Manifestantes invadem sede do Legislativo em Hong Kong
1 de julho de 2019
Grupo bloqueia ruas, derruba barreiras e ocupa por três horas prédio parlamentar em ato pró-democracia. Confrontos com forças de segurança deixam feridos. Protesto marca aniversário do retorno de Hong Kong à China.
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Um grupo de centenas de manifestantes invadiu a sede do Conselho Legislativo de Hong Kong nesta segunda-feira (01/07), em manifestações que coincidem com o 22º aniversário do retorno da então colônia britânica ao governo chinês, ocorrido em 1º de julho de 1997.
Com guarda-chuvas em mãos, um grupo de manifestantes usou barras de ferro e um carrinho de metal para derrubar barreiras, quebrar janelas e romper as portas de vidro do prédio do Conselho Legislativo. A polícia local reagiu com disparos de spray de pimenta e golpes de cassetete contra alguns dos manifestantes.
O incidente ocorreu enquanto milhares de moradores de Hong Kong voltaram a bloquear as vias nos arredores do complexo governamental da região semiautônoma.
Cerca de três horas após a ocupação da sede do Legislativo, pouco depois da meia-noite no horário local (13h em Brasília), os manifestantes deixaram o prédio em meio à confirmação de que as forças policiais se preparavam para entrar no edifício.
Pouco depois de sua saída, centenas de policiais empregaram gás lacrimogêneo para dissolver os grupos de manifestantes que permaneciam concentrados nas avenidas próximas à sede parlamentar.
O governo de Hong Kong acusou os ativistas de agirem com extrema violência. "Os manifestantes radicais entraram com força e extrema violência no complexo do Conselho Legislativo", diz um comunicado do governo, que descreveu a atuação dos manifestantes como "inaceitável pela sociedade".
As autoridades de saúde de Hong Kong informaram que trataram 54 pessoas feridas após os protestos, segundo o jornal South China Morning Post. Três pessoas estão em estado grave.
Os protestos no aniversário da devolução de Hong Kong à China fazem parte de uma grande onda de manifestações que vem atraindo milhares de pessoas às ruas, contra um projeto de lei que pretendia permitir extradições à China continental.
Em resposta aos movimentos, o governo local adiou o debate recentemente, mas os líderes do protesto exigem que o projeto de lei seja formalmente descartado e que a chefe de governo de Hong Kong, Carrie Lam, renuncie ao cargo.
A marcha pró-democracia desta segunda-feira teve em seu roteiro o início no Parque Victoria, no bairro de Causeway Bay, e o fim nos arredores dos escritórios governamentais situados próximos ao centro financeiro da ilha. O aniversário de devolução ao governo chinês é feriado, portanto os mercados financeiros e a maioria das empresas estão fechados.
Nas primeiras horas do dia, pequenos grupos de manifestantes mascarados – a maioria deles jovens – assumiram o controle de três das principais ruas da cidade. Eles montaram barreiras de metal e plástico para bloquear as vias. Confrontos com a tropa de choque da polícia foram relatados nos distritos de Admiralty e Wanchai.
Os distúrbios matinais ocorreram pouco antes de uma cerimônia de hasteamento de bandeira do governo para o 22º aniversário do retorno da cidade ao domínio chinês. O evento foi conduzido por Lam, que havia sido vista em público pela última vez há mais de dez dias. Em seu discurso, ela fez uso de um tom conciliatório.
"O que aconteceu nos últimos meses causou conflitos e disputas entre o governo e os moradores", disse a líder pró-Pequim. "Isso me fez entender que, como política, eu preciso estar ciente e compreender com precisão os sentimentos das pessoas."
A celebração do aniversário de 1º de julho foi manchada pelo aumento da insatisfação entre muitos moradores sobre o que muitos veem como crescente interferência da China em Hong Kong e a consequente erosão das liberdades.
Na ex-colônia britânica rege o princípio de "um país, dois sistemas". A fórmula permite a liberdade de protestos e que a região semiautônoma tenha um Judiciário independente – duas questões que não são aceitas na China. Também por isso Hong Kong virou o destino de muitos dissidentes que deixaram a China continental para fugir da perseguição política.
No entanto, o projeto de lei apresentado em fevereiro abriria uma brecha para que pessoas acusadas de crimes em Hong Kong pudessem ser extraditadas à China continental – medida vista por diversos grupos civis como uma ameaça para as liberdades regentes em Hong Kong.
