Mais mortes e menos bebês: crise demográfica piora na França
17 de dezembro de 2025
Pela primeira vez desde a 2ª Guerra, país registrou mais óbitos que nascimentos. Taxa de natalidade vem desabando desde 2010 e só fluxo constante de imigração tem permitido que população continue crescendo.
Leve crescimento populacional da França no último ano foi alimentado pela imigração, enquanto nascimentos caíramFoto: Abdullah Firas/ABACA/IMAGO
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A população da França atingiu um novo recorde em 2025: 68,6 milhões de habitantes, segundo dados provisórios divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos Demográficos (Ined) na terça-feira (16/12). Mas uma análise detalhada do número mostra que ele na realidade esconde uma grave crise demográfica, que tem acelerado nos últimos anos, especialmente na França metropolitana, a parte europeia do país, que não inclui os territórios fora do continente.
Em 2024, pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a França metropolitana registrou mais óbitos do que nascimentos. E esse envelhecimento populacional tem sido mais acelerado do que o previsto pelo Ined, que não esperava tal mudança antes de 2035. No ano passado, foram registrados 629 mil nascimentos na parte europeia do país, contra 630 mil óbitos.
Os números detalhados de nascimentos e óbitos de 2025 só devem ser divulgados em janeiro de 2026, mas o relatório provisório do Ined não indica otimismo.
Esse desequilíbrio demográfico é conhecido como "crescimento vegetativo negativo", pois não leva em consideração a imigração para o país. O crescimento tímido da população nessa fatia do país entre 2024 e 2025 - que teve um saldo positivo de 159 mil pessoas - se deveu mesmo exclusivamente ao saldo positivo do fluxo de imigração.
Em 2024, foram emitidas 343.000 permissões de residência em todo o país, principalmente para estudantes (32%) e para reunificação familiar (26%). As permissões por motivos humanitários beneficiaram 54.514 pessoas. Segundo o Ined. mais da metade dos recém-chegados (55%) foram morar em regiões urbanas já densamente povoados, contra apenas 15% que foram para áreas rurais.
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Nascimentos e fecundidade em queda, mortes e abortos em alta
O Ined ainda aponta que o número anual de nascimentos na França, atualmente em torno de 661 mil em todos os territórios franceses e de 629 mil na parte europeia do país, vem diminuindo de forma constante desde 2010. Há 15 anos, o país registrou aproximadamente 833 mil nascimentos em todos os seus territórios e 802 mil somente na parte europeia. De acordo com o Ined, a tendência é ainda mais forte em áreas ruais da França metropolitana.
Segundo o Ined, a taxa de fecundidade foi de 1,62 filhos por mulher em 2024, uma queda de 0,04 ponto em relação a 2023. A diminuição, segundo o instituto, afeta particularmente as idades tradicionalmente mais férteis (25-34 anos) e envolve todos os territórios franceses. Além disso, a prevalência da infertilidade definitiva (mulheres sem filhos aos 50 anos) também aumentou desde 2014.
O pico de nascimentos por volta de 2010, que marca o fim da última tendência demográfica de crescimento e o início da crise financeira e a consequente instabilidade, coincide com as principais preocupações citadas pelos franceses em uma pesquisa publicada pela Câmara dos Deputados francesa na última sexta-feira.
Nessa pesquisa, que consultou mais de 30 mil cidadãos para apurar os principais motivos pelos quais optaram por não ter filhos, 42% dos participantes disseram que foram dissuadidos de ter mais de um filho por "considerações financeiras" e 18% atribuíram a decisão a "preocupações com o futuro".
Para lidar com esse problema, a ministra francesa da Saúde e da Família, Stéphanie Rist, anunciou na segunda-feira um "plano nacional de combate à infertilidade" com medidas para "tratar e preservar" a fertilidade, campanhas informativas e maior disponibilidade de serviços de congelamento de óvulos.
Em seu relatório, o Ined também chamou a atenção para o crescimento do número de abortos em toda a França. Em 2024, foram realizados 252.000 abortos voluntários na França - 8.000 a mais do que em 2023.
Envelhecimento populacional preocupa
No entanto, além da queda na taxa de natalidade, o envelhecimento da população pode se tornar uma corrida contra o tempo para garantir que o número de pessoas em idade ativa permaneça suficiente para sustentar os idosos.
A porcentagem de pessoas com mais de 65 anos na França aumentou de 14% da população total em 1990 para 22% em 2025. Essa tendência de envelhecimento deve se agravar nos próximos anos devido ao grande número de pessoas pertencentes à chamada geração Baby Boom (1945-1975), atualmente com idades entre 50 e 80 anos.
O número de pessoas na força de trabalho na França poderá continuar crescendo até 2040, ou em alguns casos até 2036, antes de começar a diminuir: tendência que não mostra sinais de reversão até 2070.
