo ele, a população pudesse "se defender".
Segundo o Datafolha, o percentual de rejeição às armas é maior entre mulheres (78%), entre pessoas que se autodeclaram pretas (78%) e entre aquelas que recebem até dois salários mínimos (75%). A ideia de que "armas trazem mais segurança", porém, encontra mais aceitação entre brasileiros do sexo masculino (32%), da região Norte (33%) e com renda familiar superior a dez salários mínimos (37%).
Os entrevistados também foram confrontados com a frase "é preciso facilitar o acesso às armas". Neste caso, 71% discordaram e apenas 28% concordaram.
Por fim, o Datafolha submeteu um dos bordões do presidente Bolsonaro: "o povo armado jamais será escravizado", que o presidente já repetiu em várias ocasiões. Mais uma vez, essa bandeira do presidente também é rejeitada pela maioria dos brasileiros. Segundo a pesquisa, 69% rejeitam a afirmação. A discordância é novamente maior entre mulheres (73%) e entre pessoas autodeclaradas pretas (73%).
Apenas 28% dos brasileiros concordam com o presidente nesta questão. O percentual é maior na região Norte (40%) e entre pessoas com renda superior a dez salários mínimos (41%).
Em dezembro de 2019, antes mesmo da posse de Bolsonaro, o Datafolha já havia apontado que seis em cada dez brasileiros afirmavam que a posse de armas deveria ser totalmente proibida, pois "representa ameaça à vida das pessoas".
Alguns dos projetos iniciais do presidente previam até mesmo o acesso facilitado a fuzis de assalto pela população, tal como ocorre nos EUA, país que Bolsonaro já se referiu várias vezes como "um exemplo" em relação a armas de fogo - ignorando que o número de homicídios por arma de fogo na sociedade americana é colossalmente superior ao de outras nações desenvolvidas.
jps/bl (ots)
Ataques de Bolsonaro contra a imprensa
"Encher tua boca de porrada", "você tem cara de homossexual", "imprensa lixo". Guerra do ex-presidente contra a mídia inclui ameaças, grosserias e xingamentos a comentários de cunho sexual contra profissionais da área.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Peres
"Encher sua boca de porrada"
Ao ser questionado por um repórter sobre depósitos de Fabrício Queiroz e sua mulher que teriam sido feitos na conta da primeira-dama, Bolsonaro respondeu: "Vontade de encher tua boca com porrada, tá? Seu safado". A ameaça gerou uma série de críticas e notas de repúdio.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Peres
Jornalista "bundão", "só usam caneta para maldade"
Um dia depois, ele voltou à carga contra a imprensa. “Aquela história de atleta, né, que o pessoal da imprensa vai pôr deboche, mas quando pega um bundão de vocês, a chance de sobreviver é bem menor. Só sabem fazer maldade, usar a caneta com maldade”, disse em evento no Palácio do Planalto. Bolsonaro disse que jornalista ‘bundão’ tem menos chance de sobreviver ao coronavírus do que ele próprio.
Foto: AFP/E. SA
"Grande mídia publica patifaria"
“É uma manchete canalha e mentirosa, e vocês da mídia, tenham vergonha cara. A grande parte publica patifaria”, acusou, comentando matéria da Folha de S. Paulo que noticiava a troca da superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro e suposta interferência de Bolsonaro no comando da Polícia Federal.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Lopes
"Vocês inventam tudo"
Em abril de 2021, Bolsonaro se negou a falar com a imprensa na saída do Palácio da Alvorada e atacou os jornalistas presentes: “Eu não vou falar com a imprensa, porque eu não preciso falar. Vocês não distorcem mais, inventam. O que eu li hoje…Inventam tudo. Então, podem continuar inventando aí”, disse o presidente.
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Você tem cara de homossexual"
"Você tem uma cara de homossexual terrível, mas nem por isso eu te acuso de ser homossexual", disse o ex-mandatário em dezembro de 2020, ao ser questionado sobre possível envolvimento de seu filho Flávio em suposto esquema de rachadinha quando era deputado no Rio de Janeiro.
Foto: picture-alliance/AP Photo/E. Peres
"Pergunta para a tua mãe"
Na mesma ocasião, ao ser indagado sobre se teria comprovante do empréstimo de R$ 40 mil que diz ter feito a Fabrício Queiroz para justificar depósitos do então assessor de Flávio na conta da primeira-dama, retrucou: 'Pergunta para tua mãe o comprovante que ela deu pro teu pai'.
Foto: Reuters/A. Machado
"Imprensa lixo chamada Globo"
“Essa imprensa lixo chamada Globo. Ou melhor, lixo dá para ser reciclado. Globo nem lixo é, porque não pode ser reciclada”, disse o então presidente depois da repercussão de sua fala “E daí?”, dita quando o Brasil superou a China no número de mortes pela covid-19.
Foto: Getty Images/AFP/E. SA
"Perguntando besteira"
"Vocês da Folha têm que entrar de novo numa faculdade que presta e fazer um bom jornalismo. E não contratar qualquer uma ou qualquer um pra ser jornalista. Pra ficar semeando discórdia e perguntando besteira", afirmou o ex-presidente, ao ser questionado por uma jornalista da Folha de S. Paulo sobre o contingenciamento nos orçamentos das universidades federais.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Frazão
"Ela queria dar um furo"
“Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim”, ironizou o ex-presidente sobre a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo. O comentário de cunho sexual se referia à acusação, realizada sem provas, de um ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa de que a jornalista teria tentado "se insinuar" sexualmente para ele em busca de informações.
Foto: Imago Images/Fotoarena/R. Pereira
"Canalhice da Globo"
“Isso é uma patifaria, TV Globo! É uma canalhice o que vocês fazem, TV Globo. Uma canalhice, fazer uma matéria dessas em um horário nobre, colocando sob suspeição que eu poderia ter participado da execução da Marielle Franco”, acusou, em outubro de 2019, após o Jornal Nacional noticiar que o porteiro de seu condomínio dissera que Bolsonaro autorizara a entrada suposto envolvido no crime.