Mais de meio bilhão de pessoas não têm acesso a água potável
22 de março de 2017
Estudo aponta que falta de água limpa afeta principalmente áreas rurais dos países mais pobres, mas também economias emergentes. Organização prevê que problema atinja 40% da população global até 2050.
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Centenas de milhões de pessoas em todo o mundo vivem sem acesso a água limpa para beber, de acordo com um novo relatório da organização internacional WaterAid, lançado nesta quarta-feira (22/03) por ocasião do Dia Mundial da Água.
"Atualmente, 663 milhões de pessoas ainda estão sem água potável, e a grande maioria – 522 milhões – vive em áreas rurais", diz o relatório. O problema afeta principalmente os países mais pobres, mas está presente também em algumas grandes economias do mundo.
Três países africanos – Angola, República Democrática do Congo e Guiné Equatorial – encabeçam a lista dos países mais afetados pela falta de água potável. Em cada um desses países, mais de dois terços dos habitantes em zonas rurais estão desprovidos de água limpa.
Papua Nova-Guiné, Madagascar e Moçambique foram listados pela WaterAid entre os 20% dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas e menos dispostos a se adaptar.
A Índia, por outro lado, uma das economias de crescimento mais acelerado do mundo, também registra um alto número de pessoas sem acesso a água limpa. Segundo o relatório, 63,4 milhões de indianos em áreas rurais estão desprovidos de água potável, o maior número de pessoas num único país – a Índia detém a segunda maior população do mundo (1,2 bilhão de habitantes).
Na China, outra economia poderosa e com uma população de cerca de 1,4 bilhão de pessoas, 43,7 milhões dos habitantes vivem sem água limpa em áreas rurais.
O relatório da WaterAid destaca também o fato de que as mudanças climáticas, acompanhadas de fenômenos climáticos extremos, como ciclones, inundações e secas prolongadas, provavelmente aumentará os problemas de água. O estudo prevê que mais de 40% da população global provavelmente terá problemas com abastecimento de água potável até 2050.
Doenças como cólera, conjuntivite granulomatosa, malária e dengue devem se tornar mais comuns. Além disso, a desnutrição deve aumentar, uma vez que as comunidades agrícolas enfrentam problemas para cultivar alimentos e criar animais em meio a altas temperaturas.
"Água limpa não é um privilégio, é um direito humano básico. Mas mais de meio bilhão de pessoas rurais ainda vivem sem acesso a água potável", disse Rosie Wheen, executiva-chefe da WaterAid. A organização pede ações dos governos mundiais para financiar projetos relacionados a água, saneamento e higiene, e ajudar os países mais pobres a lidar com as mudanças climáticas.
PV/dpa/rtr
Água, bem precioso e escasso
Especialistas do mundo afora se encontram anualmente em Estocolmo para a Semana Mundial da Água. Apesar de vital, o acesso fácil à água potável ainda não é algo normal e evidente no planeta Terra.
Foto: picture alliance/WILDLIFE
Muita água, pouca para beber
A sobrevivência humana depende da água e, apesar de mais de 70% da Terra ser coberta pelo líquido, isso não significa que ela esteja disponível em abundância. Dos 1,4 bilhão de quilômetros cúbicos existentes em nosso planeta, apenas 2,5% são potáveis. E das reservas globais de água doce, apenas 0,3% é de acesso relativamente fácil, em rios ou lagos.
Foto: AFP/Getty Images
Mais gente precisa de mais água
Desde 1950, a demanda mundial por água cresceu cerca de 40%, e aumentará ainda mais devido ao crescimento populacional global. O uso excessivo e a poluição tornam as reservas de água doce cada vez mais raras. A escassez severa afeta principalmente os países ao sul da Linha do Equador.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Escassez apesar do Amazonas
Até mesmo em países como o Brasil – cujo Amazonas é o rio mais rico em água doce do planeta – sofrem com a escassez do fluído precioso. O contínuo desmatamento da floresta amazônica alterou as condições climáticas no continente sul-americano, resultando em cada vez menos chuvas no restante do país.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Brandt
Seca do século
Em 2015, a falta de chuva no Brasil até acarretou a pior seca dos últimos 80 anos. Durante o verão inteiro praticamente não houve nenhuma precipitação pluvial. Os grandes reservatórios ficaram vazios, e a população de São Paulo sofreu racionamento. Apesar disso, os grandes plantadores de frutas seguiram sendo abastecidos com enormes volumes d'água para a rega de seus campos.
Foto: picture-alliance/dpa/Aaron Cadena Ovalle
Alimentos de alto consumo hídrico
Também na Europa o cultivo de consumo hídrico intensivo é um problema; especialmente na Espanha, onde, em cerca de 30 mil hectares de plantações, se produz grande parte dos produtos agrícolas da Europa. Volta e meia, poços são drenados ilegalmente e deixados secos ou salobros. O tratamento das águas subterrâneas é extremamente caro e depende de subsídios públicos.
Foto: picture-alliance/dpa/B.Marks
15.400 litros para um quilo de carne
Mais água ainda é empregada na produção de carne bovina. Para um quilo de carne, são necessários 15.400 litros d'água, principalmente no cultivo da comida para o gado. Com a melhora da qualidade de vida em países como a China e o consequente aumento do consumo de carne, estima-se que o dispêndio crescerá acentuadamente nos próximos anos.
Canais entre sul e norte da China
O país mais populoso do mundo já enfrenta problemas suficientes com o "ouro líquido": em algumas províncias do norte da China, os cidadãos têm menos água per capita do que nas regiões desérticas do Oriente Médio. O governo compensa transportando a água doce do sul para o norte em enormes canais. Contudo também se estima que 80% das águas subterrâneas do país estejam contaminadas.
Foto: picture alliance/AP Images/Ma jian
Mudança climática agrava escassez
As perspectivas futuras do planeta tampouco inspiram otimismo: devido à mudança climática, 40% mais seres humanos serão afetados pela falta d'água, segundo cálculo do Instituto de Pesquisa de Impacto Climático de Potsdam. A escassez será sentida principalmente no sul da China, sul dos EUA, Oriente Médio e na região do Mar Mediterrâneo.