jps/md (EFE, ots)
O mês de dezembro em imagens
Veja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: Kay Nietfeld/dpa/picture alliance
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Homem desarma atirador em ataque na Austrália
Vídeo mostra um homem desarmando um atirador durante ataque em que morreram ao menos 12 na praia de Bondi, em Sydney, Austrália, incluindo um dos agressores. A polícia australiana informou que dois homens abriram fogo contra a multidão. Um deles foi morto por policiais. O outro suspeito foi internado em estado crítico. O ocorrido foi classificado de ataque terrorista pelas autoridades. (14/12)
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Tumulto em turnê de Messi pela Índia
Fãs revoltados derrubaram barricadas, arremessaram cadeiras e invadiram o gramado de um estádio em Calcutá, após o jogador de futebol Lionel Messi ser retirado da arena mais cedo que o esperado, apesar do alto preço dos ingressos. Ele deveria disputar uma partida de exibição, o que não aconteceu. O craque argentino de 38 anos, jogador do Inter Miami, faz uma turnê de três dias pelo país. (13/12)
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EUA retiram sanções da Lei Magnitsky contra Moraes e esposa
A Casa Branca retirou o nome do ministro do STF Alexandre de Moraes e de sua esposa, Viviane Barci de Moraes, da lista de pessoas sancionadas pela Lei Magnitsky. Utilizada para punir estrangeiros acusados de violações graves de direitos humanos, as sanções foram impostas em julho em retaliação ao papel do ministro no processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. (12/12)
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O primeiro-ministro búlgaro, Rosen Zhelyazkov, renunciou ao cargo diante de protestos em massa liderados pela Geração Z. A manifestação ocorre na esteira de outros atos comandados por jovens que já derrubaram governos em Bangladesh, Nepal, Sri Lanka e Madagascar. A queda do governo búlgaro ocorre apenas algumas semanas antes da entrada do país na zona do euro. (11/12)
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O ex-presidente da Bolívia Luis Arce foi preso a pouco mais de um mês de deixar o cargo. A prisão ocorreu no âmbito de uma investigação contra Arce, que governou a Bolívia entre 2020 e 2025, por suposto desvio de recursos do Fundo Indígena, destinado ao desenvolvimento de comunidades indígenas e camponesas. (10/12)
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O Senado aprovou a PEC que institui o marco temporal para demarcação de terras indígenas. O texto, que ainda precisa passar pela Câmara dos Deputados, inclui na Constituição que os territórios devem ser demarcados apenas conforme sua ocupação no ano de 1988. O marco temporal é fortemente criticado pelos povos originários e entidades de direitos humanos e defendida pelo agronegócio. (09/12)
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Ministros do Interior dos 27 países-membros da União Europeia chegaram a um acordo sobre um significativo endurecimento da política comum de asilo. Medidas incluem criação de centros de retorno fora do bloco, rejeição de migrantes nas fronteiras e penas mais rígidas para quem não cooperar com processo de deportação. Mudanças dependem de aval do Parlamento Europeu. (08/12)
Foto: Judith_Buethe
Merz visita Israel
O chanceler federal da Alemanha, Friedrich Merz, cumpriu sua primeira visita oficial a Israel desde que assumiu o cargo em maio. O líder alemão reafirmou o que chamou de "responsabilidade histórica" do seu país na "defesa" e "segurança" de Israel e disse que a Alemanha não pretende reconhecer um Estado palestino num futuro próximo. (07/12)
Foto: Michael Kappeler/dpa/picture alliance
Homens armados matam pelo menos 11 pessoas em albergue na África do Sul
Homens armados invadiram um albergue na capital da África do Sul e mataram pelo menos 11 pessoas, incluindo uma criança de três anos, e feriram mais de uma dúzia de outras. A polícia informou que está investigando se os assassinatos estão relacionados a um bar dentro do albergue que poderia estar vendendo álcool ilegalmente. (06/12)
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Alemanha aprova alistamento militar obrigatório
O Parlamento alemão aprovou uma nova lei sobre o serviço militar. A legislação reintroduz na Alemanha o alistamento militar obrigatório a todos os homens com mais de 18 anos, que havia sido suspenso em 2011. A nova exigência de alistamento, porém, não leva ao serviço militar obrigatório. (05/12)
Foto: Hannes P. Albert/dpa/picture alliance
Steinmeier em visita histórica ao Reino Unido
No segundo dia de uma turnê de três dias no Reino Unido, o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, discursou no parlamento britânico, honra dada a poucos estrangeiros. A viagem é a primeira visita de Estado no país de um presidente alemão em 27 anos. Em seu pronunciamento, Steinmeier ressaltou a importância atual de uma cooperação mais estreita entre Londres e Berlim. (04/12)
Foto: Kin Cheung/AP Photo/picture alliance
EUA são denunciados a comissão da OEA por ataque a barco no Caribe
Família de pescador colombiano morto em ação militar dos EUA contra supostos "narcoterroristas" acusou o governo Trump de execução extrajudicial em denúncia formal à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). É a primeira queixa formal desde o início dos ataques na região, em setembro. Órgão não tem poder de impor cumprimento de decisões, mas pode constranger a Casa Branca. (03/12)
Foto: U.S. Southern Command/NTB/IMAGO
Ex-chefe da diplomacia da União Europeia é presa na Bélgica
Federica Mogherini, que acumulou cargo de vice-presidente da Comissão Europeia entre 2014 e 2019, foi uma das 3 pessoas detidas pela polícia no âmbito de investigação sobre corrupção em escola de formação de diplomatas. A italiana dirige o Colégio da Europa desde 2020 e, em 2022, assumiu também a direção da Academia Diplomática da UE. (02/12)
Foto: Sebastian Christoph Gollnow/dpa/picture alliance
Hong Kong em luto após pior incêndio residencial do mundo desde 1980
Número de vítimas foi revisado para 151 após outros corpos serem encontrados, e 14 suspeitos foram presos. Autoridades constataram que as redes de proteção no exterior do complexo de edifícios falharam em evitar que as chamas se espalhassem. (01/12)