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"Maioria nos EUA está comprometida com clima"

Sonya Angelica Diehn fc
13 de novembro de 2017

Após ascensão de Trump, governador da Califórnia, Jerry Brown, surgiu como um dos líderes em ações contra mudanças climáticas. Em entrevista à DW, ele fala dos desafios de levar causa adiante.

O governador da Califórnia durante a conferência climática em Bonn
O governador da Califórnia durante a conferência climática em BonnFoto: Getty Images/Lukas Schulze

Logo depois de Donald Trump anunciar a retirada americana do Acordo de Paris, o governador da Califórnia, Jerry Brown, surgiu como um dos líderes em ações contra as mudanças climáticas.

Em julho de 2017, ele e o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, lançaram a iniciativa America's Pledge (compromisso americano) para que cidades, estados e empresas atinjam o objetivo acordado na capital francesa de manter o aquecimento global abaixo da margem de 2ºC.

Em entrevista à DW durante a 23ª Conferência do Clima (COP23), em Bonn, na Alemanha, Brown explica algumas das ações que a Califórnia tem feito e diz que o estado pretende reduzir gradualmente a produção de petróleo. 

"Há uma grande parte dos EUA – muito além de uma maioria – que está comprometida com uma ação climática séria, porque nós sabemos que o aquecimento global é uma ameaça existencial", disse.

DW: Quais são os principais pontos do America's Pledge?

Jerry Brown: Antes de mais nada, é dizer ao resto do mundo que os EUA estão dentro do Acordo de Paris. Nós temos que limitar o aumento da temperatura ao teto de 2ºC, e vamos fazer isso não com o governo federal, porque ele está de férias em relação ao respeito às mudanças climáticas.

Mas os estados de Califórnia e Nova York estão dentro – como também de Washington, Óregon, Virgínia e Nova Jersey. E nós temos centenas de cidades, empresas e universidades. Nós representamos quase metade dos EUA.

Há uma grande parte dos EUA – muito além de uma maioria – que está comprometida com uma ação climática séria, porque nós sabemos que o aquecimento global é uma ameaça existencial. Se nós não alcançarmos isso imediatamente com passos decisivos, todos nós sofreremos, e todos os problemas que temos agora – de imigração a eventos climáticos extremos, e desigualdades – vão piorar. O America's Pledge está preenchendo uma lacuna deixada pela declaração de Donald Trump de que ele estava retirando os EUA do Acordo de Paris.

Você acredita que políticas governamentais a nível local e estadual podem compensar a diferença?

Não, elas não conseguem compensar a diferença. Mas, em vez de não fazer nada, nós estamos fazendo algo – pendente de um novo presidente ou pendente de uma experiência de conversão por parte de Donald Trump, porque sua declaração de que mudança climática é uma farsa criada pelo governo chinês é muito absurda. É como um conto de fadas, é difícil acreditar que Trump realmente acredite nisso. Talvez ele mude de ideia quando outras pressões surgirem.

O estado da Califórnia já está trabalhando nas reduções de emissões, e está fazendo progresso em setores como energia e mobilidade. Como está sendo planejada a descarbonização?

Nosso grande problema são os veículos: caminhões e carros, que perfazem mais de 40% dos nossos gases de efeito estufa. E, por isso, nós desejamos veículos de emissão zero. Nós queremos que montadoras alemãs percebam que desejamos veículos de emissão zero – nós não queremos esses veículos antigos a diesel. Nós desejamos o "novo" – é o que China e Califórnia querem. E, juntos, nós somos o maior mercado.

No evento America's Pledge, manifestantes disseram que o petróleo produzido na Califórnia está entre os mais sujos do mundo, e eles acusam o estado de ter políticas favoráveis ao petróleo. Existe o planejamento de eliminar gradualmente a produção de petróleo na Califórnia?

Sim, parte do petróleo – mas não todo ele – é bastante sujo. E, sim, nós seremos capazes de reduzir a produção gradualmente. Mas seria um pouco hipócrita dizer que, na Califórnia, onde nós temos controles ambientais rigorosos sobre a exploração de petróleo, a produção será encerrada e levada para outros países onde há pessoas muito mais pobres, com poluição muito pior e regras ambientais mais frouxas.

