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Mariupol relata morte de mais de 5 mil civis

7 de abril de 2022

No 42º dia da guerra, prefeito da cidade portuária afirma que tropas russas tentam encobrir seus rastros utilizando crematórios móveis. Defesa britânica diz que situação na cidade se deteriora cada vez mais.

Pessoas em frente a um prédio muito destruído
Moradores de Mariupol estão há semanas sem água, energia e alimentosFoto: Alexander Ermochenko/REUTERS

O prefeito de Mariupol, Vadym Boichenko, disse nesta quarta-feira (06/04) que mais de 5 mil civis foram mortos durante o cerco à cidade portuária por tropas russas no mês passado, entre elas 210 crianças.

Boichenko acrescentou que mais de 90% da infraestrutura da cidade foram destruídos pelos bombardeios russos e que as forças russas também atacaram hospitais, incluindo um onde 50 pessoas morreram queimadas. As informações não puderam ser checadas de forma independente pela DW.

O 42º dia da guerra na Ucrânia também foi marcado por novas sanções dos EUA à Rússia, incluindo as filhas de Vladimir Putin, por um discurso do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, ao Parlamento da Irlanda e pela imagem do papa Francisco beijando uma bandeira proveniente de Bucha.

Crematórios móveis 

Boichenko disse que as tropas russas "estão tentando encobrir o seu rasto" de destruição e começaram a utilizar crematórios móveis para fazer desaparecer os "vestígios dos seus crimes" na cidade.

Numa mensagem publicada no Telegram, Boichenko afirmou que, "após o genocídio generalizado cometido em Bucha, os principais líderes da Rússia ordenaram a destruição de qualquer evidência dos crimes cometidos pelo seu exército em Mariupol". 

"Há uma semana, algumas estimativas cautelosas indicavam 5 mil mortos [em Mariupol]. Mas, dado o tamanho da cidade, a destruição catastrófica, a duração do bloqueio e a resistência feroz, dezenas de milhares de civis de Mariupol podem ter sido vítimas dos ocupantes russos", escreveu.

Também nesta quarta-feira, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, disse que a Rússia está bloqueando o acesso humanitário a Mariupol porque quer esconder evidências de "milhares de pessoas mortas".

"Eles não poderão esconder tudo isso e enterrar todos esses ucranianos que morreram e estão feridos. É um número muito grande, são milhares de pessoas, é impossível esconder", afirmou.

Há semanas, dezenas de milhares de moradores de Mariupol enfrentam falta de água, energia, aquecimento, alimento e medicamentos, além de conviverem com constantes bombardeios e ataques de tropas russas. As cenas de um bombardeio a uma maternidade e de um ataque a um teatro que servia como abrigo chocaram o mundo. 

As autoridades de defesa britânicas disseram nesta quarta-feira que a situação na cidade está se deteriorando cada vez mais e que cerca de 160 mil pessoas permaneceram presas em Mariupol, que tinha 430 mil habitantes antes da guerra.

Prefeito afirma que 90% da cidade de Mariupol foi destruídaFoto: Alexei Alexandrov/AP Photo/picture alliance

Ajuda humanitária impedida de chegar

Um comboio de ajuda humanitária acompanhado pela Cruz Vermelha tenta, sem sucesso, entrar em Mariupol desde sexta-feira. Além disso, a França informou nesta quarta-feira que a Rússia está impedindo uma operação internacional de resgate de civis na cidade.

A ideia, proposta pelo presidente francês, Emmanuel Macron, em colaboração com os Executivos da Turquia e da Grécia, teria a participação da Cruz Vermelha Internacional e do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).

"A operação está pronta e pode ser realizada. Falta que os russos aceitem, mas até agora, recusaram", disse o porta-voz do governo da França, Gabriel Attal.

"Os militares russos impedem que a ajuda humanitária chegue a Mariupol e que os civis que queiram fugir, o façam", afirmou o porta-voz do Palácio do Eliseu.

Fuga para Zaporínjia

Nesta quarta-feira, cerca de 500 civis que saíram de Mariupol pelos seus próprios meios foram acolhidos pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e levados em segurança a Zaporínjia. O CICV reiterou a sua disponibilidade para colaborar "como intermediário neutro" na retirada dos habitantes de Mariupol.

A organização também pediu para ter acesso aos pormenores sobre as rotas de saída, os horários acordados e o destino final dos civis, após acusações de que milhares de pessoas que saíram de Mariupol teriam sido levadas contra a vontade para território controlado por forças russas ou mesmo para a Rússia.

Hostomel ficou devastada por mais de um mês de ataquesFoto: Metin Aktas/AA/picture alliance

400 moradores desaparecidos em Hostomel

O chefe da administração militar ucraniana de Hostomel disse que cerca de 400 moradores estão desaparecidos, após 35 dias de ocupação russa.

Hostomel está localizado a noroeste de Kiev e abriga um aeroporto de mesmo nome que recebe aviões de carga internacionais. A maioria dos 16 mil moradores da cidade fugiu.