Nesta segunda-feira, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang, afirmou que o Reino Unido não possui responsabilidade sobre Hong Kong e que Pequim desaprova que Londres advogue pelo território. O comentário foi emitido depois que o ministro do Exterior britânico, Jeremy Hunt, ter dito que o Reino Unido continuaria pressionando a China para que respeite os termos sob os quais Hong Kong foi entregue ao país.
Duas décadas depois de Hong Kong retornar ao domínio chinês, predomina entre muitos moradores a insatisfação com a ingerência de Pequim e o desejo por mais democracia.
Foto: Reuters/D. Martinez
1997 - Devolução à China
Após 156 anos de domínio britânico, Hong Kong era devolvida à China exatamente à zero hora de 1º de julho de 1997. Soldados do Exército de Libertação Popular içaram a bandeira chinesa, em sinal de supremacia sobre a antiga colônia britânica. O contrato para a devolução já havia sido assinado em 1984.
Foto: Reuters/D. Martinez
1998 - Ameaça de crise econômica
A crise financeira asiática de 1997-98 levou economias emergentes a impor controles comerciais ou à compra de ativos para tranquilizar investidores. Hong Kong surpreendeu o mercado em agosto de 1998 com uma intervenção de 15 bilhões de dólares para se defender de ataques especulativos. Os apoiadores da iniciativa dizem que isso salvou a cidade.
Foto: Reuters/L. Chan
1999 - Reagrupamento de famílias
As esperanças de um rápido reagrupamento das famílias separadas pela fronteira foram logo destruídas. Embora a Suprema Corte de Hong Kong tivesse concedido amplos direitos de residência, o governo chinês derrubou a decisão a pedido do governo de Hong Kong. Na foto, mais de cem visitantes da China continental protestaram para obter permissão de residência imediata em Hong Kong.
Foto: Reuters/B. Yip
2000 - Sucesso com a bolha
Em fevereiro de 2000, investidores entraram numa fila diante do banco HSBC para comprar ações da empresa Tom.com. Ao se lançar na bolsa de valores, a empresa – que existia apenas na internet – do bilionário Li Ka-shing conseguiu angariar quase 100 milhões de dólares pouco antes de estourar a bolha "dot-com".
Foto: Reuters/B. Yip
2001 - Conflito com grupo espiritual
Seguidores do movimento espiritual Falun Gong protestam regularmente em Hong Kong desde que o grupo foi banido pela China em 1999, sob a acusação de divulgar superstições e manipular as pessoas psicologicamente. Em 2002, 16 seguidores foram condenados por causa de protestos diante da representação da China em Hong Kong. A Suprema Corte do território reverteu metade das sentenças.
Foto: Reuters/K. Cheung
2002 - Famílias desesperadas
A questão das autorizações de residência acirrou-se em 2002, quando Hong Kong começou a deportar 4 mil chineses continentais que haviam perdido batalhas legais para residir no território. Houve protestos dos solicitantes e de seus apoiadores. Na foto, parentes de migrantes chineses depois de terem sido expulsos de um parque no centro de Hong Kong.
Foto: Reuters/K. Cheung
2003 - Nas mãos de um vírus
A Sars, uma doença viral semelhante à gripe, atingiu Hong Kong de tal forma que, em março de 2003, a Organização Mundial da Saúde a declarou uma pandemia. Até a cidade ser considerada livre da doença, em junho, 299 pessoas morreram, entre elas Tse Yuen-man. A médica de 35 anos esteve entre os primeiros voluntários a cuidar de pacientes com Sars. Em seu funeral, ela recebeu as mais altas honras.
Foto: Reuters/B. Yip
2004 - Frustração com Pequim
Centenas de milhares de pessoas participaram de protestos no sétimo aniversário da devolução à China. Pequim descartou o sufrágio universal em Hong Kong em 2007 ou 2008 e continuou freando as reformas políticas. Além disso, a China decretou que o governo de Pequim precisa aprovar qualquer alteração no direito de voto em Hong Kong, o que praticamente elimina qualquer aspiração democrática.
Foto: Reuters/B. Yip
2005 - Violência em protestos
Reuniões da Organização Mundial do Comércio regularmente são alvos de protestos dos adversários da globalização. Em Hong Kong, no final de 2005, não foi diferente. A polícia usou canhões de água e gás lacrimogêneo contra os manifestantes.
Foto: Reuters/L. Jae-Won
2006 - Conflito com o Japão
A China e o Japão disputavam um grupo de ilhas desabitadas. Acreditava-se que perto delas houvesse reservas de petróleo e de gás. Em outubro, um barco com ativistas de um comitê para defender as ilhas Diaoyi e que tem base em Hong Kong se aproximou 20km da ilha principal até ser interceptado por um barco de patrulha japonês.
