Milhares de jovens voltam às ruas e bloqueiam importante via de tráfego da região. Ato exige a renúncia da chefe de governo, a libertação de detidos em protestos e o descarte completo da controversa lei de extradição.
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Milhares de manifestantes bloquearam nesta sexta-feira (21/06) uma avenida nas proximidades do Parlamento de Hong Kong e cercaram a sede da polícia local. A multidão exigia a renúncia da chefe de governo local devido a um polêmico projeto de lei de extradição que provocou a maior crise política do território administrativo chinês em décadas.
Os manifestantes – em sua maioria adolescentes e jovens vestidos de preto – montaram um bloqueio na Harcourt Road, a principal via de tráfego da parte insular de Hong Kong e que corta o movimentado distrito comercial. Imagens de vídeo mostram que eles deixaram aberta uma faixa da pista para os veículos.
O protesto é uma resposta de parte da população depois que o governo local se recusou a atender às demandas dos milhões de manifestantes que marcharam em oposição a um projeto de lei que permitiria extradições à China continental. O movimento se transformou numa repreensão ao governo da líder pró-Pequim Carrie Lam, chefe de governo de Hong Kong.
Ativistas têm afirmado que a lei de extradição faz parte de uma campanha de Pequim para minar as instituições democráticas da região semiautônoma. Os líderes dos protestos dizem estar determinados a manter a pressão sobre o governo local.
O ato desta sexta-feira é o mais recente de vários realizados no espaço de duas semanas e que paralisaram partes do centro de Hong Kong – cenas que lembram o movimento pró-democracia de 2014, que ocupou os principais distritos por mais de dois meses.
O protesto ocorre um dia depois de o governo ter ignorado um prazo estabelecido por estudantes de várias universidades de Hong Kong, que pediam para que o projeto de lei de extradição fosse completamente descartado.
Um cartaz para promover a manifestação incentivou os participantes a se sentarem no chão e "fazerem piqueniques" em torno da sede do governo, que foi fechada antes do protesto devido a preocupações de segurança.
Muitos manifestantes se sentaram com guarda-chuvas abertos para tapar o sol, borrifaram água para combater o calor ou encontraram sombra embaixo de uma ponte perto do complexo. A multidão então seguiu para a Harcourt Road e bloqueou a importante via de tráfego.
"Fisicamente e mentalmente estou muito cansado. Mas não há outra maneira. Como cidadão de Hong Kong, não tem como não sair [às ruas]", disse o estudante Cheung Po Lam, de 21 anos. "Estou muito insatisfeito com a atitude do governo."
Além da renúncia da líder do governo e do cancelamento da lei de extradição, os manifestantes também exigiram a libertação dos detidos durante confrontos com policiais em protestos anteriores e a abertura de uma investigação sobre alegações de brutalidade policial.
"O governo ainda não respondeu às nossas exigências, depois de tantos dias. Eles estão falando bobagens e transferindo a culpa de um para o outro", disse Poyee Chan, de 28 anos. "Eu sinto que precisamos sair e dizer a eles: nós, cidadãos, não aceitaremos respostas falsas."
A convocação para o protesto desta sexta-feira foi feita por sindicatos estudantis, assim como por organizadores informais em redes sociais e aplicativos de mensagens como o Telegram. Os grupos também recomendaram uma greve em massa, mas não ficou claro quais áreas comerciais ou profissionais apoiariam tal pedido.
Carrie Lam tem desafiado as exigências de renúncia e, apesar de ter pedido desculpas e suspendido indefinidamente o projeto de lei de extradição, ela não conseguiu acalmar a irritação popular.
Embora Hong Kong tenha sido devolvida pelo Reino Unido ao governo chinês em 1997, a região ainda é administrada separadamente sob um acordo conhecido como "um país, dois sistemas". Hong Kong goza de liberdades civis não vistas na China continental, mas muitos habitantes têm se mostrado preocupados nos últimos anos pelo que consideram um aperto maior de Pequim.
Opositores do projeto de lei de extradição temem que este reprima o povo de Hong Kong por meio do sistema de Justiça obscuro e politizado da China e que também dê a Pequim uma ferramenta para atacar seus críticos baseados na região semiautônoma.
O governo chinês apoiou a proposta de extradição e acusou os organizadores de protestos de conluio com governos ocidentais. Pequim também rejeitou expressões de apoio à oposição de Hong Kong e as classificou de interferência nos assuntos internos da região e da China. No entanto, após a suspensão indeterminada do projeto de lei, o governo chinês afirmou respeitar e entender a decisão.
