Russos saíram às ruas para protestar contra a guerra na Ucrânia, mas foram reprimidos fortemente pelas forças do governo. No 10º dia da invasão ordenada por Putin, total de presos em manifestações supera 13 mil .
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O governo russo continua a reprimir fortemente os protestos de cidadãos contra a guerra na Ucrânia. Neste domingo (06/03), foram detidos pelo menos 4.640 participantes em 65 cidades da Rússia, segundo dados do projeto de mídia russo OVD-Info, que monitora detenções em protestos oposicionistas.
Vídeos nas redes sociais, postados por opositores do regime do Kremlin e blogueiros, mostram milhares de ativistas entoando "Não à guerra!" e "Tenham vergonha!". Vê-se também a polícia de Ecaterimburgo, no distrito dos Urais, espancando um manifestante caído no chão. Um mural protagonizado pelo presidente russo, Vladimir Putin, foi pichado.
O Ministério russo do Interior confirmou ter detido 1.700 cidadãos em Moscou e 750 em São Petersburgo – as duas maiores metrópoles do país –, além de 1.061 em outras cidades, sobretudo Ecaterimburgo e Novosibirsk, na Sibéria.
Assim, foram mais de 13 mil detenções em passeatas consideradas ilegais pelo governo, desde 24 de fevereiro, quando Putin ordenou sua assim chamada "operação militar especial" na Ucrânia.
"Os parafusos estão sendo apertados até o fim; essencialmente estamos testemunhando censura militar", comentou a porta-voz da OVD-Info Maria Kuznetsovam. "Estamos vendo protestos bastante grandes hoje, mesmo em cidades siberianas onde só raramente há tais números de detenções", completou.
Protesto no Cazaquistão
A agência de notícias Reuters cita vídeos nas redes sociais que também mostrariam uma manifestação na cidade de Almaty, no Cazaquistão, contra a guerra na Ucrânia, reunindo 2 mil participantes. A multidão brada slogans como "Não à guerra!", agitando bandeiras ucranianas. Balões azuis e amarelos foram colocados na mão de uma estátua de Vladimir Lenin (1870-1924), na praça de onde partiu a passeata. A veracidade das imagens, contudo, não pôde ser verificada.
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A última vez que a Rússia presenciou manifestações destas dimensões foi em janeiro de 2021, quando milhares exigiram a libertação do líder oposicionista Alexei Navalny, preso logo após seu retorno da Alemanha, onde passara cinco meses se recuperando de um envenenamento com o gás da era soviética Novichok. Atualmente, ele cumpre dois anos e meio de prisão, sob ameaça de uma pena de até 15 anos.
Na quarta-feira, o crítico do Kremlin conclamara seus compatriotas a se manifestarem diariamente contra a guerra, sem medo de serem detidos. Navalny frisou que a Rússia não podia ser uma "nação de covardes assustados" e tachou Putin de "czar insano".
Na sexta-feira, o chefe do Kremlin assinou uma lei prevendo penas de prisão de até 15 anos para quem publique o que o governo classifica como "notícias falsas" sobre as Forças Armadas russas.
av/le (Reuters,AFP,AP)
A reação do setor de cultura à invasão russa da Ucrânia
Do Festival Eurovisão a Cannes, a esfera cultural mostra desaprovação à invasão da Ucrânia por Vladimir Putin cancelando a participação de artistas russos em seus eventos. Alguns exemplos.
O Festival de Cinema de Cannes anunciou em 1º de março que "não receberia delegações oficiais russas" ou pessoas ligadas ao governo do país. Vários festivais de cinema reagiram da mesma forma, incluindo Glasgow e Estocolmo. Locarno anunciou que não participaria de um boicote, enquanto Veneza oferecerá exibições gratuitas de um filme sobre o conflito de 2014 na região de Donbass.
Foto: REUTERS
Rússia barrada no Festival Eurovisão
A União Europeia de Radiodifusão, que organiza o Festival Eurovisão da Canção, declarou em 25 de fevereiro que "à luz da crise sem precedentes na Ucrânia, a inclusão de uma entrada russa no concurso deste ano traria descrédito à competição". Enquanto isso, o grupo de folk-rap da Ucrânia Kalush Orchestra (foto) emergiu como um dos favoritos a vencer o festival de música mais popular da Europa.
