Denis Voronenkov é assassinado a tiros no centro de Kiev. Polícia investiga hipótese de homicídio por encomenda. Ele era uma das principais testemunhas num processo contra o ex-presidente da Ucrânia Viktor Yanukovych.
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O político russo Denis Voronenkov, membro do Parlamento pelo Partido Comunista entre 2011 e 2016, foi morto a tiros nesta quinta-feira (23/03) em frente a um hotel no centro de Kiev. É a segunda vez em menos de um ano que um notório crítico do Kremlin é assassinado na capital ucraniana.
O segurança do político chegou a ferir o assassino, que morreu pouco tempo depois no hospital. A polícia trabalha com a hipótese de assassinato por encomenda. O caso traz à mente a morte do jornalista russo Pavel Sheremet, em julho de 2016, depois de seu carro explodir nas ruas de Kiev.
Voronenkov, de 45 anos, era o mais notório entre um grupo de políticos e ativistas russos que se mudaram recentemente para a Ucrânia. Ao contrário de Sheremet, que morou no país por anos, o ex-parlamentar havia chegado a Kiev há cerca de seis meses, onde recebeu a cidadania ucraniana.
O político russo era uma das principais testemunhas num processo contra o ex-primeiro-ministro e ex-presidente da Ucrânia Viktor Yanukovych, que se refugiou na Rússia em 2014 após ter sido deposto da presidência. O julgamento dele por traição deveria ter tido início neste mês, mas foi adiado.
O depoimento de Voronenkov no caso foi descrito por um promotor ucraniano como "valioso", apesar de o conteúdo não ter sido divulgado. Ele deveria depor novamente nesta quinta-feira.
Em entrevista ao portal de notícias ucraniano Censor.Net, Voronenkov – cujo Partido Comunista é considerado um aliado não oficial do Kremlin – lançou duras críticas ao governo em Moscou, além de classificar a anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014, como "um erro que precisa ser corrigido".
Já à emissora Hromadske TV, também da Ucrânia, ele declarou que Vladislav Surkov, um influente assessor do presidente Vladimir Putin, chegou a criticar ele próprio a anexação da Crimeia.
Em conflito com o FSB?
Voronenkov fez parte da elite russa por muito tempo. Recebeu excelente treinamento militar e jurídico e mantinha boas relações com a Polícia, o Exército e os serviços de inteligência russos. Antes de ingressar no Parlamento, chefiou uma agência de narcóticos e chegou a descobrir um esquema de corrupção no Serviço Federal de Segurança (FSB), a atual agência de inteligência russa.
Segundo ele mesmo afirmou ao portal Censor.Net, essas revelações o colocaram "em conflito" com pessoas poderosas e fizeram com que ele temesse pela própria vida. O ex-deputado revelou ainda ter sobrevivido a uma tentativa de assassinato em 2007 em Moscou.
Expulso do partido
Voronenkov disse ter fugido para Kiev a fim de evitar uma possível prisão depois de sua imunidade como parlamentar ter expirado. Ele era alvo de um processo na Rússia por acusações de fraude relacionadas a transações imobiliárias. Segundo o advogado, ele sempre negou as alegações. No início deste mês, um tribunal de Moscou emitiu um mandado de prisão contra ele.
O político se mudou para a Ucrânia com a esposa, a cantora de ópera russa Maria Maksakova. Ela também foi membro do Parlamento russo, mas pelo partido do Kremlin, Rússia Unida, até o ano passado. Por razões formais, ambos foram expulsos de suas legendas após a mudança para Kiev.
Crimeia três anos após a anexação russa
Em março de 2014, a Rússia anexou a Crimeia. Três anos depois, como está a península? O que mudou na vida das pessoas? E Putin cumpriu suas promessas?
Foto: DW/R. Richter
A ocupação da Crimeia
O presidente russo, Vladimir Putin, é comemorado como herói, e bandeiras russas substituíram as ucranianas. A transformação começou em fevereiro de 2014, quando pessoas de uniforme, mas sem insígnias, ocuparam os prédios do governo e do Parlamento em Simferopol, capital da República Autônoma da Crimeia, parte da Ucrânia. Mais tarde, também os quartéis ucranianos seriam ocupados.
