Marchas no Reino Unido celebram cem anos do voto feminino
11 de junho de 2018
Milhares de mulheres vão às ruas em várias cidades britânicas em homenagem às sufragistas, que durante décadas lutaram pela participação feminina nas urnas. Protestos ainda exigem igualdade plena de direitos às mulheres.
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Milhares de mulheres saíram às ruas em várias cidades do Reino Unido neste domingo (10/06) para celebrar o centenário da lei que deu às primeiras mulheres o direito ao voto no país. As manifestantes aproveitaram a ocasião para reivindicar a plena igualdade de direitos.
As capitais das quatro nações britânicas, Londres, Edimburgo, Cardiff e Belfast, sediaram marchas simultâneas, nas quais as participantes carregavam lenços nas cores verde, branca ou violeta – que representam o movimento sufragista –, formando um grande mosaico tricolor.
Os atos deste domingo – um misto de desfile artístico com manifestação – foram organizados pelo grupo de arte Artichoke, especializado em grandes eventos colaborativos.
Antes das marchas, a organização pediu a cem artistas e grupos de mulheres que criassem faixas inspiradas nos clássicos e arrojados slogans das sufragistas, que lideraram décadas de protestos e desobediência civil para conquistar o direito ao voto feminino.
A organização Brownie packs and arts groups, para mulheres ex-presidiárias, e a associação de estofadoras Worshipful Company of Upholders foram alguns dos grupos que criaram banners para as manifestações.
As principais ruas das capitais britânicas se encheram de mulheres de todas as idades que levavam uma grande variedade de cartazes, com mensagens como: "Mulheres empoderadas", "Mulheres unidas mudarão o mundo" e "Poder feminino".
Também foram vistas faixas com a frase "No entanto, ela persistiu", que se tornou um bordão do movimento feminista no ano passado depois de a senadora americana Elizabeth Warren ter sido silenciada durante um debate.
"O objetivo é relembrar a luta que as sufragistas empreenderam para conseguir algo que agora parece normal, mas que foi uma ideia revolucionária em sua época", afirmou Amy McNeese-Mechan, coordenadora de cultura da prefeitura de Edimburgo.
A diretora do grupo Artichoke, Helen Marriage, disse ter se surpreendido com o alcance das manifestações. "Uma loja de artesanato em Londres nos disse que ficou sem tecidos nas cores roxa e verde, e eles não sabiam o porquê", contou a ativista.
Centenário do voto feminino
Em 1918, em plena Primeira Guerra Mundial, o Parlamento britânico aprovou uma lei que dava a mulheres acima de 30 anos e com um determinado patrimônio o direito de participar de eleições – na época, isso representava oito milhões de mulheres.
Somente dez anos depois, em 1928, o direito ao voto feminino foi igualado ao dos homens, e elas passaram a poder votar com 21 anos, independentemente do patrimônio.
Durante décadas, as mulheres lutaram em vão pelo direito ao voto e, no Reino Unido, essa luta foi a mais ferrenha entre todos os países da Europa, graças ao movimento sufragista.
Após anos de campanhas pacíficas, as ativistas recorreram a táticas mais violentas, chegando ao ponto de transgredir as leis para conquistar o direito de ir às urnas, incluindo se acorrentar a grades, quebrar vitrines e explodir caixas de correio.
Em abril deste ano, como parte das comemorações do centenário do voto feminino, uma estátua da líder sufragista Millicent Fawcett foi inaugurada em Londres, sendo o primeiro monumento em homenagem a uma mulher na Praça do Parlamento que, até então, tinha 11 estátuas de homens.
A líder feminista foi a fundadora da União Nacional pelo Sufrágio Feminino. Em 1866, ela recolheu assinaturas para a primeira petição exigindo a extensão do direito ao voto às mulheres.
Marriage, do grupo Artichoke, exaltou a memória das ativistas do sufrágio. "Elas foram pessoas realmente extraordinárias. Centenas delas foram mandadas à prisão. Elas foram alimentadas à força na cadeia. Nos termos de hoje, elas seriam descritas como terroristas", afirmou.
A ativista acrescentou que, embora o clima neste domingo seja de comemoração, as marchas pretendem também chamar a atenção para o tanto que ainda há a ser feito para alcançar a plena igualdade de direitos entre homens e mulheres, em temas como a disparidade salarial e o assédio sexual em locais de trabalho.
Em outros países, as mulheres precisaram lutar durante muitas décadas para finalmente ter o direito de votar. Na Suíça, por exemplo, a luta pelo sufrágio feminino durou até 1971. Na Arábia Saudita, as mulheres votaram pela primeira vez em 2015, mas apenas para escolher câmaras municipais com poucas atribuições. No Brasil, o sufrágio feminino foi aprovado nos anos 1930.
EK/afp/ap/efe/lusa
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As conquistas das mulheres alemãs
Do direito ao voto ao espaço na política: ao longo dos últimos cem anos as mulheres alemãs lutaram para derrubar leis e convenções que hoje soam impensáveis.