Duas décadas depois de Hong Kong retornar ao domínio chinês, predomina entre muitos moradores a insatisfação com a ingerência de Pequim e o desejo por mais democracia.
Foto: Reuters/D. Martinez
1997 - Devolução à China
Após 156 anos de domínio britânico, Hong Kong era devolvida à China exatamente à zero hora de 1º de julho de 1997. Soldados do Exército de Libertação Popular içaram a bandeira chinesa, em sinal de supremacia sobre a antiga colônia britânica. O contrato para a devolução já havia sido assinado em 1984.
Foto: Reuters/D. Martinez
1998 - Ameaça de crise econômica
A crise financeira asiática de 1997-98 levou economias emergentes a impor controles comerciais ou à compra de ativos para tranquilizar investidores. Hong Kong surpreendeu o mercado em agosto de 1998 com uma intervenção de 15 bilhões de dólares para se defender de ataques especulativos. Os apoiadores da iniciativa dizem que isso salvou a cidade.
Foto: Reuters/L. Chan
1999 - Reagrupamento de famílias
As esperanças de um rápido reagrupamento das famílias separadas pela fronteira foram logo destruídas. Embora a Suprema Corte de Hong Kong tivesse concedido amplos direitos de residência, o governo chinês derrubou a decisão a pedido do governo de Hong Kong. Na foto, mais de cem visitantes da China continental protestaram para obter permissão de residência imediata em Hong Kong.
Foto: Reuters/B. Yip
2000 - Sucesso com a bolha
Em fevereiro de 2000, investidores entraram numa fila diante do banco HSBC para comprar ações da empresa Tom.com. Ao se lançar na bolsa de valores, a empresa – que existia apenas na internet – do bilionário Li Ka-shing conseguiu angariar quase 100 milhões de dólares pouco antes de estourar a bolha "dot-com".
Foto: Reuters/B. Yip
2001 - Conflito com grupo espiritual
Seguidores do movimento espiritual Falun Gong protestam regularmente em Hong Kong desde que o grupo foi banido pela China em 1999, sob a acusação de divulgar superstições e manipular as pessoas psicologicamente. Em 2002, 16 seguidores foram condenados por causa de protestos diante da representação da China em Hong Kong. A Suprema Corte do território reverteu metade das sentenças.
Foto: Reuters/K. Cheung
2002 - Famílias desesperadas
A questão das autorizações de residência acirrou-se em 2002, quando Hong Kong começou a deportar 4 mil chineses continentais que haviam perdido batalhas legais para residir no território. Houve protestos dos solicitantes e de seus apoiadores. Na foto, parentes de migrantes chineses depois de terem sido expulsos de um parque no centro de Hong Kong.
Foto: Reuters/K. Cheung
2003 - Nas mãos de um vírus
A Sars, uma doença viral semelhante à gripe, atingiu Hong Kong de tal forma que, em março de 2003, a Organização Mundial da Saúde a declarou uma pandemia. Até a cidade ser considerada livre da doença, em junho, 299 pessoas morreram, entre elas Tse Yuen-man. A médica de 35 anos esteve entre os primeiros voluntários a cuidar de pacientes com Sars. Em seu funeral, ela recebeu as mais altas honras.
Foto: Reuters/B. Yip
2004 - Frustração com Pequim
Centenas de milhares de pessoas participaram de protestos no sétimo aniversário da devolução à China. Pequim descartou o sufrágio universal em Hong Kong em 2007 ou 2008 e continuou freando as reformas políticas. Além disso, a China decretou que o governo de Pequim precisa aprovar qualquer alteração no direito de voto em Hong Kong, o que praticamente elimina qualquer aspiração democrática.
Foto: Reuters/B. Yip
2005 - Violência em protestos
Reuniões da Organização Mundial do Comércio regularmente são alvos de protestos dos adversários da globalização. Em Hong Kong, no final de 2005, não foi diferente. A polícia usou canhões de água e gás lacrimogêneo contra os manifestantes.
Foto: Reuters/L. Jae-Won
2006 - Conflito com o Japão
A China e o Japão disputavam um grupo de ilhas desabitadas. Acreditava-se que perto delas houvesse reservas de petróleo e de gás. Em outubro, um barco com ativistas de um comitê para defender as ilhas Diaoyi e que tem base em Hong Kong se aproximou 20km da ilha principal até ser interceptado por um barco de patrulha japonês.
