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Mario Götze e sua volta ao futebol: "Olha eu aqui de novo"

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
20 de outubro de 2020

Deixando de lado cobranças na Alemanha, herói da Copa de 2014 migra para o futebol holandês. Se continuar esbanjando a autoconfiança demonstrada na estreia pelo PSV Eindhoven, talvez vejamos o ressurgimento de um craque.

Mario Götze comemora gol pelo PSV EindhovenFoto: Imago Images/Pro Shots

Logo na sua estreia pelo PSV Eindhoven no último domingo (18/10), Mario Götze deixou sua marca. Eram decorridos apenas nove minutos de jogo e até então o talentoso meio-campista ofensivo não tinha tocado na bola. Mas, de repente, ele percebeu um momento de indecisão da defesa adversária, tomou conta da bola rapidamente, driblou o goleiro com leveza e fez seu primeiro gol pelo clube holandês. Há quase um ano Götze não marcava num jogo oficial.

"Foi um gol típico dele. Inteligente, esperto e com excelente leitura do momento. Sem contar que fez uma ótima partida", elogiou o técnico Roger Schmidt e acrescentou: "Ele vai precisar de mais jogos." Depois de sua boa atuação e no que depender do treinador, Götze vai poder contar com isso.

Durante entrevista à TV Fox Sports, sorridente e feliz da vida como há tempo não se via, o herói da Copa de 2014 dizia: "É uma sensação muito boa estar de volta ao campo, anotar um gol e ajudar o meu time a vencer o PEC Zwolle." E venceu bem por 3x0, diga-se de passagem.

É bem provável que, a essa altura da sua vida, o aclamado Götze do Maracanã até prefira esquecer aquela noite. As expectativas criadas na época em torno do então jovem jogador de apenas 22 anos acabaram sendo um fardo na sua carreira, do qual não conseguiu se livrar nem no Bayern nem no Dortmund. Por um lado, as muitas cobranças e, por outro, a luta contra uma doença crônica (miopatia muscular) fizeram desabar sua trajetória profissional, que parecia se encaminhar para um melancólico fim.

Sua decisão de assinar um contrato com o PSV precisa ser entendida também considerando-se o desgaste que ele sofreu no futebol alemão nos últimos anos. Ele atuou sob o comando de diversos técnicos tanto no Bayern quanto no Dortmund, mas nenhum sequer tentou encaixá-lo no seu respectivo projeto de trabalho.

O futebol holandês poderá fazer bem para Götze. Sua decisão de tentar um novo recomeço na Eredivisie, que para os afoitos pode parecer um retrocesso, na realidade foi uma decisão consciente. Deixar a Alemanha para trás foi um passo acertado.

"Em vez de se desgastar com as críticas na mídia e tentar melhorar sua imagem junto à opinião pública alemã, com sua opção de jogar na Holanda ele se livra do peso das expectativas e cobranças na Alemanha, para se concentrar unicamente numa coisa que sabe fazer bem: jogar futebol", pondera o jornalista Daniel Sobolewski, do site DerWesten.  

Num clube de ponta, Götze poderia correr o risco de novamente ficar curtindo um banco de reservas e só entrar no time titular em última instância. Em Eindhoven, porém, ele tem posição garantida na equipe principal. O diretor de esportes John de Jong festejou sua contratação como um "presente dos céus" e o chama de "Campeão Mario". Na Alemanha, ao contrário, o chamavam ultimamente de "artilheiro da Copa, mas fracassado".

Sobre a história da seleção alemã, parece pairar uma maldição sobre os autores dos gols decisivos numa final de Copa do Mundo. A Alemanha triunfou em quatro Copas – 54, 74, 90 e 2014. Helmut Rahn, Gerd Müller, Andreas Brehme e Mario Götze marcaram os gols dos respectivos títulos, que deixaram os alemães felizes, mas os artilheiros, não. Problemas com alcoolismo, dívidas, depressão, situações de extrema necessidade deixaram suas marcas em Rahn, Müller e Brehme, das quais nunca mais se recuperaram totalmente. São histórias de heróis decaídos.

Mario Götze não pretende seguir essa sina. Ele ainda é um jogador de futebol de incrível talento. Não desaprendeu sua arte adquirida nas ruas de Dortmund.

Depois de sua estréia pelo PSV, Götze se mostrou confiante: "Sei que vou precisar de mais alguns jogos para voltar à minha melhor forma física e técnica. Até chegar aos 100% deve demorar algumas semanas. Mas vou chegar lá. Quero vencer uma Champions League e voltar à seleção alemã", declarou sorridente ao repórter da TV holandesa.

Se Mario Götze continuar esbanjando a autoconfiança demonstrada logo após sua estreia no futebol holandês, talvez tenhamos a oportunidade de assistir o ressurgimento de um craque que, para muitos, já era considerado um ex-jogador em atividade. Caso isso aconteça, preparemo-nos para ouvi-lo dizer: "Olha eu aqui de novo."

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças.

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.