Foto: Suspilne
Óperas interrompem colaborações com o Bolshoi
A Royal Opera House de Londres cancelou a temporada de verão do Balé Bolshoi de Moscou. A encenação de "Lohengrin" da Metropolitan Opera, de Nova York, coproduzida com o Bolshoi, também será afetada. Até então leal a Putin, o diretor da aclamada companhia de balé, Vladimir Urin, está entre os signatários de uma carta em oposição à guerra.
Muitos artistas russos condenaram a guerra. Mas, apesar de um ultimato da Filarmônica de Munique para se posicionar publicamente, o maestro Valery Gergiev permaneceu em silêncio sobre a invasão liderada por Putin, seu amigo desde 1992. Em 1º de março de 2022, a orquestra alemã demitiu seu aclamado maestro. Vários concertos na Europa e nos EUA também foram cancelados.
Foto: Danil Aikin/ITRA-TASS /imago images
Soprano Anna Netrebko é retirada das óperas
A Metropolitan Opera de Nova York (MET) e a Ópera Estatal de Berlim encerraram sua colaboração com a estrela da ópera russa Anna Netrebko, por ela se recusar a "repudiar seu apoio público a Vladimir Putin". Ela é "uma das maiores cantoras da história do MET", disse o diretor da casa de ópera, Peter Gelb, "mas com Putin matando vítimas inocentes na Ucrânia, não havia outro caminho a seguir".
Foto: Roman Vondrous/CTK/imago images
Museus cortam laços com oligarcas russos
Em meio a pedidos para que instituições culturais removam aliados de Putin de seus conselhos, museus estão cortando laços com benfeitores russos. O bilionário Vladimir Potanin deixou o conselho de curadores do Museu Guggenheim (foto), em Nova York, segundo o jornal The New York Times. O site Artnet relata que o magnata bancário Petr Aven deixou o cargo de administrador da Royal Academy em Londres.
Foto: Han Fang/Xinhua/imago images
Hermitage Amsterdam rompe relações com São Petersburgo
Amsterdã abriga o maior satélite do célebre Museu Hermitage de São Petersburgo. Até agora, nunca havia comentado sobre as ações políticas de Putin, mas "com a invasão do exército russo à Ucrânia, uma fronteira foi cruzada". "A guerra destrói tudo. Até 30 anos de colaboração", afirmou o museu holandês em 3 de março. O local também fechou a exposição que estava em cartaz, "Russian Avant-Garde".
Foto: Richard Wareham/imago images
Artistas russos desistem da Bienal de Veneza
Nem sempre são os organizadores de eventos que boicotam os artistas russos. Na Bienal de Veneza, que começa em 23 de abril, são os artistas e o curador da exposição russa que se demitiram, afirmando no Instagram que "o Pavilhão da Rússia permanecerá fechado" em protesto contra os civis mortos por mísseis e manifestantes russos sendo silenciados.
Foto: Photoshot/picture alliance
Hollywood adia lançamentos de filmes na Rússia
Disney, Warner Bros, Sony, Paramount Pictures e Universal decidiram interromper o lançamento de filmes nos cinemas russos. "The Batman" (foto) deveria ser lançado no país em 4 de março. Outros títulos afetados pela decisão incluem o filme de animação da Disney Pixar "Red: Crescer é uma Fera", "The Lost City", da Paramount, e o filme da Marvel "Morbius".
Foto: Jonathan Olley/DC Comics /Warner Bors/dpa/picture alliance
Concertos cancelados na Rússia
"Ucrânia, estamos com você e com todos aqueles na Rússia que se opõem a esse ato brutal", disse Nick Cave. Ele cancelou as datas da turnê russa planejada para o verão, assim como muitos outros grupos, incluindo Franz Ferdinand, The Killers, Iggy Pop e Green Day. O popular rapper russo Oxxxymiron também cancelou seus shows no país, pedindo um movimento antiguerra.