Foto: Reuters/P. Yeung
2007 - Preservar a história
Um píer da era colonial tornou-se pivô de nova polêmica. O governo queria removê-lo para recuperar terras e construir estradas. Ativistas furiosos que consideravam o píer um local histórico lutaram pela sua preservação. O embate atingiu seu ponto alto em agosto, quando a polícia removeu um acampamento de ativistas e pessoas em greve de fome que já durava três meses. Em 2008, o píer foi demolido.
Foto: Reuters/P. Yeung
2008 - Morar em gaiolas
Terrenos cada vez mais caros tornaram os aluguéis impagáveis para muitas pessoas em Hong Kong. Milhares de moradores passaram a viver em gaiolas, onde dispunham de cerca de 1,4 m2. Em geral, um cômodo tem oito dessas caixas de arame. Em 2017, estima-se que 200 mil pessoas vivam assim ou disponham de apenas uma cama em apartamentos divididos.
Foto: Reuters/V. Fraile
2009 - Contra o esquecimento
Moradores de Hong Kong vestidos de preto e branco fizeram uma vigília no 20º aniversário da violenta repressão aos manifestantes pró-democracia na Praça da Paz Celestial em Pequim em 1989. O Victoria Park, no centro de Hong Kong, transformou-se num mar de velas.
Foto: Reuters/A. Tam
2010 - Projetos indesejados
Crescia em Hong Kong a insatisfação devido à falta de democracia e o fato de o governo não ter de prestar contas. As raiva coletiva é descarregada em forma de protestos contra os planos do governo de construir um trajeto para trens de alta velocidade ligando Hong Kong ao continente. O projeto ferroviário, não implementado até hoje, previa a destruição de um vilarejo.
Foto: Reuters/B. Yip
2011 - Protestos com papel
Um controverso projeto de lei que eliminou o mecanismo de eleições suplementares para o Conselho Legislativo gerou vários dias de protestos em frente ao prédio do conselho. Centenas de manifestantes jogaram aviões de papel com mensagens políticas contra o prédio.
Foto: Reuters/B. Yip
2012 - Desafios da administração
Leung Chun-ying (à esquerda) presta juramento como chefe de governo da região administrativa especial, diante do então presidente chinês, Hu Jintao. Ele prometeu mais democracia e moradias mais acessíveis. Apesar de medidas de contenção, os preços continuaram subindo, e as reformas políticas ainda estão emperradas. Leung Chun-ying não concorreu a um novo mandato.
Foto: REUTERS/File Photo/B. Yip
2013 - Hong Kong no foco da imprensa
Quando começaram a ser publicadas notícias sobre Edward Snowden e segredos dos EUA, o especialista em TI estava em Hong Kong. Apesar de os Estados Unidos terem pedido sua extradição, Hong Kong deixou Snowden voar para Moscou, onde ele recebeu asilo político. Enquanto alguns veem em Snowden um denunciante corajoso, outros o consideram um traidor da pátria.
Foto: Reuters/B. Yip
2014 - Protestos de guarda-chuva
Durante dois meses, Hong Kong teve grandes manifestações pró-democracia. A exigência era a escolha completamente democrática do chefe de governo. A marca registrada dos protestos foram os guarda-chuvas usados pelos manifestantes para se proteger do spray de pimenta da polícia. As manifestações são vistas como o maior desafio à autoridade da China desde o movimento por mais democracia, em 1989.
Foto: Reuters/T. Siu
2015 - Liberdade de expressão no estádio
A partida de futebol entre China e Hong Kong pelas eliminatórias da Copa de 2018 foi palco de protestos. Torcedores de Hong Kong empunharam cartazes com os dizeres "Hong Kong não é China" enquanto era tocado o hino nacional chinês. Há muita tensão entre os dois lados desde os "protestos dos guarda-chuvas". O jogo acabou em 0 a 0.
Foto: Reuters/B. Yip
2016 - Até correr sangue
Novos protestos foram realizados em Hong Kong. Mais uma vez, a polícia usou spray de pimenta e cassetetes. A razão: as autoridades tentaram remover vendedores de rua ilegais num bairro operário. Foram as mais violentas batalhas de rua desde os protestos de 2014.
Foto: Reuters/B. Yip
2017 - O tempo passa
No parque memorial rei George 5º, um dos poucos parques onde ainda há uma ligação com o passado colonial, as raízes de uma figueira cobrem uma placa, 20 anos após a devolução de Hong Kong à China pelos britânicos.