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Mais antigo da Alemanha, zoo de Berlim faz 175 anos

Sabine Peschel
1 de agosto de 2019

Desde 1844 o parque reflete as condições sociais de cada época. Além de animais, lá também já foram expostos "povos exóticos" na época colonial. Gorila Bobby e o urso-polar Knut tornaram-se parte da memória da cidade.

Berliner Zoo - Das Elefantentor
Portão dos Elefantes marca a entrada do Zoo de BerlimFoto: picture-alliance/dpa/J. Kalaene

A ideia de montar um jardim zoológico em Berlim segundo o modelo de Londres correspondia ao zeitgeist de meados do século 19, quando a formação intelectual e moral eram ideais burgueses. Entre os defensores da ideia estiveram o mundialmente famoso naturalista e explorador Alexander von Humboldt e o paisagista Peter Joseph Lenné.

Quando foi fundado, há 175 anos, esse lugar para observar e estudar animais era "jwd" (janz weit draussen: "bem lá longe") para os berlinenses. Com essa abreviatura dialetal eles designam algo que considerem afastado demais do centro dos acontecimentos – e, portanto, não tem grande importância.

Isso se aplicava ao Zoológico de Berlim quando ele abriu suas portas, em 1º de agosto de 1844. Pois, para chegar a ele, os visitantes precisavam atravessar vias de difícil acesso fora da cidade, através do parque Tiergarten, o antigo local real de caça, diante do Portão de Brandemburgo.

Pouco atrativa também era em seus primórdios a oferta do novo zoológico. O rei prussiano Friedrich Wilhelm 4° entregou 47 animais como acervo inicial à instituição: macacos, ursos e pássaros. A maioria vinha do zoológico real da Ilha do Pavão, que havia sido desmantelado. Hoje o parque de Berlim, com seus 20 mil animais de quase 13 mil espécies, é a coleção zoológica mais diversificada do mundo.

Animas eram mostrados em edifícios "exóticos", como a Casa dos Elefantes, vista aqui em 1879Foto: picture-alliance/akg-images

Sua história reflete o desenvolvimento da Alemanha, de um reino prussiano a um país unificado, explica o historiador Clemens Maier-Wolthausen, em entrevista à DW. Para seu livro Hauptstadt der Tiere (Capital dos animais), ele pesquisou a história do mais antigo parque de animais alemão.

"Pode-se ver claramente que o zoológico fundado em 1844 permaneceu pequeno e insignificante nas primeiras três décadas de sua existência, não celebrou grandes sucessos e não atraiu muitos visitantes." Ele tampouco não gerou muito lucro para a empresa de capital aberto que o administrou a partir de 1847.

"Foi preciso o boom do final do século", disse Maier-Wolthausen, "a crescente importância da cidade de Berlim e a industrialização que se expandiu muito fortemente a partir de 1870, para que o Zoo de Berlim realmente se tornasse um dos principais institutos zoológicos da Europa. Foram necessários os cidadãos e comerciantes que apoiaram e amaram a instituição."

Na Alemanha, a época que sucedeu à vitória sobre a França na Guerra Franco-prussiana (1870-1871) e a subsequente unificação do país foi um período de grande prosperidade econômica: fundaram-se empresas, construíram-se fábricas e as cidades foram modernizadas, valendo-lhe a título Gründerzeit (época dos fundadores).

Famoso Portão dos Elefantes em cartão-postal de 1911, por Franz KuhnFoto: picture alliance / IMAGNO/Austrian Archives

No início da década de 1870, construíram-se então no zoo prédios de aparência exótica, como a casa dos antílopes com quatro minaretes, a casa de elefantes indiana e o famoso Portão dos Elefantes da entrada. Também foram erguidos palácios mouriscos, casas de madeira e enxaimel: os prédios deveriam ser representativos das terras estrangeiras de onde vinham os animais.

Restaurantes e espetáculos ricamente decorados tornaram o local ainda mais popular. O novo aquário não só exibia peixes, moluscos e crustáceos marinhos, mas também aves e répteis. Em 1875, até mesmo o primeiro gorila exibido na Europa, Mpungu, mudou-se para o aquário, só sobrevivendo um ano e meio.

