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Criminalidade

Mais um indígena Guajajara morto no Maranhão

14 de dezembro de 2019

Morador da Terra Indígena Arariboia, jovem de 15 anos é assassinado a facadas em Amarante. Ele é o quarto indígena da etnia a ser morto em um mês e meio. Funai é criticada por antecipar que foi descartado crime de ódio.

Floresta Amazônica
ONGs vêm denunciando a escalada da violência em terras indígenas no BrasilFoto: DW/N. Pontes

Mais um indígena Guajajara foi assassinado no Maranhão. A Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Polícia Civil confirmaram a morte nesta sexta-feira (13/12). Erisvan Soares Guajajara, de 15 anos, é o quarto indígena da etnia assassinado desde novembro.

Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o corpo de Erisvan foi encontrado em um campo de futebol localizado no município de Amarante, no Maranhão. Ele foi assassinado a golpes de faca, e ainda não há suspeitos pelo crime.

O Cimi afirma que Erisvan deixou a Terra Indígena Arariboia, onde mora, há cerca de duas semanas para uma viagem com o pai à cidade maranhense, onde eles comprariam mantimentos e roupas. "A viagem acabou de forma trágica quando o corpo do jovem indígena foi encontrado esquartejado", escreveu o conselho em nota divulgada em seu site.

A Polícia Militar informou à imprensa local que o assassinato ocorreu durante uma festa na noite de quinta-feira no bairro Vila Industrial. Ao lado do corpo dele foi encontrado o de outra vítima, Roberto do Nascimento Silva, um não indígena.

A Polícia Civil não acredita que a morte de Erisvan tenha relação com os assassinatos recentes de indígenas Guajajaras, e disse que a suspeita é que "a situação tenha se originado de uma briga entre ele e o outro rapaz", segundo o jornal O Globo.

Citado pelo Cimi, o irmão de Erisvan, Luiz Carlos Guajajara, disse que o jovem "era um menino tranquilo, como qualquer outro menino da idade dele". "Vivia na aldeia. Ia para a cidade uma vez ou outra", declarou.

As informações sobre o crime, contudo, foram inicialmente bastante desencontradas. A Polícia Militar e a Funai chegaram a identificar a vítima como Dorivan Soares Guajajara, de 28 anos, conhecido como Cabeludo.

Em nota publicada pela imprensa brasileira, a Funai confirmou que o crime ocorreu em uma festa na Vila Industrial, em Amarante, que a vítima morava na TI Arariboia e que seu corpo foi encontrado em companhia do não indígena Roberto do Nascimento Silva, assassinado a golpes de faca na mesma festa. Mas não mencionava Erisvan.

A fundação acrescentou ainda que, "segundo a polícia, estão descartadas todas as motivações de crime de ódio, disputa por madeira ou por terras", e disse estar acompanhando as investigações.

A Polícia Militar, citada pelo portal de notícias G1, afirmou que o crime teria sido motivado pela suspeita de envolvimento de Dorivan com o tráfico de drogas.

Gilderlan Rodrigues, coordenador do Cimi no Maranhão, criticou a postura da polícia e da Funai, acusando-os de querer antecipar o resultado das investigações sobre "um crime com requintes de crueldade". Para ele, tal atitude é "como matar mais uma vez o indígena".

Rodrigues também criticou o trecho da nota da Funai que descarta motivações de crime de ódio. "É lamentável porque parece uma isenção, como se o órgão não tivesse a ver com o fato. Há uma sequência de violência afligindo o povo Guajajara, e a Funai deveria olhar para isso."

O líder indígena Paulo Paulino Guajajara foi assassinado em novembroFoto: Reuters/U. Marcelino

Este é o quarto assassinato de indígenas Guajajara em menos de um mês e meio. No sábado passado, 7 de dezembro, Firmino Prexede Guajajara e Raimundo Benício Guajajara morreram vítimas de um atentado a tiros no Maranhão.

Eles saíam de uma reunião entre caciques e a empresa Eletronorte quando foram atingidos por disparos que, segundo relatos de um indígena sobrevivente, vieram de um veículo branco, às margens da rodovia BR-226, no município de Jenipapo dos Vieiras, entre as aldeias Boa Vista e El Betel, na Terra Indígena Cana Brava. A Polícia Federal investiga o caso.

No início de novembro, o líder Paulo Paulino Guajajara, integrante de um grupo de agentes florestais autodenominados "guardiões da floresta", foi assassinado também na Terra Indígena Arariboia, a 100 quilômetros do município de Amarante, enquanto caçava.

A Polícia Federal também investiga a morte, que teria sido motivada por uma disputa territorial com madeireiros, que exploram a região de forma ilegal.

A violência crescente contra indígenas no Maranhão levou o ministro da Justiça, Sergio Moro, a determinar neste mês o envio de agentes da Força Nacional à região, a fim de garantir a segurança de servidores da Funai e de indígenas. A medida não inclui a TI Arariboia.

EK/efe/ots

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