Taras Dumenko afirmou que as autoridades vasculham os porões da cidade para encontrar moradores desaparecidos. Segundo ele, vários habitantes de Hostomel foram encontrados na cidade vizinha de Bucha.

Tropas ucranianas retomaram o controle de Hostomel há alguns dias. À medida que as áreas vão sendo recuperadas pela Ucrânia, cresce o temor de que cenas como as do massacre visto em Bucha se repitam em outras cidades.

Autoridades pedem evacuação em massa das províncias do leste

A vice-primeira-ministra da Ucrânia, Iryna Vereshchuk, pediu aos moradores das províncias de Donetsk, Lugansk e Kharkiv que evacuem suas casas imediatamente, já que as forças russas estão se reposicionando para um ataque.

"É necessário fazer isso agora porque mais tarde as pessoas estarão sob fogo e ameaçadas de morte", disse Vereshchuk. "É necessário evacuar enquanto existe essa possibilidade", acrescentou.

Mais cedo, o governador regional da parte de Lugansk ainda controlada pela Ucrânia, Serhiy Haidai, alertou para mais combates na região à medida que as tropas russas se reposicionam. "Acho que em três ou quatro dias eles tentarão lançar uma ofensiva", disse Haidai.

Zelenski discursa ao Parlamento irlandês

Falando ao Parlamento irlandês nesta quarta-feira, Zelenski acusou alguns líderes ocidentais de considerarem as perdas financeiras piores do que os crimes de guerra.

"Quando estamos ouvindo uma nova retórica sobre sanções, não posso tolerar nenhuma indecisão depois de tudo o que as tropas russas fizeram", disse ele, referindo-se às atrocidades reveladas recentemente em Bucha.

O presidente ucraniano também pediu à Irlanda que convença seus parceiros da União Europeia a introduzir medidas "mais rígidas" contra a Rússia.

Papa beija bandeira proveniente de Bucha

O papa Francisco criticou nesta quarta-feira a "crueldade cada vez mais horrível" que atinge a Ucrânia e condenou o massacre em Bucha. Ele recebeu um grupo de crianças ucranianas que tiveram que fugir de seu país e beijou e abençoou uma bandeira proveniente de Bucha. 

"As recentes notícias da guerra na Ucrânia atestam novas atrocidades, como o massacre de Bucha, uma crueldade cada vez mais horrível, cometida também contra civis indefesos, mulheres e crianças", disse o papa em sua audiência semanal, no Vaticano.

"São vítimas cujo sangue inocente clama ao céu e implora: acabemos com esta guerra, silenciemos as armas! Paremos de semear morte e destruição!", acrescentou.

Pouco depois, o pontífice desfraldou uma bandeira vinda da cidade de Bucha diante dos milhares de fiéis reunidos no salão Paulo 6°. "Ontem, direto de Bucha, me trouxeram esta bandeira. Esta bandeira vem da guerra, da cidade martirizada de Bucha", declarou, antes de beijar a bandeira visivelmente enegrecida pelos combates.

Francisco acolheu no altar o grupo de crianças, acompanhado de suas famílias, e entregou a elas alguns ovos de Páscoa.

Francisco condenou atrocidades cometidas na UcrâniaFoto: AFP

Novas sanções dos EUA

Nesta quarta-feira, os EUA impuseram uma nova rodada de sanções contra Moscou que atinge, também, as filhas do presidente russo, Vladimir Putin, e outros familiares de integrantes do governo.

Além de Maria Vorontsova, 36 anos, e Katerina Tikhonova, 35, filhas do presidente da Rússia, as punições financeiras divulgadas pelo governo Biden alcançam também a mulher e a filha do ministro do Exterior do país, Serguei Lavrov, e membros do Conselho de Segurança, a exemplo do ex-presidente e primeiro-ministro, Dmitry Medvedev. As medidas bloqueiam o acesso ao sistema americano e congelam ativos que estão no país.

As mais recentes sanções foram direcionadas ao Sberbank, que detém um terço dos ativos bancários totais da Rússia, e ao Alfabank, a quarta maior instituição financeira do país. Com isso, o governo americano irá proibir o trânsito de ativos via sistema financeiro dos EUA, impedindo, assim, que os americanos façam negócios com essas instituições.

Os bancos Sberbank e Alfabank disseram que as sanções não teriam um impacto significativo em suas operações.

Em razão da guerra na Ucrânia, os Estados Unidos pretendem boicotar reuniões do G20 se representantes da Rússia estiverem presentes, informou a secretária do Tesouro, Janet Yellen.

Segundo ela, a decisão já foi comunicada a seus colegas da Indonésia, país que atualmente preside o grupo dos 20 países industrializados e emergentes mais importantes do mundo. Yellen não especificou de quais reuniões os americanos ficariam de fora.

A presidência indonésia do G20 convidou os líderes do grupo - incluindo Biden e Putin - para um encontro em Bali, nos dias 15 e 16 de novembro.

le (Lusa, EFE, AP, AFP, Reuters, dpa)