Mas não foram apenas os muitos novos edifícios e a crescente população de animais a atraírem cada vez mais visitantes: a história colonial também deixou sua marca.

Em 1878, chegou ao zoológico a primeira das "exibições etnológicas" (mais tarde conhecidas como "zoos humanos"): um pequeno grupo de "esquimós" da etnia inuit. Após esse sucesso, foi a vez de núbios e lapões. Até 1931, lá se exibiam povos estrangeiros através de "atores", por último mulheres da região do Lago Chade, na África Central, anunciadas na imprensa como Lippennegerinnen (literalmente "negras beiçudas") .

"Zoo humano": nativos da África Oriental exibidos em Berlim, 1920Foto: picture-alliance/akg-images

Anos dourados, duas guerras e o futuro

Depois da virada do século, o parque se tornara cada vez mais um centro da vida berlinense, e instituição educacional e recreativa muito frequentada. Ao começar a Primeira Guerra Mundial, em 1914, já era mundialmente famoso, com um contingente de 3.500 animais. O conflito impossibilitou o comércio internacional de animais. Depois da guerra, a inflação foi o golpe de misericórdia: em 1º de outubro de 1922 o zoológico fechou suas portas por seis meses.

Após a estabilização da moeda em 1924, chegou a época de ouro para o parque em Berlim: lá nasceu até mesmo o primeiro filhote de primata em zoológico. Infelizmente a mãe chimpanzé morreu pouco depois.

Em 1928 aconteceu a primeira procriação de elefantes bem-sucedida, e os berlinenses acorreram em massa. Porém o evento principal do ano foi a chegada do gorila Bobby, que entrou no coração dos berlinenses. Sua imagem ilustra o logotipo do zoológico até hoje.

Durante a era nazista, os diretores, o conselho administrativo e os funcionários da instituição colocaram-se a serviço dos novos governantes. Acionistas judeus foram expropriados, o "marechal do Reich" Hermann Göring recebeu de presente jovens leões como animais de estimação. Com a Segunda Guerra Mundial, irrompeu uma nova catástrofe: o zoológico foi reduzido a escombros. Apenas 91 dos 3.715 animais sobreviveram à guerra.

Contudo, mesmo nos difíceis anos do pós-guerra, a população demonstrou grande lealdade a seu zoológico. Um dos poucos animais de grande porte a sobreviverem às bombas da Segunda Guerra e às batalhas em Berlim foi o hipopótamo Knautschke. "Graças às doações de comida dos berlinenses, ele também sobreviveu ao sítio soviético", registra Maier-Wolthausen. "Ele se tornou um símbolo da própria vontade de subsistir deles."

Ursinho Knut conquistou corações por todo o mundoFoto: AP/Archiv Zoo Berlin

Repetidas vezes desenvolveu-se um relacionamento intenso entre determinados animais e os berlinenses. "Acho que é a história da cidade dividida, da cidade sitiada, da cidade onde o zoológico era um oásis verde, que fez os berlinenses desenvolverem uma grande identificação com seus companheiros de sofrimento irracionais, que passaram pelo mesmo que eles", presume o historiador.

"Quando os primeiros pandas chegaram à parte ocidental da cidade dividida, no começo dos anos 1980, para muitos berlinenses eles eram um símbolo de que a cidade não fora esquecida", apontou o especialista.

Em 1955 foi criado um novo zoológico em Berlim Oriental, em parte graças ao trabalho voluntário dos berlinenses. Após a queda do Muro de Berlim, os dois jardins zoológicos foram unidos sob o mesmo teto administrativo. O Jardim Zoológico de Berlim atrai 5 milhões de visitantes por ano. Astros peludos, como o ursinho-polar Knut, conquistaram corações por todo o mundo.

Num futuro próximo, está planejada a reabertura do edifício de animais de presa, com amplas instalações internas e externas. A intenção é exibir as feras em seu ambiente natural, dentro de um espírito contemporâneo.

"O próximo grande projeto será a ampliação e reforma completa do alojamento dos rinocerontes", informa Maier-Wolthausen, mostrando várias espécies do paquiderme numa extensa selva. "O objetivo do projeto é, sobretudo, aumentar entre os visitantes a conscientização sobre a natureza e a proteção das espécies ".

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