Mantega culpa estiagem, feriados e cenário externo por queda no PIB
29 de agosto de 2014O ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu nesta sexta-feira (29/08) que a queda de 0,6% do PIB no Brasil, no segundo trimestre, foi um resultado pior do que as expectativas do governo e do mercado. Ele atribuiu o recuo à estiagem, ao cenário externo e ao número de dias úteis do período, reduzido, em parte, devido à Copa do Mundo.
Como o PIB do primeiro trimestre do ano foi revisado para baixo, de 0,2% para -0,2%, o país pode ser considerado em recessão técnica. O ministro, porém, rejeitou o termo.
"Recessão é uma parada prolongada, como nos países europeus, que ficaram vários trimestres consecutivos com o PIB parado", afirmou Mantega. "Aqui foram dois trimestres e sabemos que a economia está em movimento. Recessão é quando há desemprego aumentando e a renda, caindo."
O ministro disse que a estiagem elevou o custo da energia elétrica e acabou alterando a expectativa dos investidores. Além disso, ressaltou, a economia internacional não teve o impacto esperado e o número de feriados foi maior que a média.
"Parece pouco, mas é como se fosse 10% a mais na produção", justificou Mantega, em referência ao número de dias úteis. Ele ressaltou, porém, que o problema foi pontual nos dois primeiros trimestres e não vai se repetir no próximo semestre.
O ministro admitiu ainda que haverá uma revisão da projeção do governo para o desempenho da economia em 2014, que atualmente é de 1,8% de expansão. "Com esse resultado [no segundo trimestre], não será possível alcançar esse crescimento."
Recessão técnica
O termo recessão técnica divide economistas. A última vez que o país enfrentou o problema foi no último trimestre de 2008 (-4,2%) e no primeiro de 2009 (-1,7%) devido à crise internacional.
No segundo trimestre de 2014, a agropecuária foi o único setor que cresceu, com 0,2%. Já a indústria (-1,5%) e os serviços (-0,5%) recuaram, sendo este último setor responsável por mais de 60% do PIB.
Quanto à demanda, houve uma alta no consumo das famílias (0,3%), mas recuos no consumo do governo (-0,7%) e formação bruta de capital fixo, ou seja, dos investimentos (-5,3%).
"A economia brasileira vem desacelerando gradativamente há algum tempo, e mudanças neste ano para reativá-la, por conta das eleições, não vão ser implementadas", opina o economista Evaldo Alves, da FGV. "A economia deve recuar mais um pouco, a menos que o governo federal dê incentivos, como ocorreu na semana passada."
Em comparação com o segundo trimestre do ano passado, o PIB encolheu 0,9%. A agropecuária ficou estável (0,0%), a indústria diminuiu 3,4% e o setor de serviços aumentou 0,2%.
Para o economista Reginaldo Nogueira, do Ibmec/MG, a indústria brasileira está muito fraca e não há investimento privado devido à piora das expectativas com o futuro da economia. "O país precisa rapidamente de uma melhora da agenda econômica para restaurar a confiança no meio empresarial e reerguer o investimento."