Foto: picture-alliance/akg-images
O direito ao voto
Em 1918, o Conselho dos Deputados da Alemanha proclamou: "Todas as eleições serão conduzidas sob o mesmo sufrágio secreto, direto e universal para todas as pessoas do sexo masculino e feminino com pelo menos 20 anos de idade". Logo depois, as mulheres puderam votar, pela primeira vez, nas eleições para a Assembleia Nacional alemã, em janeiro de 1919.
Foto: picture-alliance/akg-images
Lei de Proteção à Maternidade
A Lei entrou em vigor em 1952. Desde então, passou por várias alterações. O objetivo é assegurar a melhor proteção possível da saúde da mulher e do filho durante a gravidez, após o parto e durante a amamentação. Mulheres não podem sofrer desvantagens na vida profissional por causa da gravidez nem seu emprego pode ser ameaçado pela decisão de ser mãe.
Em 1971, Alice Schwarzer publicou na revista Stern um artigo no qual 374 mulheres confessaram ter interrompido a gravidez; entre elas, Romy Schneider. Após a publicação, dezenas de milhares de mulheres foram às ruas protestar a favor da maternidade autodeterminada. Em 1974, a coalizão social-liberal aprovou no Parlamento a descriminalização do aborto nos três primeiros meses da gestação.
Foto: Der Stern
Mais estudantes e professoras nas universidades
Em 1976, foi realizado em Berlim o evento "1° Universidade de Verão para as mulheres". Entre as exigências, as precursoras pediam o aumento da participação das mulheres entre estudantes e professoras, que era de 3 %. Em 1970, o percentual de estudantes passou para 9%. Hoje, ele chega a 48%. Em 1999, o número de professoras era de cerca de 4 mil. Hoje, elas são 11 mil em toda a Alemanha.
Foto: picture alliance/ZB/J. Kalaene
Livre da obrigação do serviço doméstico
Em 1977, entrou em vigor a nova lei de matrimônio. Até então, a esposa era "obrigada ao serviço doméstico". Ela só poderia trabalhar se não negligenciasse suas tarefas do lar e se o marido consentisse. Em 2014, 70% das mães trabalhavam fora; 30% em tempo integral e quase 40% em meio período. Entre os casais com crianças, a mulher alemã contribui com uma média de 22,6% da renda familiar.
Foto: picture-alliance/akg-images
Igualdade salarial
Em 1979, 29 funcionárias processaram o laboratório fotográfico Heinze, em Gelsenkirchen, pelo direito de ter a mesma remuneração por trabalhos iguais. Elas venceram: em 1980, o Parlamento alemão aprovou a lei sobre igualdade de tratamento de homens e mulheres no trabalho. Mas ainda há muito o que fazer: em , as mulheres ganharam 18% a menos por hora trabalhada do que os homens.
Foto: picture-alliance/chromorange
Pilotas da Lufthansa
Em 1986, a companhia aérea alemã Lufthansa permitiu, pela primeira vez, que duas mulheres completassem a formação de piloto. Elas são: Erika Lansmann e Nicola Lunemann (na foto). Hoje, nas diversas companhias aéreas do grupo, 417 mulheres trabalham como co-pilotas e 114 são comandantes.
Foto: Roland Fischer, Lufthansa
Trabalho noturno
Em 1992, o Tribunal Constitucional Federal revogou a proibição do trabalho noturno para mulheres. O Tribunal declarou que a alegada proteção estava associada com salários mais baixos e "desvantagens consideráveis". Na antiga Alemanha Oriental, as mulheres tinham sido autorizadas a praticar todas as profissões desde o início, a qualquer hora do dia ou da noite.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gerten
Sexo sem consentimento
Em 1997, a violação sexual no casamento passou a ser considerada crime. O Bundestag decidiu por uma maioria esmagadora que os maridos estupradores já não tinham direitos especiais. A ideia de que seria uma "ofensa menor de coerção" foi abolida. Todos os "atos sexuais" forçados passaram a ser punidos como estupro.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Kästle
Mulheres na política
Depois de conquistarem o direito ao voto na maior parte dos países, as mulheres tentam alcançar a mesma proporção de participação política que os homens. Em 1949, o percentual de alemãs no Bundestag era de 6,8%. Atualmente, elas são 35,3%. A primeira mulher a chefiar o governo foi Angela Merkel, em 2005. Em 2018, ela chegou ao quarto mandato como chanceler federal, cargo que exerceu até 2021.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Tarefas domésticas
Hoje as mulheres alemãs também lutam por direitos iguais em relação às tarefas domésticas e ao cuidado com familiares. Em 1965, elas exerciam esse trabalho durante, em média, quatro horas por dia; os homens, 17 minutos por dia. Atualmente as mulheres ainda gastam 43,8 pontos percentuais a mais de tempo com tarefas domésticas do que os homens: são quase 30 horas semanais, contra 20 dos homens.
Foto: Imago/O. Döring
O futuro
Para despertar o interesse das meninas em profissões antes consideradas masculinas, especialmente na indústria, desde 2001 empresas alemãs convidam meninas do 5º ano para o 'Girls day'. O dia das meninas é considerado o maior projeto de orientação profissional do mundo e, graças a ele, cada vez mais jovens mulheres decidem seguir carreira da área de ciências exatas na Alemanha.