Real mais fraco
19 de abril de 2011Anúncio
Quando a recuperação financeira dos Estados Unidos apresentar mais sinais positivos nas taxas de desemprego e de investimentos, no segundo semestre deste ano, a supervalorização do real frente ao dólar deverá começar a baixar.
Essa avaliação foi feita pelo ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, durante o Brazil Summit 2011, evento promovido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, nesta segunda-feira (18/04) em Nova York. Mantega disse ainda que a inflação é uma realidade global, assim como o desemprego, que chega a 9,9% na União Europeia e a 9% nos Estados Unidos.
"O problema da inflação é mundial, porém é maior nos países emergentes por causa do preço das commodities. No Brasil, a inflação está na média e deve fechar 2011 perto dos 5,6%", afirmou o ministro. Em sua opinião, a crise financeira acabou nos países menos desenvolvidos, mas ainda continua presente nos mais ricos.
Mantega explicou que o governo brasileiro vem realizando ajustes na economia para reduzir o crescimento e não provocar um superaquecimento, controlando assim a inflação e promovendo maior ajuste fiscal.
O ministro disse ainda que o avanço do real sobre o dólar deve-se, na verdade, à desvalorização pós-crise da moeda norte-americana frente às demais moedas no mercado mundial. "Em relação ao euro, o real se desvalorizou no último período. Mas fica difícil impedir que o real suba diante de uma moeda tão fraca como o dólar".
Medidas prudenciais
O governo brasileiro tomou algumas medidas na tentativa de desacelerar a queda do dólar, como o aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em transações no exterior para pessoas físicas e jurídicas.
"Todas as medidas levam tempo para dar resultados. Esta já fez efeito, pois diminuiu o fluxo de entrada de dólares em abril, mais ainda não teve uma repercussão no valor do câmbio", afirmou Mantega, ressaltando que o objetivo é não prejudicar a produção industrial brasileira, nem as exportações.
Desde 2006 o governo vem comprando um volume grande de dólares no mercado e vem diminuindo o rendimento das aplicações de curto prazo, explicou. "Estamos agindo e continuaremos fazendo isso, mas você não pode esperar uma medida por dia, nem um resultado no dia seguinte", concluiu o ministro, dando como exemplo as medidas prudenciais de redução de crédito que entraram em vigor em novembro passado. "Só em março foi registrada a queda nas vendas de automóveis por consórcios", disse.
Dois lados da moeda
O ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, também participou do Brazil Summit 2011. Desde que deixou a presidência do Banco Central, em dezembro último, esta foi a primeira ocasião em que Meirelles voltou a falar com investidores norte-americanos. Ele negou que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha feito qualquer pedido para evitar o aumento das taxas de juros no final de seu governo. "A autonomia do BC no governo Lula é fato notório", disse Meirelles.
Quanto à questão cambial, Meirelles ressaltou que o forte mercado de consumo no Brasil e a possibilidade de exportação de recursos nacionais têm lados positivos e negativos. "Estamos atraindo investidores, as empresas brasileiras podem se modernizar, importar maquinários. Mas [a valorização do real] cria problemas de competitividade para a indústria nacional no mercado externo. É um equilíbrio natural. Se houver sobrevalorização, o tempo dirá e isso será corrigido".
Autora: Cleide Klock
Revisão: Carlos Albuquerque
Revisão: Carlos Albuquerque
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