Foto: DW/I. Worobjow
Referendo sobre a anexação
Apesar dos protestos e, contornando a Constituição da Ucrânia, em 16 de março de 2014, foi realizado um referendo sobre o estatuto da Crimeia. A entrega da Crimeia à Ucrânia pelo governo russo em 1954 não foi reconhecida, e decidiu-se pela anexação da península à Rússia.
Foto: Reuters
Tártaros da Crimeia
Quem rejeita a anexação pela Rússia, sofre perseguição. Isso acontece também com os líderes do Mejlis, o Congresso do Povo Tártaro da Crimea, que em 2016 foi considerado organização extremista. Buscas e detenções voltam a ser frequentes, tal qual em 1944, quando os tártaros da Crimeia foram deportados como "inimigos do povo" pelos soviéticos.
Foto: picture-alliance/dpa
Só programas russos
As transmissões das emissoras de televisão ucranianas foram interrompidas na Crimeia no começo de 2014. A população só tem acesso a programas russos. O ATR, canal independente dos tártaros da Crimeia, que defende a integridade territorial da Ucrânia, agora transmite a partir de Kiev. Muitos outros meios de comunicação também foram proibidos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/A. Zemlianichenko
Difícil acesso
A lei ucraniana proíbe estrangeiros de entrar na Crimeia sem a permissão das autoridades de Kiev e que não seja pela área continental da Ucrânia. Ao infrator fica proibido viajar pelas demais partes da Ucrânia. Para chegar da Ucrânia à Crimeia, é preciso passar por postos de controle na fronteira administrativa, seja a pé ou de carro.
Foto: DW/L. Grishko
Sanções após a anexação
A União Europeia (UE) e os Estados Unidos não reconhecem a anexação. Eles até aconselham seus cidadãos a não comprar imóveis ou fazer negócios na Crimeia. Empresas da península não podem vender produtos à UE, nem aos EUA. Também foram impostas sanções a pessoas, empresas e organizações.
Foto: picture-alliance/Sputnik/A. Polegenko
Esperando o cumprimento de promessas
Quem votou a favor da anexação no referendo, esperava que Putin cumprisse suas promessas: uma ponte ligando a Crimeia à Rússia, um gasoduto e usinas de energia. Também problemas sociais seriam resolvidos. Os salários não acompanham a inflação. Mas relatos sobre o descontentamento e protestos localizados são divulgados apenas nas redes sociais e meios de comunicação independentes.
Foto: DW/R. Richter
Empreiteira de amigo de Putin
A construção de uma ponte no Estreito de Kertch até a Rússia está em pleno andamento. A obra, no valor de 3,7 bilhões de euros, está nas mãos do oligarca russo Arkady Rotenberg, amigo de Putin. Até o final de 2019, a ponte deverá estar pronta. Ela terá quatro pistas rodoviárias e duas faixas ferroviárias.
Foto: picture-alliance/Tass/V. Timkiv
Pequenos negócios
Empresas de pequeno porte da Crimeia sofrem com a redistribuição de propriedades em favor de empresários russos. A emissora Radio Liberty informou que o número de pequenas empresas na Crimeia diminuiu de 15 mil (2014) para 1 mil (2016). Também os proprietários de imóveis no litoral enfrentam problemas. Tribunais podem anular documentos emitidos antes da anexação.
Foto: DW/A. Karpenko
Grandes perdas no turismo
Na alta temporada, é tempo de praia na Crimeia. Mas o fluxo de turistas diminuiu quase 30% nos últimos três anos. As rotas ferroviárias estão interrompidas e os voos são caros. Devido às sanções impostas pela UE, navios de cruzeiro não atracam mais na Crimeia.
Foto: DW/A. Karpenko
Tesouros históricos
As joias arqueológicas e as armas dos citas, antigo povo de pastores nômades que povoaram a região na Antiguidade Clássica, não poderão mais retornar à Crimeia. No final de 2016, um tribunal holandês decidiu que a rara coleção de 550 artefatos de museus da Crimeia deveria ser dada a Kiev. Os tesouros são parte de uma mostra que estava na Europa Ocidental quando ocorreu a anexação da Crimeia.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Maat
Quem ganhou com a anexação
Desde a anexação, os moradores da Crimeia só podem comprar cartões para telefone, por exemplo, se portarem um passaporte russo. Quem ganhou com a anexação foram aposentados com passaporte russo. As aposentadorias foram equiparadas às vigentes na Rússia, e a idade da aposentadoria para mulheres baixou de 60 para 55 anos.