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Malala Yousafzai, aclamada no exterior, combatida em casa

Shamil Shams ip
29 de março de 2018

A Nobel da Paz de 20 anos está de volta ao Paquistão, pela primeira vez desde que foi baleada pelo Talibã, em 2012. Amada pelo mundo afora, Malala é impopular para muitos em seu próprio país.

Ativista Malala fala durante cerimônia beneficente em 2014, em Oslo, Noruega
Ativista Malala fala durante cerimônia beneficente em 2014, Oslo, NoruegaFoto: Getty Images/AFP/O. Andersen

Malala Yousafzai, a mais jovem ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, está no Paquistão em visita de quatro dias, pela primeira vez desde o atentado que sofreu em 2012. Nesta quinta-feira (29/03), ela conversou com o primeiro-ministro Shahid Khaqan Abbasi. Durante a estada em seu país de origem deverá ainda se reunir com outros membros do governo e representantes da sociedade civil.

No entanto, segundo a imprensa local, muitos de seus compromissos foram mantidos em segredo, devido a riscos de segurança. Embora grande parte dos que atacaram Malala esteja atrás das grades, ela ainda pode estar exposta a potenciais ameaças de radicais islâmicos. Além disso, grupos de direita do Paquistão a combatem com veemência.

Leia também: Documentário conta a história de Malala

A jovem de 20 anos faz palestras em todo o mundo, defendendo o direito à educação para meninas, mas ela levou quase seis anos para voltar a seu país de origem. O Paquistão ainda não é seguro para Malala, como prova o alto nível de segurança que cerca sua visita.

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Malala retorna ao Paquistão seis anos após atentado

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Malala foi baleada por militantes em 9 outubro de 2012, no vale de Swat, na província rebelde paquistanesa de Khyber Pakhtunkhwa. O Talibã assumiu a autoria do ataque, alegando em comunicado que Malala foi visada por promover o "secularismo" no país. Depois de receber tratamento médico inicial no Paquistão, Malala foi enviada para o Reino Unido, onde reside atualmente com sua família.

Antes do atentado, Malala vinha fazendo campanha pelo direito das meninas à educação em Swat, além de ser uma crítica veemente dos extremistas islâmicos. Ela foi elogiada mundo afora por escrever sobre as atrocidades do Talibã num blog da BBC no idioma urdu.

Malala percorreu um longo caminho desde então, sendo agora um ícone internacional da resistência, do fortalecimento das mulheres e do direito à educação. Entre as numerosas distinções que recebeu, está o prestigioso prêmio de direitos humanos Sakharov, da União Europeia. Ela também foi a ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2016. Em seu próprio país, no entanto, é desprezada por muitos, que a acusam de ser agente dos EUA, decidida a difamar o Paquistão e o islã.

Talibã prometeu atacar Malala novamenteFoto: picture-alliance/AP Photo

Figura polêmica

Em 2017, Malala foi nomeada Mensageira da Paz pela ONU. Numa cerimônia na sede das Nações Unidas em Nova York, o secretário-geral da ONU, António Guterres, entregou-lhe o grande prêmio, dizendo ter-se sentido inspirado pelo "compromisso inabalável" da jovem com a paz, assim como por sua "determinação em promover um mundo melhor".

Em seu discurso, a ativista dos direitos femininos não esqueceu de mencionar seu país, onde foi baleada e ferida pelos talibãs. Ela expressou o amor pelo Paquistão, insistindo que a nação sul-asiática não seja considerada extremista: "Quero que as pessoas saibam que eu represento o Paquistão, não os extremistas, não os terroristas. Eles não são o Paquistão", frisou.

Mas será que os paquistaneses também acreditam que Malala Yousafzai representa seu país? "Garotas como Malala simbolizam desobediência, e muitos no Paquistão não gostam disso, especialmente partindo de alguém do sexo feminino", comentou a jornalista e documentarista Sabin Agha à DW.

Leia também: Opinião: Nobel para Malala é sinal acertado

Apesar de os liberais considerarem Malala um símbolo de orgulho para o país, ela se tornou uma figura nacional extremamente controversa. A maioria dos conservadores alega que ela trabalha contra o islã e a soberania do Paquistão.

Muitos paquistaneses acreditam que a mídia local e internacional promove a jovem ativista de forma exagerada e desnecessária. Partidos de direita afirmam que a "campanha" para promovê-la é a prova de que há um "lobby internacional" por trás de tudo isso.

"Não creio que Malala merecesse o Prêmio Nobel da Paz. Acho que havia gente mais merecedora no Paquistão, que deveria ter recebido o prêmio", afirma Syed Ali Mujtaba Zaidi, ativista xiita de Karachi. "Só porque ela foi baleada pelo Talibã, isso não lhe dá direito a esses prêmios."

Malala e chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, na sede da ONU em Nova York, 2015Foto: dpa

Questão de mentalidade

Os defensores da ganhadora do Nobel da Paz acusam os "odiadores de Malala" de campanha de difamação contra ela. Até que a mentalidade das pessoas mude, argumentam, a jovem não poderá viver em sua terra natal de forma permanente.

"Malala foi retratada como agente ocidental no Paquistão, um país cheio de rancor anti-Ocidente. Qualquer um que seja visto como pró-Ocidente no país se torna alvo de escárnio, ridicularização, ódio e até violência", explica Farooq Sulehria, pesquisador e ativista do Reino Unido.

Sabin Agha insiste que não se trata apenas Malala, e sim da situação geral dos direitos femininos no país. "Não é irônico o Paquistão ser considerado um lugar seguro para terroristas nacionais e internacionais, mas não para sua própria população feminina?", pergunta. "Temos que mudar esse cenário e também a mentalidade patriarcal que apoia a violência contra as mulheres."

Paquistão "ainda não é seguro"

Em 2013, o Exército paquistanês anunciou a prisão dos suspeitos de tentarem matar Malala. Segundo especialistas, porém, o fato de alguns de seus agressores estarem sob custódia militar não tornará o país mais seguro para ela. "Um país incapaz de garantir a segurança de sua ex-primeira-ministra Benazir Bhutto – assassinada durante um comício na cidade de Rawalpindi em 2007 – não pode proteger Malala nem qualquer outro ativista crítico dos talibãs", resume Sulehria.

Segundo a cineasta Agha, o Paquistão continua não sendo um lugar seguro para ativistas de direitos civis, críticos do governo e dos militares, nem jornalistas: "No passado, o Exército conduziu muitas operações antiterroristas. No entanto não vimos o nível de violência diminuir."

Diversos analistas e ativistas acusam as poderosas Forças Armadas paquistanesas de apoiarem uma série de grupos militantes islâmicos para travarem guerra por procuração no Afeganistão e na zona de Caxemira sob administração indiana. O governo Donald Trump nos EUA cortou grande parte de sua ajuda militar ao Paquistão, até que os militares locais tomem medidas decisivas contra os fundamentalistas. Islamabad nega que esteja ajudando grupos militantes.

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