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Mais radical, ultradireita se firma na cena política alemã

26 de setembro de 2021

Após abraçar negacionismo da pandemia, AfD não repete sucesso eleitoral de 2017 e deixa de ser terceira força no Parlamento. Mas resultado preliminar mostra que partido consolidou seu espaço no espectro político alemão.

Beatrix von Storch, a deputada que se encontrou com Bolsonaro em Brasília, acompanha a apuração ao lado de Tino Chupalla, candidato do partido a chanceler
Beatrix von Storch, a deputada que se encontrou com Bolsonaro em Brasília, acompanha a apuração ao lado de Tino Chupalla, candidato do partido a chancelerFoto: Ronny Hartmann/AFP/Getty Images

Novidade inconveniente para o establishment político alemão no pleito de 2017, quando conquistaram pela primeira vez cadeiras no Parlamento, os ultradireitistas da Alternativa para a Alemanha (AfD) perderam um pouco de apoio nas urnas neste domingo (26/09). Mas, mesmo com uma agenda mais radical, mostraram que se consolidaram na paisagem política nacional.

Segundo o resultado oficial preliminar, o partido conquistou 10,3% dos votos. A cifra está abaixo dos 12,6% obtidos há quatro anos e faria com que a ultradireita deixe de ser a terceira maior força no Parlamento, passando a ser a quinta.

Agenda mais radical

A AfD foi fundada em 2013 inicialmente como um partido eurocético light, na esteira da crise financeira da Grécia, que levantava a bandeira da rejeição de qualquer ajuda dos cofres alemães ao país mediterrâneo.

No entanto, rapidamente o partido passou por um processo de radicalização e adotou posições abertamente nacionalistas e bandeiras anti-imigração. Diversos setores do partido são acusados de ligações com neonazistas e extremistas de direita. Em março deste ano, o partido chegou a ser colocado sob vigilância pelo Departamento de Proteção à Constituição da Alemanha (BfV), mas a medida foi posteriormente derrubada pela Justiça. Mas uma ala extremista do partido,  chamada "Der Flügel", continuou sob vigilância.

Boicotada no Parlamento por outros partidos e sem força suficiente para aprovar ou barrar projetos, a AfD se destacou mais nos últimos quatro anos pelas declarações racistas, xenófobas e incendiárias de seus membros, que também costumam fazer discursos relativizando os crimes nazistas na Segunda Guerra Mundial. Brigas internas entre seus membros - muitos deles novatos na política - também dominaram o noticiário sobre o partido desde 2017.

Considerados párias na Alemanha, parlamentares da sigla também ganharam destaque negativo ao viajar para países que têm governos tão isolados no cenário internacional quanto o partido. Uma deputada da legenda visitou o presidente brasileiro Jair Bolsonaro em julho. Outros parlamentares foram recebidos pela ditadura síria e pelo autoritário governo de Belarus.

Negacionismo

Nesta campanha, a AfD continuou a apostar no discurso anti-imigração, mas o programa do partido também abraçou o negacionismo da pandemia. Os dois principais candidatos do partido foram Tino Chrupalla, atual copresidente da legenda, e Alice Weidel, líder da bancada do partido no Parlamento.

Chrupalla e Weidel fazem parte da ala mais à direita da AfD, leal a Björn Höcke, justamente o líder da "Der Flügel". Oficialmente, a ala foi dissolvida no primeiro semestre pela AfD, mas seus membros continuam a exercer influência decisiva na legenda.

Além de defender uma linha dura na imigração e a saída alemã da União Europeia, Höcke é conhecido por propagar teorias conspiratórias e usar expressões que caíram em desuso na Alemanha por causa da sua associação com o nazismo.

Em seu livro, por exemplo, Höcke encampou ideias da ideologia de extrema direita, como a chamada "grande troca populacional", uma teoria da conspiração que sustenta que governos europeus, com a cooperação das "elites", conspiram para trocar a população branca por imigrantes de países árabes, muçulmanos ou africanos.

Consolidação na cena política

Os resultados de 2021 mostram que esse novo passo na radicalização no partido não se traduziu em crescimento. Ainda assim, analistas apontam que a votação deste domingo não deixa de mostrar que um partido radical como a AfD consolidou seu espaço no espectro político alemão e que os resultados de 2017 não foram um acidente pontual.

Ao manter parte do seu terreno conquistado em 2017, a AfD evita a sina de outros partidos de protesto da história política alemã, como o Partido Pirata, que foi uma sensação eleitoral no país entre 2011 e 2012, entrando em diversos parlamentos estaduais. Pouco anos depois, o Partido Pirata se tornou uma sigla irrelevante da política alemã.

Nesta eleição, o partido continuou a demonstrar força no leste, em estados que faziam parte da antiga Alemanha Oriental. Na Saxônia, por exemplo, o resultado preliminar indica que o partido obteve 24,6% dos votos locais - mais que o dobro do seu percentual nacional.

O partido, porém, deve continuar isolado no Parlamento. Conservadores, verdes, social-democratas, liberais e esquerdistas descartam qualquer tipo de coalizão que possa incluir os ultradireitistas da AfD. Eles são encarados como párias pelo establishment político alemão por suas posições radicais e ligações com extremistas. 
 

 

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