Foto: Reuters/P. Yeung
2007 - Preservar a história
Um píer da era colonial tornou-se pivô de nova polêmica. O governo queria removê-lo para recuperar terras e construir estradas. Ativistas furiosos que consideravam o píer um local histórico lutaram pela sua preservação. O embate atingiu seu ponto alto em agosto, quando a polícia removeu um acampamento de ativistas e pessoas em greve de fome que já durava três meses. Em 2008, o píer foi demolido.
Foto: Reuters/P. Yeung
2008 - Morar em gaiolas
Terrenos cada vez mais caros tornaram os aluguéis impagáveis para muitas pessoas em Hong Kong. Milhares de moradores passaram a viver em gaiolas, onde dispunham de cerca de 1,4 m2. Em geral, um cômodo tem oito dessas caixas de arame. Em 2017, estima-se que 200 mil pessoas vivam assim ou disponham de apenas uma cama em apartamentos divididos.
Foto: Reuters/V. Fraile
2009 - Contra o esquecimento
Moradores de Hong Kong vestidos de preto e branco fizeram uma vigília no 20º aniversário da violenta repressão aos manifestantes pró-democracia na Praça da Paz Celestial em Pequim em 1989. O Victoria Park, no centro de Hong Kong, transformou-se num mar de velas.
Foto: Reuters/A. Tam
2010 - Projetos indesejados
Crescia em Hong Kong a insatisfação devido à falta de democracia e o fato de o governo não ter de prestar contas. As raiva coletiva é descarregada em forma de protestos contra os planos do governo de construir um trajeto para trens de alta velocidade ligando Hong Kong ao continente. O projeto ferroviário, não implementado até hoje, previa a destruição de um vilarejo.
Foto: Reuters/B. Yip
2011 - Protestos com papel
Um controverso projeto de lei que eliminou o mecanismo de eleições suplementares para o Conselho Legislativo gerou vários dias de protestos em frente ao prédio do conselho. Centenas de manifestantes jogaram aviões de papel com mensagens políticas contra o prédio.
Foto: Reuters/B. Yip
2012 - Desafios da administração
Leung Chun-ying (à esquerda) presta juramento como chefe de governo da região administrativa especial, diante do então presidente chinês, Hu Jintao. Ele prometeu mais democracia e moradias mais acessíveis. Apesar de medidas de contenção, os preços continuaram subindo, e as reformas políticas ainda estão emperradas. Leung Chun-ying não concorreu a um novo mandato.
Foto: REUTERS/File Photo/B. Yip
2013 - Hong Kong no foco da imprensa
Quando começaram a ser publicadas notícias sobre Edward Snowden e segredos dos EUA, o especialista em TI estava em Hong Kong. Apesar de os Estados Unidos terem pedido sua extradição, Hong Kong deixou Snowden voar para Moscou, onde ele recebeu asilo político. Enquanto alguns veem em Snowden um denunciante corajoso, outros o consideram um traidor da pátria.
Foto: Reuters/B. Yip
2014 - Protestos de guarda-chuva
Durante dois meses, Hong Kong teve grandes manifestações pró-democracia. A exigência era a escolha completamente democrática do chefe de governo. A marca registrada dos protestos foram os guarda-chuvas usados pelos manifestantes para se proteger do spray de pimenta da polícia. As manifestações são vistas como o maior desafio à autoridade da China desde o movimento por mais democracia, em 1989.
Foto: Reuters/T. Siu
2015 - Liberdade de expressão no estádio
A partida de futebol entre China e Hong Kong pelas eliminatórias da Copa de 2018 foi palco de protestos. Torcedores de Hong Kong empunharam cartazes com os dizeres "Hong Kong não é China" enquanto era tocado o hino nacional chinês. Há muita tensão entre os dois lados desde os "protestos dos guarda-chuvas". O jogo acabou em 0 a 0.
Foto: Reuters/B. Yip
2016 - Até correr sangue
Novos protestos foram realizados em Hong Kong. Mais uma vez, a polícia usou spray de pimenta e cassetetes. A razão: as autoridades tentaram remover vendedores de rua ilegais num bairro operário. Foram as mais violentas batalhas de rua desde os protestos de 2014.
Foto: Reuters/B. Yip
2017 - O tempo passa
No parque memorial rei George 5º, um dos poucos parques onde ainda há uma ligação com o passado colonial, as raízes de uma figueira cobrem uma placa, 20 anos após a devolução de Hong Kong à China pelos britânicos.