Mais de 2 mil migrantes resgatados no Mediterrâneo
15 de abril de 2017
Número deve aumentar, já que operações da Guarda Costeira italiana e ONGs estão em andamento. Organização Médicos sem Fronteiras rebate crítica de agência europeia de que traria migrantes para Europa "como táxis".
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Mais de 2 mil migrantes foram resgatados até a tarde deste sábado (15/04) na parte central do Mar Mediterrâneo e esse número tende a aumentar, já que várias operações da Guarda Costeira italiana e de organizações de ajuda humanitária estão em andamento.
Segundo a Guarda Costeira, as pessoas haviam tentado chegar à costa italiana em três pequenos barcos de madeira e 16 botes infláveis, num dos quais estava o corpo de um jovem.
O corpo do adolescente foi encontrado no fundo da lancha durante o resgate realizado pela embarcação Aquarius, operada pela organização Médicos sem Fronteiras (MSF), comunicou a ONG em sua conta no Twitter.
Prudence e Aquarius, as duas embarcações da MSF no Canal da Sicília, a faixa de mar que separa a Itália da costa da África, se ocuparam do resgate de 1.145 migrantes, mais da metade das pessoas salvas até agora.
Aumento de 30%
A Guarda Costeira italiana, que coordena as operações de resgate naquela área do Mediterrâneo, afirmou que o número de pessoas socorridas deve aumentar, já que estão sendo realizadas várias operações que durarão todo o dia.
Segundo os dados divulgados pela Fundação italiana ISMU, instituto independente que estuda os fenômenos migratórios, nos primeiros três meses do ano chegaram à Itália 24 mil imigrantes, dos quais 2.293 menores não acompanhados.
Esses números representam um aumento de 30% nas chegadas de migrantes à Itália em relação ao mesmo período do ano anterior, quando 18 mil refugiados arriscaram a perigosa viagem marítima.
Críticas da Frontex
Recentemente, a Frontex, agência europeia de proteção de fronteiras externas e costas, criticou as missões de resgate de navios de organizações privadas ao largo da costa líbia, afirmando que, assim, as pessoas seriam estimuladas à fuga através do Mediterrâneo. Segundo a agência europeia, tais navios trariam migrantes para a Europa "como táxis".
A organização Médicos sem Fronteiras rebateu a crítica nesta sexta-feira. Em mensagem no Twitter, MSF disse: "Quantos refugiados teriam partido hoje se nós não estivéssemos aqui, Frontex? Talvez a mesma quantidade. Quantos teriam morrido? Muito mais."
Refugiados da África, mas também do Oriente Médio, partem da Líbia para uma perigosa travessia de 300 quilômetros através do Mediterrâneo até a costa italiana. De acordo com organizações internacionais, atualmente, encontram-se nesse país entre 800 mil e 1 milhão de pessoas que querem chegar à União Europeia. A maioria delas vem de Estados da África Subsaariana.
CA/efe/afp
Como começou a crise de refugiados na Europa
Da escalada da violência no Médio Oriente e na África a crises sociais e políticas na Europa, veja como a União Europeia busca solucionar seus problemas.
Foto: picture-alliance/dpa
Fugindo da guerra e da pobreza
No fim de 2014, com a guerra na Síria entrando no quarto ano e o chamado "Estado Islâmico" avançando no norte do país, o êxodo de cidadãos sírios se intensificou. Ao mesmo tempo pessoas fugiam da violência e da pobreza em outros países, como Iraque, Afeganistão, Eritreia, Somália, Níger e Kosovo.
Foto: picture-alliance/dpa
Em busca de refúgio nas fronteiras
A partir de 2011, um grande número de sírios passou a se reunir em campos de refugiados nas fronteiras com a Turquia, o Líbano e a Jordânia. Em 2015, os campos estavam superlotados. A falta de oportunidade de trabalho e escolas levou cada vez mais pessoas a buscarem asilo em países distantes.
Foto: picture-alliance/dpa
Uma longa jornada a pé
Estima-se que 1,5 milhão de pessoas se deslocaram da Grécia para a Europa Ocidental em 2015 através da chamada "rota dos Bálcãs" . O Acordo de Schengen, que permite viajar sem passaporte em grande parte da União Europeia (UE), foi posto em xeque à medida que os refugiados rumavam para as nações europeias mais ricas.
Foto: Getty Images/M. Cardy
Desespero no mar
Dezenas de milhares de refugiados também se arriscaram na perigosa jornada pelo Mar Mediterrâneo em barcos superlotados. Em abril de 2015, 800 pessoas de várias nacionalidades se afogaram quando um barco que saiu da Líbia naufragou na costa italiana. Seguiram-se outras tragédias. Até o fim daquele ano, cerca de 4 mil refugiados teriam morrido ao tentar a travessia do norte da África para a Europa.
Foto: Reuters/D. Zammit Lupi
Pressão nas fronteiras
Países ao longo da fronteira externa da União Europeia enfrentaram grandes problemas para lidar com o enorme número de pessoas que chegavam. Foram erguidas cercas nas fronteiras da Hungria, da Eslovênia, da Macedônia e da Áustria. As leis de asilo político foram reforçadas, e vários países da área de Schengen introduziram controles temporários nas fronteiras.
Foto: picture-alliance/epa/B. Mohai
Fechando as portas abertas
A catastrófica situação dos refugiados nos países vizinhos levou a chanceler federal alemã, Angela Merkel, a abrir as fronteiras. Os críticos da "política de portas abertas" de Merkel a acusaram de agravar a situação e encorajar ainda mais pessoas a embarcarem na perigosa viagem à Europa. Em setembro de 2016, também a Alemanha introduziu controles temporários na sua fronteira com a Áustria.
Foto: Reuters/F. Bensch
Acordo com a Turquia
No início de 2016, UE e Turquia assinaram um acordo prevendo que refugiados que chegam à Grécia podem ser enviados de volta para a Turquia. O acordo foi criticado por grupos de direitos humanos. Após o Parlamento Europeu votar pela suspensão temporária das negociações sobre a adesão da Turquia à UE, em novembro de 2016 a Turquia ameaçou abrir as fronteiras para os refugiados em direção à Europa.
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Que perspectivas?
Com o acirramento do clima anti-imigração na Europa, os governos ainda buscam soluções para lidar com a crise de refugiados. As tentativas de introduzir cotas para distribuí-los entre os países da UE em grande parte falharam. Por outro lado, não há indícios de que os conflitos nas regiões de onde eles vêm estejam chegando ao fim, e o número de mortos na travessia pelo mar continua aumentando.