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Mangue beat, eletrônicos dos Bálcãs e muito mais

Matthias Klaus (sv)30 de dezembro de 2005

Em 2005, sons dos quatro cantos do planeta sacudiram milhares de pessoas nas pistas alemãs. Fusão de tradição e pop, Ocidente e Oriente, marcam o ritmo da retrospectiva musical do ano.

O pernambucano DJ Dolores: milhares de adeptos nas pistas européiasFoto: Maria Chaves

O grande sucesso da cena de world music em 2005, na Alemanha, foi o casal de cegos Amadou e Mariam, do Mali. Os dois compõem juntos desde que se conheceram numa escola para deficientes visuais em Bamaco, capital do país.

Até que conseguissem chegar aos ouvidos europeus, foram necessárias muitas fitas cassete enviadas a produtores e gravadoras, algumas mudanças de cidade ainda na África e infindáveis duchas de água fria num país onde é praticamente impossível viver apenas de música. Mas não é que, na década de 90, um produtor francês ouviu o som dos dois e a mudança para Paris aconteceu.

Mãozinha de Manu Chao

O sucesso internacional só viria, porém, daí a dez anos, com a mãozinha dada, em meados de 2005, pela estrela da world music: Manu Chao. Amadou e Mariam produziram com ele o CD Dimanche a Bamako (Domingo em Bamaco) e se transformaram num sucesso total de público.

Semanas a fio, os dois encabeçaram o ranking de world music europeu, chegando até mesmo às paradas pop em vários países, com direito a incontáveis apresentações em festivais internacionais e programas de rádio. Ou seja, em setembro último, o casal do Mali foi verdadeiramente celebrado como "a novidade do ano". Uma ironia do destino, considerando que eles têm 30 anos de estrada musical.

Por que África Ocidental?

E por que tantos músicos vindos da África Ocidental nas rádios e nos palcos europeus? O volume de música de qualidade feito ali é realmente alto ou será que existe uma tendência a divulgar melhor o que se produz nas ex-colônias francesas? O som que vem do oeste africano, especialmente do Mali, já se tornou um must nas paradas de sucesso européias.

Em 2005, também o segundo lugar no ranking de world music ficou nas mãos de músicos do país. O CD In The Heart of Moon, de Toumani Diabate e Ali Farka Toure, é, em termos de produção musical, o inverso de qualquer estrutura pop. Foi gravado ao vivo, sem ensaios, em três shows de duas horas.

O resultado mostra como dois músicos sensacionais se encontram: Ali Farka Toure – o todo poderoso do blues malinês, com o som áspero de seu violão – e Toumani Diabate celebraram em grande estilo a volta à cena musical.

Hip hop de imigrantes: sucesso total

O projeto afro-alemão Bantu, ao receber prêmio na África do SulFoto: presse

Mas será que é possível encontrar boa música africana vinda da Alemanha? Em relação a 2005, é uma obrigação dizer que sim, é possível. A banda Bantu – um projeto teuto-nigeriano de hip hop do teuto-africano Ade Odukoja – resgatou as raízes africanas, colocando no mercado o CD Fuji Satisfaction, ao lado de Adewale Ajuba. Mas o sucesso da banda Bantu não se reduz à Europa. O CD acaba de receber dois Kora Awards, uma espécie de Grammy sul-africano.

E do Brasil?

O maior exemplo é definitivamente DJ Dolores (Hélder Aragão). Seu Aparelhagem passou também um longo tempo em primeiro lugar no ranking da world music na Europa e seus shows no continente atraíram milhares de adeptos às pistas de dança. Somente durante a Jornada da Juventude, em Colônia, seus remixes iconoclastas moveram nada menos que 65 mil pessoas.

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Música eletrônica dos Bálcãs

DJ Shantel, de Frankfurt: som dos Bálcãs remixado para o resto da EuropaFoto: dw-tv

Orquestras de sopro do Sudeste Europeu já são conhecidas nas capitais da Europa Central há mais de uma década. A junção de uma charanga acelerada com eletrônicos, porém, foi uma das novidades do ano.

O melhor exemplo do gênero em alta é o DJ Shantel, de Frankfurt, com seu Bucovina Club – um coletivo de música romena aliada a escapadas sonoras de rock-retrô. A música tradicional da Moldávia a Sérvia, processada pelos computadores da cena clubber, chegou às pistas de dança, sacudindo centenas de pessoas em todo o país.

Afinal, um dos maiores objetivos da chamada "música do mundo" é unir tradição e modernos, das mais diversas procedências, criando a partir daí algo novo. Outro exemplo bem-sucedido do ano foi o CD Music for Crocodiles, de Susheela Raman.

A filha de imigrantes do sul da Índia, que cresceu na Inglaterra e na Austrália, mistura clássico indiano com rock ocidental, tradição tâmil com soul, pop e ritmos africanos, criando um estilo próprio. Tão único que a sensação é a de que nunca houve tal fusão de ritmos orientais e ocidentais anteriormente.

Uma das ausências na cena da world music é sentida quando se fala em China, Indonésia e Tailândia, por exemplo. Ok, é possível que se possa dançar melhor ao som de um pop africano ou de um reggae, mas o que se convencionou chamar "música do mundo" é mais que simplesmente uma garantia de bom humor tropical na próxima festa européia. Há ainda, em relação aos sons dos quatro cantos do planeta, muito a descobrir.

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