Nós temos ouvido esse argumento da Noruega – país produtor de petróleo que tem uma política climática muito positiva. Mas você não acha que isso vai então comprometer a reputação da Califórnia como um líder do clima?

Bem, se parássemos os 32 milhões de carros e disserem que você não pode usar petróleo, toda a economia entraria em colapso. Você teria uma revolução, haveria tiroteio nas ruas. Não se pode fazer isso, ninguém faria isso. Então, o que você está dizendo é: paralise a energia que alimenta todos esses carros, mas não pare os carros. E isso não é coerente. Agora, sim, nós vamos reduzir gradualmente o consumo de petróleo, mas nós temos um plano: um teto, um limite para as emissões de gases de efeito estufa.

Essa é a chave: reduzir o dióxido de carbono e outras emissões de gases de efeito estufa. E nós estamos fazendo isso. Nós diminuímos 5% neste ano, e temos um plano de reduzir 40% das emissões em comparação a 1990 até 2030 – um esforço muito heroico. E não é só uma coisa, são várias: [reduzir as emissões de gases de efeito estufa] requer energia renovável, prédios e aparelhos eficientes, um sistema de mercado de carbono e um combustível-padrão com baixo teor de carbono. É preciso fazer muitas coisas.

Esta é uma indústria muito enraizada, e nós precisamos de uma resposta muito sofisticada para reduzi-la. Eu entendo o que pessoas estão dizendo, mas isso é parte de um quadro muito mais amplo. E gestos não são úteis – nós precisamos de estratégias e ações.

A Califórnia tem um status legal especial nos EUA para poder estabelecer seus próprios regulamentos em áreas como poluição do ar – mas isso pode ser contestado pelo governo federal. Você acredita que isso acontecerá e, em caso afirmativo, qual poderia ser o resultado?

Bem, já fomos contestados antes: sob o governo Bush, as regras de emissão da Califórnia foram contestadas, e nós apenas superamos essa disputa com a eleição de Obama. Porém, no governo Obama, as regras da Califórnia entraram em vigor. Esse é um processo baseado em evidências – e Trump não pode simplesmente mudar uma regra. Ele tem que passar por um processo baseado em evidências. E os tribunais independentes assegurarão que esse processo seja honesto e tenha integridade. Eu acho que ele já terá ido muito antes que nossas políticas sejam modificadas de alguma forma.

Como você vê o futuro do governo federal dos EUA em relação ao Acordo de Paris?

Eu acredito que o governo federal não está fazendo nenhum progresso. Eles se tornaram como [o programa de humor da televisão americana] Saturday Night Live, ou um programa de comédia. Eles estão levando uma empresa de carvão para ensinar aos europeus como limpar o meio ambiente. É quase um "duplifalar" [como no livro 1984, de George Orwell]. Então, ninguém vai levar isso a sério. Mas a bolha dos radicais extremos que apoia Trump adora. É como dar carne vermelha para eles: eles mastigam e se sentem bem, mas não representam mais do que 35% a 40%.

E quanto ao argumento que mudar para energia renovável vai custar muitos empregos?

Esta é uma das histórias bobas que nós chamamos de "trumpismo". A verdade da questão é que a Califórnia – com sua forte energia renovável e com seu conjunto de políticas muito profundas de redução de gases de efeito estufa – tem uma economia que cresce mais rápido do que a média nacional. É uma prova muito boa de que energia verde, eólica, solar, nova rede elétrica, armazenamento de energia, carros elétricos, veículos a hidrogênio – tudo isso cria novos empregos, os empregos do futuro.

O que se pode fazer? Qual é a sua mensagem?

As pessoas podem votar em candidatos que levam as mudanças climáticas a sério. Em segundo lugar, eles podem mudar seu próprio comportamento, seja o carro que eles dirigem, ou com que frequências elas caminham, as refeições, a maneira como eles cozinham, as tecnologias que eles compram, até mesmo algo simples como as lâmpadas. Todos nós podemos fazer a nossa parte – mas, individualmente, não será suficiente. Nós precisamos de liderança coletiva por parte dos governos em todos os lugares para realmente descarbonizar o mundo. E é nisso que eu tenho me empenhado.

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