Mais uma barragem em Minas corre risco de se romper
25 de março de 2019
Mineradora Vale eleva nível de alerta em Barão de Cocais, apenas dois meses após a tragédia de Brumadinho. Mais de 6 mil moradores recebem treinamento para escapar em caso de desastre.
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Dois meses após a tragédia de Brumadinho, outra barragem da mineradora Vale corre risco de ruptura. A empresa elevou o nível de alerta da barragem da mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais (MG), e vai apoiar um simulado de evacuação dos moradores que vivem no possível caminho da lama nesta segunda-feira para o caso de rompimento.
O nível de alerta da Barragem Sul Superior da mina de Gongo Soco subiu para 3 na última sexta-feira, o que significa que uma ruptura está iminente. "Essa medida preventiva se faz necessária tendo em vista o fato de o auditor independente ter informado a condição crítica de estabilidade da barragem", disse a companhia em comunicado.
Cerca de 6 mil pessoas, um quinto da população da cidade, vivem no possível caminho da lama da barragem e devem participar do treinamento de fuga, recebendo assistência da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil e orientação de voluntários e de funcionários da Vale.
O simulado ocorre após 454 pessoas já terem sido evacuadas de suas casas em fevereiro. Esses moradores, que viviam em uma região mais crítica em que não haveria tempo para fuga, estão residindo em hotéis, pousadas ou em casa de parentes.
Foram distribuídos pela cidade uma série de panfletos com informações sobre as áreas de potencial inundação e instruções de emergência, placas sinalizando rotas de fuga e cartazes sobre os pontos de encontro para a população local.
As cidades próximas de Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo também poderiam ser atingidas em caso de rompimento da barragem, de acordo com a Defesa Civil.
Segundo a Vale, a barragem de Gongo Soco faz parte do grupo de dez barragens semelhantes à de Brumadinho que serão eliminadas após o desastre ocorrido no início do ano. Passados dois meses da tragédia, 212 mortes foram confirmadas, e 93 pessoas ainda estão desaparecidas.
O Ministério Público de Minas Gerais havia encaminhado uma petição à Justiça afirmando que a Vale já sabia do risco de rompimento da barragem de Gongo Soco em 8 de março, tendo omitido a informação das autoridades.
Rompimento de barragem da Vale em Minas Gerais, no dia 25 de janeiro de 2019, deixou centenas de mortos. Um mês após o desastre, busca por corpos enterrados na lama continua.
Foto: DW/N. Pontes
Zona Quente
Buscas por corpos enterrados na lama continuam com homens e mulheres do Corpo de Bombeiros dos estados de Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina. Um mês depois da tragédia, cerca de 140 oficiais se dividem em 19 equipes pela área afetada. Toda a superfície já foi vasculhada. Regiões com acúmulo de água ainda oferecem perigo às atividades dos bombeiros.
Foto: DW/Nádia Pontes
Centro de Comando
Duas bases de operações foram instaladas para apoiar as equipes de resgate. Perto do centro de Brumadinho, oficiais dos bombeiros usam informações georreferenciadas para planejar ações de campo. Na imagem, militar consulta os locais onde corpos e fragmentos de corpos foram encontrados no primeiro mês de buscas na lama.
Foto: DW/N. Pontes
Barragens de rejeitos da Vale
Vista aérea da estrutura que sobrou da barragem I da mina Córrego do Feijão após o colapso. Construída em 1976 pela Ferteco, adquirida pela Vale em 2001, barragem armazenava 12 milhões de m3 de rejeitos numa área de 249,5 mil m2. À direita da imagem, a barragem IV, com 844 mil m3 de rejeitos, passa por operação de drenagem desde a tragédia.
Foto: DW/Nádia Pontes
Vidas destroçadas
Pelo menos 300 pessoas morreram após o rompimento da barragem de rejeitos da Vale. Segundo a empresa, 286 pessoas estão desabrigadas em Brumadinho, vivendo em pousadas e casas alugadas pela mineradora. Devido ao risco de rompimento de outras barragens, 744 pessoas foram evacuadas nas cidades de Barão dos Cocais, Ouro Preto e Nova Lima.
Foto: DW/N. Pontes
Vistoria da Defesa Civil
Defesa Civil e Secretaria de Obras de Brumadinho visitam locais atingidos na companhia de moradores. As perdas materiais relatadas compõem um laudo emitido pelo poder público, que é essencial para que moradores sejam identificados pela Vale como atingidos. O laudo é importante principalmente para quem perdeu todos os documentos, era caseiro ou trabalhador informal em propriedades destruídas.
Foto: DW/N. Pontes
Preocupação com a saúde
A pedido da mãe, Davi, 3 anos, mostra as feridas na pele que apareceram uma semana depois do rompimento da barragem. A família mora no distrito de Córrego do Feijão, em Brumadinho, que foi atingido pela lama. Segundo moradores, pelo menos três crianças e um adulto estão com o mesmo problema.
Foto: DW/N. Pontes
Insetos e mau cheiro
Larissa, 25 anos, ficou uma semana fora de casa depois da tragédia. No dia do rompimento da barragem, ela ouviu um estrondo e viu a movimentação dos rejeitos. Mesmo sem o soar da sirene, ela seguiu o treinamento de emergência e correu para o ponto de encontro com os três filhos. Desde que voltou pra casa, ela reclama do número exagerado de insetos e do mau cheiro.
Foto: DW/N. Pontes
Monitoramento ambiental
O Ibama estima que a onda de rejeitos tenha devastado pelo menos 270 hectares, entre vegetação nativa de Mata Atlântica e Áreas de Preservação Permanente. A DW Brasil acompanhou um sobrevoo que analisou o impacto dos rejeitos nos córregos. Foram identificados vários pontos com acúmulo de água devido ao represamento causado pelos rejeitos.
Foto: DW/N. Pontes
Informações às vítimas
A Estação do Conhecimento da Vale se transformou numa central de atendimento aos atingidos. Diversos órgãos públicos, além da própria empresa, mantêm funcionários no local para dar assistência à população. Muitas viúvas e representantes de crianças órfãs buscam auxílio para reunir documentação necessária para dar entrada na ação contra a mineradora. Apoio psicológico também é oferecido.